
No caso de seu novo longa, o endereço é dos mais chiques do mundo: Paris. Allen não só é autor como também homem de marketing e faz uma declaração de amor à cidade-luz para conquistar os franceses e toda a Europa. E deu certo. O filme foi bem recebido no Festival de Cannes desse ano, quando teve a honra de abrir oficialmente o evento. E a bilheteria européia confirma a aceitação do cineasta que cansou de pagar os impostos para filmar nas ruas de sua adorada Manhattan e iniciou uma tour por cidades como Londres e Barcelona, nos seus mais recentes filmes. Em Meia-Noite em Paris segue com sua senda de roteiros criativos que misturam realidade e fantasia num tipo especial de humor inédito, como a fábula do escritor de roteiros de cinema frustrado, que não consegue inspiração para desenvolver um livro, ao ouvir as badaladas da meia-noite, embarca em uma viagem a uma Paris dos anos 1920, todas as noites, conhecendo figuras históricas da arte mundial. E convivendo de verdade com todas elas.
Allen vai criando falas fabulosas na boca de personagens extremamente verossímeis e risíveis o tempo todo, de tão identificáveis que são. E de um tempo um pra cá o diretor tem tido a maestria de escolher protagonistas jovens como seus alter-ego, seja para atrair maior bilheteria ou pela auto-crítica de saber que ele mesmo não deve mais atuar. Ou os dois. Neste novo longa, Owen Wilson simplesmente parece que "recebeu" o espírito de Allen. a fala, os trejeitos, até mesmo as roupas, as camisas de flanela xadrez, calças de sarja, blazers de lã como o diretor gosta de vestir e usar em outros filmes. É um retrato fiel. E Owen se sai muito bem, a despeito de muitos incrédulos. E assim já foi em outros filmes com Jason Biggs, Josh Brolin, Larry David, Will Ferell e tantos outros. Genialidade pura, sem falar na direção de todo o resto do elenco: Rachel McAdams, ótima como a noiva mimada que só quer a Paris fútil e fashion, Michael Sheen, brilhante como o amigo metido a intelectual, Adrien Brody, numa ponta incrivelmente semelhante a Salvador Dali, mais Kathy Bathes, maravilhosa como Gertrude Stein, a oscarizada Marion Cotillard (Piaf), luminosa na tela como a musa desejada por todos e inspiradaora de ninguém menos do que Pablo Picasso...
E sim, tem a primeira-dama da França...a cantora e ex-modelo Carla Bruni está no filme. Woody Allen conseguiu esta façanha. Mais um ponto para conquistar a França e toda a Europa, mas ao contrário do que se pensava, ela é não é uma grande atriz, por isso, só aparece numa pequena ponta, que era exatamente o que lhe cabia. Mais uma maestria do diretor. Fico imaginando a habilidade dele ao dizer, para a esposa de Sarlkozy, "olha, não vou te expor, portanto, vou te colocar apenas em três rápidas cenas, com poucas falas, como uma guia de museu, ok?". Isso também é genialidade...
Enfim, o novo filme de Allen é além de tudo, uma grande homenagem às artes, ao próprio cinema, à literatura, à música, ao teatro, e uma grande declaração de amor a Paris e à sua efervescência cultural de sempre, em todas as épocas. No passado ou no presente, a capital francesa será sempre uma bela opção para os artistas, como Gil Pender, o personagem de Owen Wilson em crise de criatividade que se vê tentado em trocar Hollywood pelas ruelas do Montmartre ou do Quartier Latin. E este passeio pelas épocas de Paris fica claro no longa de Woody, simplesmente sensacional. Um oásis no meio do deserto nas telas!
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