Ações sociais e criatividade minimizam situação das favelas no #Coronavírus

O Complexo do Alemão, no RJ

Sem estratégia para mudar a realidade das favelas brasileiras durante a pandemia, 86% das 13 Instituto Locomotiva, que pesquisou em todos os estados do país. A pesquisa, chamadas Data Favela, realizou 1.142 entrevistas entre os dias 20 e 22 de março em 262 comunidades brasileiras. Foram ouvidos homens e mulheres com 16 anos ou mais, e a margem de erro é de 2,9 pontos percentuais. “Ouvimos o discurso de que a epidemia é democrática, que pega ricos e pobres da mesma forma. Mas a pesquisa deixa claro que não é assim, que existe uma parcela da sociedade que não tem poupança, que não tem recursos para manter seu padrão de vida caso não consigam trabalhar. É mais fácil fazer quarentena com uma geladeira cheia e uma casa confortável do que quando se mora em uma favela onde a geladeira está fazia, falta água e cinco pessoas moram num espaço de 20 metros quadrados”, resume Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
milhões e meio de pessoas que vivem nesses locais deverão passar fome. O dado é do

A pandemia do coronavírus já alterou a vida de 97% das 13,6 milhões de pessoas que moram em favelas em todo o Brasil. A maioria ―2 em cada 3 moradores― estão preocupados com a própria saúde, mas também com o impacto na renda durante o período de crise. Aliás, sete em cada dez famílias já viram a renda familiar diminuir nas últimas semanas por causa da interrupção da atividade econômica causada pelo novo vírus. Pior, se essas pessoas precisarem ficar em casa por até um mês, sem trabalhar, e cumprindo as recomendações da comunidade científica de distanciamento social, 86% teria dificuldade para comprar comida e outros itens básicos de sobrevivência.

Conforme a pesquisa, sete em cada dez famílias já viram sua renda familiar cair nas últimas semanas, enquanto que 78% dizem conhecer alguém que já está passando por dificuldades financeiras por conta da pandemia de coronavírus. No dia a dia, isso significa que o cuidado com a família seria prejudicado para a maioria, assim como o pagamento de contas e a alimentação. Sem renda, 72% dos moradores não conseguiriam manter o padrão de vida por tempo algum. E 86% teriam dificuldades para comprar comida e outros itens básicos se precisarem ficar em casa, sem gerar nenhuma renda, por até um mês.

SOLUÇÕES

A pesquisa foi realizada para a Central Única das Favelas (CUFA), que criou o movimento #CUFAcontraovirus. De acordo com Celso Athayde, que preside a entidade, uma rede de lideranças comunitárias foi mobilizada em 5.000 favelas em todo o país —sendo 300 no Rio de Janeiro e 250 em São Paulo— e toda uma estrutura logística vem sendo erguida para entregar doações e realizar ações preventivas. Isso significa entregar desde alimentos até sabonete e produtos de limpeza que podem evitar a propagação do vírus. Para que isso seja feito, a CUFA vem pedindo a colaboração, através de seu site e de uma campanha de arrecadação, daqueles que podem ajudar financeiramente.

Além da CUFA, outras entidades e organizações estão engajadas em campanhas para remediar os efeitos do coronavírus nas favelas, especialmente através da distribuição de alimentos, produtos limpeza e higiene, entre outros itens básicos. Algumas das ações podem ser encontradas no Twitter a partir da hashtag #COVID19NasFavelas. O jornal comunitário Voz das Comunidades iniciou uma campanha de doação para atender os moradores do Complexo de Favelas de Alemão. Quatro organizações também iniciaram movimento similar para auxiliar os moradores do Jacarezinho, sob a hashtag #JacarezinhoContraOCoronavirus.

No Complexo de Favelas da Maré, a Redes da Maré também iniciou uma campanha de arrecadação de recursos, com o objetivo de atender a parcela mais pobre da população das comunidades —utilizando, para isso, os comércios e prestadores de serviços locais, afetados economicamente pela paralisia das atividades—, segundo explicou a fundadora da ONG, Eliana Sousa Silva, nesta entrevista ao EL PAÍS. Em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, ao menos quatro organizações comunitárias se juntaram para criar o movimento #NaMinhaFavelaNão, com o apoio do coletivo África em Nós, para atuar nas comunidades locais, segundo informou o jornal Folha de S. Paulo.

