Morre Leon Cakoff

O Brasil e o cinema perderam hoje (14/10), no início da tarde, o crítico de cinema e grande entusiasta da sétima arte no país, Leon Cakoff. Ele era conhecido por ter criado e por organizar, todos os anos, a Mostra de Cinema de São Paulo, a maior do gênero no Brasil e um dos principais festivais de cinema da América Latina. Cakoff, nascido na Síria, tinha completado 63 anos em junho e desde dezembro do ano passado lutava contra um câncer no cérebro. Cakoff era um dos maiores nomes da resistência cultural no Brasil durante a ditadura.

Sua morte deu-se às 13 horas, por conta de complicações decorrentes de um melanoma – câncer que atinge o tecido epitelial. Ele estava internado há duas semanas noHospital São José, em São Paulo. O corpo está sendo velado no Museu da Imagem e do Som - MIS de São Paulo, (Av. Europa, 158 - Jardim Europa) desde as cinco da tarde desta sexta até as 12 horas de sábado (15/10). O corpo seguirá para o Memorial Parque Paulista (R. Dr. Jorge Balduzzi, Nº 520,Jd. Das Oliveiras - Embu Das Artes), onde será cremado.

Leon Cakoff nasceu Leon Chadarevian em Alepo, na Síria, em 12 de junho de 1948. Veio para o Brasil com a família aos oito anos de idade e formou-se pela Escola de Sociologia e Política de SãoPaulo. Por problemas com o regime militar, adotou o pseudônimo Cakoff, que nunca mais abandonou. Foi casado durante 22 anos com Renata de Almeida, atual diretora da Mostra. Ela dirige a Mostra a seu lado desde a 13ª edição do evento, em 1989. Deixa dois filhos com ela, Jonas e Thiago, além de dois filhos anteriores do primeiro casamento, Pedro e Laura.

Ele começou a carreira em 1969 como jornalista e depois crítico de cinema nos Diários Associados. A partir de 1974, dirigiu o Departamento de Cinema do Museu deArte de São Paulo (Masp) e iniciou a programação de mostras e ciclos no museu. Em 1977, para comemorar os 30 anos do Masp, Leon criou a 1ª Mostra Internacional de Cinema, com 16 longas e 7 curtas brasileiros e internacionais. Logo no primeiro ano, foi criada uma das maiores marcas do festival, o prêmio com o voto do público, que na primeira edição foi para Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia, de Hector Babenco. Um artigo do Jornal do Brasil registra que “a Mostra é o único lugar onde se pode votar no país”.

Desde a primeira edição, Leon travou uma luta ferrenha contra a censura imposta pelo regime militar, trazendo filmes até por meio de malas diplomáticas de embaixadas e consulados. Foi assim que a Mostra exibiu filmes inéditos vindos da China, Cuba, União Soviética, França e dos mais distantes países. A partir de 1984, Leon desligou-se do Masp e carregou consigo o evento. A 8ª Mostra foi marcada por alguns dos maiores embates contra a censura. É o ano da histórica sessão de O Estado das Coisas de Wim Wenders no Cine Metrópole, ao fim da qual ele subiu ao palco para anunciar a ordem federal de fechamento do cinema e interrupção do festival. O fato repercutiu em diversos jornais no exterior. Leon conseguiu retomar as projeções quatro dias depois.

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