
Neste Natal, a ideia foi de um shopping de Brasília, que abriu mais cedo para receber crianças e jovens com autismo que desejam conhecer o Papai Noel. A ação do Brasília Shopping, voltada para quem tem autismo e outros tipos de deficiência, ocorreu na quinta-feira (19), na sexta (20) e na segunda (23), das 8h30 às 10h – antes da abertura das lojas. A entrada foi gratuita e o Papai Noel é - acredite ou não - um fuzileiro naval aposentado e preparado para lidar com esse público seleto. A reação do público, é claro, foi positiva.
A reação de quem foi
Cleide é mãe de Mayara e diz que sempre imaginou uma foto da filha com o Papai Noel. Mas como submeter a jovem às filas imensas e ao burburinho dos shoppings nessa época do ano? A iniciativa do shopping de Brasília foi música aos ouvidos da artesã. Ela e a filha foram as primeiras a chegar ao centro comercial. “Falei pra ela assim: você não quer ver o Papai Noel que chegou lá do Polo Norte só pra te ver? Aí ela se arrumou todinha pra ver ele”, contou Cleide, emocionada. Mayara tem 21 anos mas, segundo a mãe, é como se fosse uma menina de 8 anos. Quando chegaram ao shopping, a jovem foi correndo em direção ao Papai Noel, deu um enorme abraço nele e falou baixinho algumas palavras que a mãe, atenta, ouviu. “Ela falou pra ele: eu amo você, Papai Noel.” Mayara parecia realizada. Ficou um bom tempo no shopping e, quando não tinha ninguém na fila, ela voltava até a poltrona ficar ao lado do Papai Noel. “Desde que chegamos aqui, ela não sai de perto dele”, comemorava Cleide Maria.
Já o pequeno Vinícius, de 3 anos, não cedeu fácil ao convite para conhecer “aquele senhor de barba branca e roupas vermelhas”. Acompanhado dos pais e do irmão, ele circulou pelo o jardim iluminado diversas vezes. Até que, quando ninguém esperava, o menino foi chegando, devagar, cada vez mais perto do Papai Noel. O que poucos viram foi como o próprio Papai Noel chamou a atenção de Vinícius: ele pegou um pirulito e começou a mostrar para a criança. De repente, Vinícius sentou na poltrona gigante, ganhou o doce e retribuiu com um abraço no Papai Noel. Os pais pareciam nem acreditar. A criança ainda aceitou tirar uma foto de Natal com a família.
Para a professora Silvia Oliveira, que trabalha com autismo, a iniciativa do shopping permite a inclusão respeitando as características de quem tem a síndrome. “Vim aqui só para ver, porque é uma ação muito linda que emociona a gente que convive com essas pessoas que precisam desse carinho especial”, afirmou. “Quem não está envolvido nesse mundo, não percebe. Mas pra quem tá dentro e conhece a realidade dessas crianças, nossa, eu até me arrepio.”
Karen Catite, mãe do João, de 6 anos, também disse que se “arrepiou de felicidade”. Até esta semana, o menino nunca tinha chegado perto de um Papai Noel. “Foi o único que ele já chegou abraçando e tão feliz assim. Ele até abençoou o papai Noel.”
Quem é o Papai Noel?
Há 19 anos, nesta época do ano, o fuzileiro naval aposentado Fernando Xavier se transforma em Papai Noel. Ele conta que já ouviu e vivenciou histórias de Natal das mais diversas, no entanto, o encontro com as crianças e jovens autistas “foi surpreendente”, afirma. “Não tem como falar com essas crianças, receber um abraço, um beijo e não se emocionar. Não tem como, todo Papai Noel chora com isso, não tem jeito.”
O que é o autismo?
Conhecido como autismo, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinge uma em cada 160 crianças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além de afetar o desenvolvimento da criança, também influencia no comportamento e na comunicação com outras pessoas.
No chamado “autismo clássico”, que costuma ser diagnosticado por volta dos 3 anos de idade, os sinais mais comuns são:
- ter dificuldade em interação social, como não olhar para o interlocutor ou manter uma distância grande dele;
- não compartilhar interesses e experiências com os outros;
- não reagir a emoções, como por exemplo a criança que vê que a mãe se machucou, mas não faz carícias ou dá beijo para consolá-la;
- fazer movimentos repetitivos;
- não desenvolver a linguagem oral ou apenas repetir frases ouvidas;
necessitar de uma rotina muito inflexível, sem mudanças em caminhos para a escola ou ordem de compromissos na semana.
No outro extremo, chamado Síndrome de Asperger, o desenvolvimento da linguagem pode até ser equivalente ao da média das crianças. Mas há sinais como:
- desinteresse em compartilhar gostos;
- dificuldade em socialização;
- falta de empatia ou de ter reações em grupo;
- interesse por assuntos muito específicos;
- comportamento repetitivo;
- sensibilidade alta ou baixa nos 5 sentidos (como irritação em ambientes barulhentos).
Com informações do Jornal de Boas Notícias.
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