Da mesma forma vem atuando as lideranças e grupos de voluntários em Paraisópolis, favela com mais de 100.000 moradores da cidade de São Paulo. “Sem um plano do governo focado especialmente na realidade das mais de 13 milhões das pessoas que vivem nas comunidades em todo o país, os mais pobres correm o risco de serem tratados, em breve, como os grandes vilões da pandemia”, afirmou Gilson Rodrigues, líder comunitário e presidente da União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, em entrevista ao portal da BBC News Brasil.

O EXEMPLO DE SÃO PAULO

Uma das maiores favelas de São Paulo virou exemplo em ações que podem conter o avanço do novo coronavírus. Paraisópolis tem a população de uma cidade no espaço de uma comunidade. São cerca de 100 mil pessoas espremidas em casas e barracos ligados por vielas.

Tanta gente dividindo pouco espaço forma uma condição que facilita a disseminação do vírus. É difícil fazer isolamento social assim. Mas a comunidade se organizou para tentar saber com rapidez quem tem sintomas da doença, quem precisa de ajuda, qual a situação na casa de cada família que mora no local.

A comunidade transformou 420 moradores em presidentes de rua. Cada um é responsável por monitorar umas 50 casas.

“Assim que a gente identifica um caso suspeito, a gente passa a monitorar essa família, dar orientação. Então o presidente de rua ele é responsável por garantir que essa pessoa fique em casa, conscientizá-lo. Passando mal, a ambulância vai ser acionada”, diz Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis.

Paraisópolis mantém três ambulâncias e profissionais de prontidão.A comunidade já registrou 15 casos confirmados de Covid-19 e oito mortes suspeitas. Alexandra Pereira da Silva é uma das presidentes de rua e já chamou os socorristas para ajudar um vizinho.

“A gente foi até a casa da pessoa, eles examinaram ela lá, depois trouxeram para cá porque ela estava com muita falta de ar, e graças a Deus está até em casa, tomando medicação, está em casa, a gente está de olho, claro”, conta.

A rede dos presidentes de rua também identificou quais são os moradores que perderam a renda por causa da pandemia e estão mais necessitados. Para essas pessoas, voluntários preparam marmitas todos os dias. No sábado (11), foram duas mil refeições.

“A nossa população, além de ela ser de serviço, ela não tem como fazer o home office porque são diaristas, cozinheiras, pessoas que trabalham no serviço de manutenção, a grande maioria. E a gente juntou todo mundo, a mulherada, para poder se acolher e superar esse desafio aqui na comunidade”, diz Elizandra Cerqueira, presidente da Associação das mulheres de Paraisópolis.

No sábado (11), também teve distribuição de ovos de chocolate. Assista o vídeo sobre a ação de Páscoa em Paraisópolis:



E um projeto da comunidade que capacita mulheres para serem costureiras está dedicado, agora, a confeccionar máscaras de pano. A oficina está quase vazia porque as mulheres levaram máquinas para costurar em casa.

“Trabalhando em casa e com renda. Isso é muito importante, porque você pedir para fazer isolamento sem pensar como as pessoas vão sobreviver é um desafio muito grande”, diz Suéli Feio, idealizadora do projeto Costurando Sonhos.

A renda delas vem de uma empresa que está pagando pelas máscaras, que serão distribuídas na comunidade. Tudo o que Paraisópolis está fazendo é mantido com parcerias como essa, doações, uma vaquinha pela internet e voluntários.

A solidariedade também é contagiosa. Neste sábado, apareceram quatro pessoas de outro lado da cidade levando cem marmitas prontinhas para servir. E olha que uma dessas pessoas é o Leandro, que já perdeu o emprego por causa dessa crise.

“A gente falou que a gente precisa fazer algo para o próximo, como ajudar o próximo, através do que a gente tem na mão. É fazer uma comida, é trazer um conforto para quem tem mais dificuldade do que a gente”, diz o publicitário Leandro Pestana. Cartazes, carros de som e adaptações de músicas funk são estratégias adotadas por moradores de comunidades periféricas para tentar minimizar os danos da pandemia do novo coronavírus em áreas de risco. No Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, entidades criaram um gabinete de crise para elaborar ações de conscientização sobre a importância de lavar as mãos e evitar aglomerações.

O EXEMPLO DO RIO DE JANEIRO

Diante dos desafios para combater a Covid-19 nas favelas, representantes de entidades da sociedade civil se organizam em todo o País para suprir lacunas em regiões desassistidas pelo Estado. Além de reunir doações de alimentos e itens básicos de higiene, um dos principais desafios das organizações é fazer as entregas chegarem aos beneficiários de forma segura, sem chance de contágio.

