Cientistas dos EUA descobrem homem com ‘superanticorpos’ contra a Covid-19

Uma descoberta está intrigando pesquisadores nos Estados Unidos. No ano passado, o escritor americano John Hollis, de 54 anos, viu o amigo com quem divide apartamento ser diagnosticado com a Covid-19. Hollis relata que apesar do susto, não desenvolveu a doença. Meses depois, o escritor foi convidado por um médico e professor da Universidade George Mason, para participar de um estudo. O resultado do teste mostrou que Hollis havia sido infectado pelo coronavírus e desenvolveu superanticorpos que o protegem, inclusive de mutações. De acordo com o imunologista Marcelo Bossois, esse é um fenômeno raro. “5% da população tem essa característica peculiar na produção de anticorpos que são muito mais hábeis para estruturas específicas do vírus, como o domínio de ligação do receptor. O domínio de reação do receptor é a estrutura que o anticorpo se liga na proteína do vírus, inativa a proteína do vírus facilita que as células imunitárias venham englobar esse vírus e destruí-lo.”

Em entrevista à BBC, o médico responsável pelo estudo explicou que os anticorpos desenvolvidos por ele, atacam diversas partes do vírus ao mesmo tempo e o eliminam rapidamente. Ainda segundo o imunologista Marcelo Bossois, a descoberta contribui positivamente com a ciência, pois permite que os especialistas estudem diferentes formas de atacar o vírus. “Acho bem interessante essa questão desses pacientes, até porque a gente poderia estudar geneticamente esses pacientes e tentar, de alguma maneira, usar esses dados e fazer com que as vacinas então pudessem estimular determinados perfis imunológicos nossos para haver uma preponderância maior de anticorpos de alta avidez”, disse. De acordo com o estudo, mesmo se os anticorpos fossem diluídos em 1 para mil, seriam capazes de matar 99% dos vírus ativos.


Foto BBC/Reprodução


Quem é John Hollis

Quando o amigo foi diagnosticado com covid-19, o escritor achou que ficaria doente. A descoberta da doença não veio sem sustos. Segundo relatou à TV americana NBC, ele chegou a deixar uma carta para o filho adolescente "caso as coisas desmoronassem muito rápido". Com exceção de alguns problemas de sinusite - que, segundo declarou ao jornal da Universidade de Virgínia, atribuiu a alergias - ele nunca ficou doente.

Em julho, Hollis estava na Universidade George Mason, onde trabalha no setor de comunicação, quando comentou com o professor Lance Liotta, um médico e bioengenheiro da instituição sobre o que tinha vivido meses antes. Liotta então o convidou para participar do estudo e o resultado foi impressionante. "Meu queixo bateu no chão", disse Hollis. "Tive que fazer (Liotta) repetir o que ele me disse pelo menos cinco vezes", contou à NBC.

Em entrevista à BBC, o médico responsável pelo estudo explicou os anticorpos desenvolvidos por Hollis atacam diversas partes do vírus ao mesmo tempo e o eliminam rapidamente. Na maioria das pessoas, porém, os anticorpos que se desenvolvem para combater o vírus atacam as proteínas das espículas do coronavírus para que ele não infecte as células. O problema é que, em uma pessoa que entra em contato com o vírus pela primeira vez, demora certo tempo até que o corpo consiga produzir esses anticorpos específicos, o que permite que o vírus se espalhe.

Ainda de acordo com Liotta, mesmo se diluídos em 1 para mil, seriam capazes de matar 99% dos vírus ativos. "Nós coletamos o sangue de Hollis em diferentes momentos e agora é uma mina de ouro para estudarmos diferentes formas de atacar o vírus", afirmou.

"A coisa toda foi surreal", disse Hollis ao jornal da Universidade de Virgínia - onde frequentou a faculdade. "Fui escritor durante toda a minha vida e não poderia inventar essas coisas se quisesse", finalizou.


Pesquisas por anticorpos continuam

Desde o meio do ano passado, pesquisadores se dedicam a estudar como anticorpos podem contribuir para minimizar os efeitos da covid-19 no corpo humano. Alguns esforços notáveis nesse sentido foram o da farmacêutica Eli Lilly. Um estudo de estágio intermediário da farmacêutica testou três doses diferentes do LY-CoV555, um tratamento de anticorpos concebido para reconhecer e se atrelar ao novo coronavírus, com isso impedindo que a infecção se espalhasse. 

O teste apresentou resultados satisfatórios: do total de 302 pacientes tratados com três doses diferentes do LY-CoV555, cinco deles, ou 1,7%, tiveram de ser internados ou visitar um pronto-socorro — com o placebo, foram nove de 150, ou 6%, segundo a farmacêutica.

Outra companhia envolvida com o teste de anticorpos é a Regeneron. No início deste ano, a empresa anunciou um coquetel de anticorpos que, em testes, conseguiu reduzir em 100% as infecções sintomáticas causadas pelo vírus.

"Esses dados usando a REGEN-COV como uma vacina passiva sugerem que ele pode reduzir a transmissão do vírus, bem como diminuir o fardo viral naqueles que forem infectados", afirmou o presidente da companhia, George Yancopoulos, em um comunicado publicado no site oficial da empresa.

Todas essas pesquisas utilizam como base o conceito de anticorpos monoclonais. Eles são vistos como uma "arma" capaz de neutralizar o coronavírus, a exemplo do papel que desempenham em tratamentos com câncer e outras doenças inflamatórias.

Os anticorpos monoclonais são selecionados no sangue de pacientes curados ou produzidos em laboratório a partir de grupos de células preparadas para esse fim. Recentemente, estudos feitos até mesmo com lhamas buscam uma opção para criar e reproduzir o efeito desses anticorpos.


Como os anticorpos monoclonais funcionam?

Todos têm em comum o ataque à proteína S com a qual o vírus SARS-CoV-2 se liga à superfície das células humanas, uma proteína que tem um papel fundamental no processo infeccioso, como afirmou à AFP o pesquisador Hugo Mouquet. De qualquer forma, os anticorpos monoclonais não competirão com as vacinas, mas serão complementares, de acordo com o francês. 

Uma das principais razões para isso é econômica. Por exemplo: o infliximab, um dos anticorpos monoclonais mais antigos e mais vendidos no mundo contra a doença de Crohn e a artrite reumatóide, custa, por exemplo, na França, cerca de 500 euros por dose.



Com informações da Jovem Pan, BBC e Exame



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