Estudo aponta que exercício com supervisão remota tem mais resultados efetivos

Por essa ninguém esperava: praticar exercícios em casa, como muita gente tem feito na pandemia, mas com supervisão online à distância de um profissional é muito mais eficaz que as outras formas de  treinar em academias e até com o personal trainer, de forma presencial.

A USP, Universidade de São Paulo, pesquisou os efeitos da prática regular de exercícios sobre a saúde física e mental de 344 voluntários durante a pandemia. O estudo apontou os modelos com maiores resultados, mas a surpresa dos cientistas ficou por conta das aulas com supervisão remota, que se mostraram ainda mais efetivas do que o modelo presencial.  

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Obviamente os médicos alertam que qualquer modalidade, seja on-line ou presencial, garante mais benefícios do que o sedentarismo. A pesquisa relata que a melhora física e mental está diretamente relacionada com o aumento seguro e progressivo da intensidade dos exercícios, que só foi possível ser observada nas aulas monitoradas por profissionais. Mas o interessante é que na comparação entre os dois modelos de aulas supervisionadas, "aquelas que são feitas por videochamada apresentaram uma maior eficiência”, conforme Carla da Silva Batista, pesquisadora na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e coautora do artigo publicado na revista Psychiatry Research nesta semana.

A pesquisa também foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e teve a participação de voluntários sedentários com e sem sintomas depressivos, de diferentes faixas etárias, rendas e estados em todo o Brasil.

As melhores respostas vieram dos pesquisados que praticaram modalidades à distância, como pilates, crossfit, yoga, dança e exercícios aeróbicos, apresentando maior nível de atividades físicas intensas em comparação aos indivíduos que realizaram treinos sem supervisão profissional.

“O aumento da intensidade durante as aulas on-line supervisionadas se revelou de suma importância durante a pandemia. No estudo, 55% das pessoas praticavam atividades físicas de alta intensidade, porém, com o confinamento, esse número caiu para 30%”, informa a pesquisadora à Agência FAPESP.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que a prática de exercícios intensos aumenta a longevidade, diminui o risco de desenvolver a doença de Parkinson e está associada com a redução do risco de 26 tipos de câncer .

Os pesquisadores, porém, dizem não saber o motivo desse resultado mais eficiente. É possível que o desconforto associado ao uso de máscaras possa ter atrapalhado o desempenho dos alunos durante a pandemia, e o espaço doméstico se tornou um ambiente mais seguro e confortável.

Entre os outros potenciais motivos aventados pelos pesquisadores da USP está a maior motivação dos alunos nas videochamadas. “Por estarem realizando exercícios de forma segura e supervisionada em casa, sem a necessidade de usar máscara e com menor probabilidade de disseminar o vírus, foi possível que o professor fosse aumentando a intensidade dos exercícios de modo seguro, sem provocar lesões ou desconforto”, explica.

Para avaliar a saúde física e mental dos participantes, os pesquisadores aplicaram, entre julho e agosto de 2020, um questionário on-line validado sobre intensidade de atividade física (International Physical Activity Questionnaire – Short Form - IPAQ-SF) e outro sobre saúde mental (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale–Self Rated -MADRS-S) que abrange nove itens, como tristeza aparente e relatada, tensão interna, dificuldades de sono, alterações do apetite, dificuldades de concentração, lentidão, incapacidade de sentir, pessimismo e pensamentos suicidas. Todos eles configuram sintomas para o desenvolvimento de algum transtorno mental.

Os pesquisadores também fizeram rastreios para verificar a rotina de exercícios dos participantes. Os voluntários realizaram no mínimo 30 minutos e no máximo 180 minutos de exercícios físicos por dia. O total semanal foi de no mínimo 150 minutos e no máximo 900 minutos de exercícios físicos.

“Cerca de metade dos participantes apresentava diagnóstico de depressão antes de a pandemia começar. De acordo com os nossos resultados, mesmo as pessoas com esse diagnóstico tiveram melhora no escore de saúde mental”, diz.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que indivíduos que praticaram mais de 30 minutos por dia de atividade física moderada ou vigorosa durante a quarentena apresentaram menor risco de sintomas depressivos. Isso porque a prática, mesmo realizada dentro de casa, evita as consequências do sedentarismo, como sintomas de estresse, privação de sono e obesidade – fatores que podem estar relacionados com alterações do metabolismo.

“Já se sabia dos benefícios fisiológicos e da importância de manter a prática de atividade física mesmo durante o confinamento. Mas o que o nosso estudo comprovou é a efetividade das aulas por videochamada. Era uma dúvida que tínhamos. O modelo se mostrou muito benéfico, sobretudo para o período que estamos vivendo”, conclui.

O artigo científico pode ser lido em
www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165178121002663

Com informações do site R7












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