 "Tá ligado no coronavírus? Deixa eu te passar a visão. Essa doença triste que afetou nosso mundão. Vamos ter consciência e fazer toda a prevenção para nossa comunidade. Lave as mãos frequentemente, com água e sabão. Evite sair de casa para não ter aglomeração", diz um trecho de uma música funk criada pelo Coletivo Papo Reto, do Complexo do Alemão.

Sabemos que temos um precário abastecimento de água. Caso você tenha água em casa, compartilhe com quem precisa. Escolha o bom senso e, se possível, colabore com aqueles menos informados para passarmos bem por esse momento", afirma um cartaz divulgado pelo grupo Juntos Pelo Complexo do Alemão. "Sua saúde é muito importante. Não deixe de lavar as mãos e manter sua casa arejada", diz outra mensagem.

Outro foco é a campanha de arrecadação de doações para moradores da favela. No Rio, alguns dos responsáveis são do jornal comunitário Voz das Comunidades. Eles afirmam que parte do valor arrecadado será usada para a compra de água, álcool em gel e sabonete. A segunda etapa terá foco na distribuição de alimentos.

Criador do Voz das Comunidades, o ativista Rene Silva afirma que as doações ficam isoladas por pelo menos três dias em um local seguro a fim de evitar contaminações. Depois, tudo é higienizado e manuseado com luvas até chegar ao destino final.

"Temos grupos de WhatsApp com pessoas de várias regiões da cidade. Estamos concentrando nossos esforços no Alemão, mas temos contribuído para replicar essas mesmas ideias em outros locais. As faixas, por exemplo, são uma alternativa para quem não tem televisão ou rádio", contou Silva

AÇÕES SOCIAIS

Em São Paulo, a organização G10 das Favelas procura 420 voluntários para atuar no combate à covid-19 Eles vão repassar informações a respeito do vírus, distribuir alimentos e itens úteis (cestas básicas, produtos de higiene, máscaras e luvas) e conscientizar moradores sobre a necessidade de ficarem protegidos em casa.

Empresas sociais também têm atuado para reforçar a ajuda em comunidades durante a crise. Fundador do Projeto Cidades Invisíveis, o empreendedor Samuel Schmidt afirma que é "quase impossível" seguir à risca todas as orientações de isolamento do Ministério da Saúde. Nos últimos dias, a organização mudou o foco da capacitação profissional para doações diretas de mantimentos. Em uma semana, foi arrecadado o suficiente para comprar 500 cestas básicas - mais da metade já distribuídas na comunidade Frei Damião, em Palhoça (Santa Catarina).

O empreendedor considera que a atuação nas comunidades é algo que diferencia o Brasil de estratégias adotadas em países desenvolvidos, o que demanda uma atuação específica. "Muitos perguntam 'por que vocês não procuram a prefeitura, o Estado, o Exército?'. Nós procuramos, mas por enquanto ninguém está fazendo isso", declarou Schmidt.

A Central Única das Favelas (CUFA) divulgou suas propostas para reduzir impactos da pandemia da covid-19 nas favelas. Entre elas está o financiamento para as redes de comunicação próprias de cada favela; aumento de apoio financeiro para famílias inseridas em programas sociais, além daquelas que possuem crianças impedidas de frequentar creches e também as que possuem pessoas portadoras de deficiência.

DOAÇÕES

Outra frente de atuação para a realização de doações parte de Organizações Não Governamentais (ONGs) que buscam ajuda na iniciativa privada. É o caso da Comunitas, que afirma ter reunido cerca de R$ 23 milhões em três dias por meio de doações de empresários. Com os recursos, a ONG promete encomendar cerca de 350 equipamentos de respiração para ventilação mecânica. Os itens serão destinados para hospitais em São Paulo.

"Era necessário que a iniciativa pública tivesse a mesma agilidade que a iniciativa privada. Estávamos perdendo tração pelo próprio tempo que a iniciativa pública tem. E acho que temos muito a contribuir nesse sentido para que o governo consiga fazer a sua operação. Esse tem que ser um papel muito grande da iniciativa privada e da sociedade", disse Regina Esteves, diretora-presidente da organização.

O governador de São Paulo, João Doria, já anunciou que o Hospital das Clínicas irá abrir 900 novos leitos a partir do dia 27 de março. Segundo Doria, até o dia 10 de abril, 700 já estarão disponíveis.

