O "fabuloso" Mundo Imaginário do dr. Parnassus

Previsto para estrear no início de maio no Brasil, o novo filme de Terry Gilliam, cineasta remanescente do grupo inglês Monty Phyton, é um espetáculo visual e criativo no mesmo nível das outras loucuras cometidas pelo diretor, como 12 Macacos e As Aventuras do Barão de Munchausen, lembrando em muito este último. O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus já é histórico por ser realmente a última produção a ser filmada com Heath Ledger no elenco, e traz em seu enredo um singelo conto que mistura ingenuidades circenses, pantomimas teatrais e uma Londres retrô, decadente e esquisita ao mesmo tempo. Tudo começa na carrocinha do doutor Parnassus, que parece enganar a todos por uns trocados, mas na verdade oferece viagens verdadeiras dentro da mente do anfitrião - brilhantemente interpretado por Christopher Plummer. As cenas passadas dentro de um espelho que separa o mundo real do mundo delirante remetem ao lisérgico mundo de Munchausen, mas também faz referência ao futurismo catastrófico de Brazil, o filme e pasmem - até uma pitada de Monty Phyton tem em algumas passagens dessas. O mesmo diretor de O Pescador de Ilusões torna-se impecável como realizador e diretor de atores. Ledger está seguramente num dos seus maiores desempenhos - pena que é último. Para resolver sua falta, o cineasta escalou Jude Law, Johnny Depp e Colin Farrell para o mesmo personagem - em transição muito oportunas. 

Unindo o non-sense com a narrativa de suspense policial, o filme vai num crescendo e descortinando novos cenários dentro da história, ao mesmo tempo que o cenário fílmico é explorado devidamente. Personagens vão se agregando, novos dilemas morais revelados - até mesmo um pacto com o diabo feito pelo protagonista, e todas as suas consequências - até seu fim que, sem prejuízo, é menos importante do que seu desenrolar. Aparições como do cantor Tom Waits, como  próprio diabo, dão um tempero especial a esta fábula. Em alguns momentos também temos referências de Irmãos Grimm, outra realização de Gilliam, um americano insatisfeito com seu próprio país e que escolheu a Inglaterra para desenvolver a sua arte. As semelhanças entre as obras dele, porém, são todas sem nenhum demérito, apenas engrandencendo o longa. O Mundo Imaginário... não será, com certeza, um filme de grande bilheteria. Não é para massas. Mas os poucos apreciadores vão ter uma rica experiência memorável em se tratando de sétima arte. E de contar histórias.

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