Segundo o governador, a abertura de novos leitos foi possível "graças às doações que recebemos do setor privado", principalmente respiradores e monitores. De acordo com Doria, em reunião com empresários, foram doados R$ 96 milhões por 28 empresas, em recursos e equipamentos, que serão destinados à infraestrutura de hospitais no combate ao coronavírus. Com isso, o governador ainda acrescentou que haverá 2.300 leitos de UTI para o tratamento de pessoas com coronavírus no Estado de São Paulo.

O EXEMPLO DE PORTO ALEGRE

A Central Única das Favelas do Rio Grande do Sul iniciou no dia 1° de abril a entrega de mil cestas básicas à comunidades de Porto Alegre. Ao todo, são 23 toneladas de alimentos e 15 mil produtos de higiene doados pelo Instituto Jama, que é parceiro da Cufa. O objetivo é auxiliar famílias carentes, em sua maioria autônomas, que, devido à pandemia de coronavírus e à crise financeira, estão passando por dificuldades.

De acordo com o coordenador da Central no estado, Paulo Daniel Santos, vários pontos carentes da Capital estão sendo auxiliados, como a Vila Cruzeiro, bairro Cristal, Morro Santa Tereza, bairro Restinga e o Morro da Cruz. As doações foram divididas em três remessas e continuam sendo feitas durante as próximas semanas.

A logística da ação é composta por uma rede de líderes comunitários que não necessariamente são cadastrados na Cufa. De acordo com Paulo, são quase 60 voluntários envolvidos na ação. Eles são orientados sobre as normas de higiene para evitar a propagação do vírus. “Como está todo mundo nessa rede de doação, a gente deu um treinamento rápido para as pessoas, que consiste em aprender a se proteger do vírus. A forma certa em levar dos produtos pra casa das pessoas", afirma.

Conforme o coordenador, a escolha das famílias vem dos voluntários e líderes comunitários devido ao conhecimento que eles têm sobre as carências específicas de cada grupo. A ideia é que as próximas doações aconteçam em rodízio de comunidade e famílias para que haja um maior alcance de pessoas beneficiadas. Cerca de 400 famílias porto-alegrenses já foram ajudadas pelas doações. O kit que elas recebem é composto por uma cesta básica completa e produtos de higiene pessoal e de limpeza.

“É muito importante enfatizar a questão da higiene. As pessoas, que são moradoras de periferia, acham que por não poderem comprar o álcool em gel elas estão desprotegidas, mas o sabão é tão eficiente quanto. Higienizar a casa com água sanitária, lavar as mãos, são maneiras de ficar protegido.” Segundo o coordenador, também é necessário estabelecer para a população que todos são vulneráveis à doença. “A gente precisa chegar com muita humildade também porque a doação não pode ser indicativo de que a pessoa necessitada é inferior. É uma situação extraordinária, todo mundo está vulnerável", afirma.

"Quando a gente está falando das famílias que estão na periferia não é sobre ‘ah, estou entediado e terminei de maratonar minha série’. São pessoas que se não saem para rua para trabalhar, elas passam fome. É uma cascata. Várias pessoas que estão no grupo de risco são o centro da família, são as que sustentam a casa."

COMO AJUDAR EM PORTO ALEGRE 

O coordenador afirma que qualquer quantia e doação é bem-vinda para a Cufa auxiliar as famílias.

“Importante as pessoas entenderem que independente da quantidade, isso faz diferença para vida das pessoas. Às vezes, a pessoa pensa que tem muito pouco pra doar, mas isso faz diferença. Tem gente que não tem como doar dinheiro, mas disponibilizam seu carro. O que as pessoas acham que é simples também ajuda muito. Como o post solidário, em que as pessoas compartilham e levam para outras pessoas na internet. Toda essa movimentação é válida.”

Outra iniciativa é priorizar compras feitas em comércios locais. Quando recebem quantias de doação em dinheiro, a Cufa adquire as cestas básicas e produtos de higiene na comunidade, como uma forma de combater a crise.

“A gente recebe essa doação que é de um grande porte. Se a gente comprar de uma grande rede, a gente não vai estar ajudando a comunidade. O mercadinho de bairro se deixar de vender, vai deixar de existir", relata Paulo.

Interessados em ajudar com doações podem entrar no site da campanha.

EXEMPLO EM MINAS GERAIS


Belo Horizonte tem boa parte da população morando em vilas e favelas, onde o adensamento populacional e a deficiência na oferta de serviços sanitários tornam esses espaços ainda mais vulneráveis ao novo coronavírus. Por essa razão, líderes dessas comunidades criaram estratégias para tentar conter o avanço da COVID-19. As lideranças fazem o mapeamento das famílias vulneráveis, repassam as dicas de higienização e têm buscado alimento para que as pessoas consigam atravessar o período de isolamento social sem passar fome. Foi criado também até uma forma de dar assistência afetiva e psicológica, a Rede de Afeto.

"As ações são importantes para  que as pessoas tenham condições de permanecer em casa. Elas precisam ter comida e condições higiênicas para se prevenir. Nossa ação visa dar amparo para essas famílias e contribuir com o seu bem-estar", afirma Francis Henrique, presidente da Central Única das Favelas (Cufa Minas).

De acordo com a pesquisa Mães da Favela, realizada também pelo Data Favela em março, nove em cada 10 moradores mudaram a rotina devido ao coronavírus. A pesquisa informa que 76% das mães, cujos filhos deixaram de ir para a escola, dizem que os gastos em casa aumentaram, e 37% delas trabalham como autônomas. No Brasil, são 13 milhões de pessoas vivendo em favelas.

Uma das ações em Minas é coordenada pela Cufa Minas. A meta é levar alimentos e artigos de higiene para cerca de 3 mil famílias em 150 favelas. A ação pretende ser realizada tendo como orientação manter o mínimo de contato e respeitar a quarentena.

Outro projeto é Solidariedade Salva Vidas, desenvolvido em parceria pelo A Rebeldia, Raízes, MST e Casa dos Jornalistas. O objetivo é arrecadar cestas básicas e produtos de limpeza e higiene para distribuir para 2 mil famílias. Parte dessa iniciativa inclui também 1 mil livros para compor as cestas básicas, doados pela Livraria Quixote+DO. A Xeque Mate, bebida que foi sensação no carnaval de BH, pretende distribuir álcool 70º GL e cestas básicas para o Aglomerado da Serra e Morro das Pedras.

Como as ações de solidariedade são realizadas por diferentes instituições, as lideranças estão unificando as listas das famílias beneficiadas. É o que ocorre no Aglomerado Santa Lúcia, onde foi estruturada uma rede para realizar a distribuição envolvendo líderes comunitários e a Escola Estadual Dona Augusta Gonçalves Nogueira.

"Estamos fazendo essa rede para que a distribuição fique justa, para que uma família ganhe duas cestas básicas num mês, enquanto a outra não ganha nada. A nossa ideia é equilibrar", afirma o presidente da Associação do Aglomerado Santa Lúcia, Dan Carvalho.

Ele integra a ação de pessoas e instituições para que as pessoas da comunidade possam ficar em casa. "A gente joga por terra o que eles estavam dizendo a pessoa morre da doença ou morre de fome. Todas essas lideranças têm responsabilidade suficiente para mostrar que aqui ninguém vai morrer de fome", afirmou.

Há 22 anos, toda a família de Jhutay Nogueira participa de projetos de solidariedade no Morro das Pedras. "Temos como missão transformar nossas dores em ação. Em situação de pandemia ou chuva, toda vez que acontece uma tragédia, quem sofre mais é a periferia. Para se ter uma ideia das últimas chuvas, até hoje, temos pessoas que não têm onde ficar. Não foi feito nada.

Ela afirma que sempre teve como objetivo que todos os moradores da comunidade tivessem o que alimentar. Ela lembra que como o estado não chegue as lideranças assumem as responsabilidades. Eles devem distribuir 200 cestas. Também contribuem com a distribuição de verdura e frutas, doadas por um sacolão. "É um trabalho de formiguinha. É muito pouco. A gente sabe que tem muita gente precisando", conclui.

COMO AJUDAR NO RESTO DO BRASIL

“Lave as mãos”, “use álcool em gel”, “trabalhe de casa” e “saia apenas para o essencial” são frases que não representam a realidade de grande parte da população. Com a pandemia do novo coronavírus, os impactos mais profundos acabam recaindo sobre determinadas regiões e grupos sociais, como bairros periféricos e favelas do Brasil.

Famílias que já viviam em situação de extrema vulnerabilidade se viram diante de um cenário ainda pior, principalmente aos trabalhadores informais ou àqueles que foram demitidos em meio à crise. A pesquisa citada neste post e realizada pelo Instituto Locomotiva, mostrou que nove em cada dez mães moradoras de comunidades terá dificuldade para comprar comida após apenas um mês sem renda. O levantamento foi feito em 260 favelas, em todos os estados do país.

Embora sejam imprescindíveis ações do governo para reverter esse problema, a sociedade civil também deve se unir e apoiar quem mais precisa neste momento. Desde o início, organizações e líderes comunitários começaram a se articular para fazer campanhas e arrecadar doações de itens essenciais, como alimentos e produtos de higiene e limpeza.

Em uma força-tarefa, o site Catraca Livre está contanto as histórias dessas iniciativas e mobilizando doações a instituições que atuam no país. Abaixo, há uma lista com campanhas para você colaborar e compartilhar.

A campanha Rio Contra Corona busca mobilizar o governo, empresas e a sociedade civil para conseguir doações que cheguem nas comunidades do Rio de Janeiro. O dinheiro será usado para comprar itens básicos de prevenção contra a doença e também para outras demandas surgirão.

A iniciativa é uma ação gerida por três organizações com credibilidade no Rio de Janeiro, Banco da Providência, Instituto Ekloos e Instituto Phi, e surgiu das articulações do movimento União Rio, que está com diversas frentes para minimizar os impactos do vírus. Para doar, é preciso acessar esta plataforma.

O projeto Emprega Comunidades, criado em Paraisópolis, favela na zona sul de São Paulo com mais de 100 mil moradores, lançou a campanha “Adote Uma Diarista” para apoiar os profissionais liberais de baixa renda, que foram os mais afetados pela crise econômica em meio à pandemia do novo coronavírus.

O objetivo da ação é arrecadar recursos para garantir o suporte ao sustento desses trabalhadores e suas famílias. Conhecido como o “LinkedIn da favela”, o Emprega Comunidades nasceu com o intuito de reduzir a distância entre empresas e os candidatos, moradores das favelas, às vagas. Confira neste link da criadora do projeto.

A Fundação Tide Setubal remodelou seu Matchfunding Enfrente com o objetivo de destinar recursos a projetos que promovam o enfrentamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, nas periferias de todo o Brasil. A plataforma de financiamento coletivo, em parceria com a Benfeitoria, investirá R$ 3,6 milhões para que as iniciativas pensem em soluções para essas regiões, que são mais vulnerárias à crise da pandemia.

A plataforma tem duas formas de doação. Uma diretamente aos projetos inscritos, onde acontece o match, ou seja, para cada real doado, a plataforma coloca mais R$ 2. Isso significa que cada iniciativa periférica que conseguir alcançar sua meta de R$ 10 mil pela mobilização de seus próprios parceiros e sociedade, leva mais R$ 20 mil de match, totalizando R$ 30 mil. A outra maneira de doar é para o fundo geral, que somará mais recursos para que os apoios às propostas sejam contínuos. Saiba mais aqui.

MAIS MANEIRAS DE AJUDAR

As pessoas podem contribuir com qualquer valor por transferência bancária, financiamento coletivo ou comprando um ingresso solidário do projeto da Cufa. Veja como fazer.  dinheiro será transformado em vouchers em forma de QR code, distribuído por celular para os moradores cadastrados na Cufa Minas. Ele poderá ser trocado apenas por ítens da cesta básica, produtos de limpeza, gás e higiene pessoal em mercados cadastrados dentro das comunidades.

Contribua com as ações da Rede de Afeto. Qualquer pessoa pode contribuir com a campanha Solidariedade salva vidas. Os depósitos devem ser feitos na conta da Associação ARebeldia e o valor arrecadado servirá para comprar os produtos a serem distribuídos: Associação Arebeldia Cultural/CNPJ: 10.956.372/0001-40/Banco Itaú - 341/Ag 0781/ Conta corrente 02665-3

O projeto Xeque Mate Solidário está com financiamento coletivo aberto. No Morro das Pedras, as doações podem ir para Associação Projeto Romper na conta da Caixa/Agência 2187/Operação 003/Conta Corrente 6579-8/CNPJ 29.334.987/0001-62

Mais informações nesses sites:

https://www.cufa.org.br/

http://g10favelas.org/

https://soma.uhuu.com/evento/rs/porto-alegre/alimentacao-para-as-familias-da-cufa-9128#/

Com informações do Estado São Paulo, Correio Braziliense, O Globo, El País, CNN Brasil, Gaúcha ZH e sites oficiais das entidades



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