SEU DINHEIRO: Onde investir com a Taxa Selic definida por um Copom mais otimista, mas ainda cauteloso

Seguindo o que o mercado esperava, o Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (21), manter a Selic em 13,75% ao ano pela sétima reunião consecutiva. O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe uma ou outra indicação mais otimista – embora mantenha termos como “cautela” e “parcimônia” em evidência.

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“O grande destaque é o comunicado mais otimista em relação à reunião anterior, quando o documento até indicava possibilidade de alta de juros. Agora, o Banco Central excluiu do comunicado o risco de alta e ainda acrescentou que houve melhora no cenário internacional”, pontua Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Há, porém, pontos de atenção. “O corte de juros na próxima reunião parece condicionado a uma evolução favorável da inflação nos próximos indicadores”, comenta Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. Até a próxima reunião, haverá divulgação do IPCA de junho e dos IPCA-15 de junho e julho. Sobral afirma que surpresas negativas com os indicadores de inflação “parecem, aos olhos de hoje, pouco prováveis”, o que favorece uma leitura otimista do comunicado.

Enquanto a Austin Rating reafirma sua expectativa em corte da Selic na próxima reunião, em agosto, a Neo Investimentos espera o início dos cortes em setembro e a Selic em 12,25% no fim de 2023. As projeções divergem, mas o mercado já começa a perceber os cortes de juros se materializando aos poucos.

Nesse contexto, a renda variável volta ao radar dos investidores. “A sinalização de melhora do ambiente econômico abre espaço para os ativos de risco”, comenta Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Para Clayton Calixto, especialista de portfólio da Santander Asset, o novo cenário “abre possibilidade de diversificação novamente, com o investidor voltando aos poucos [para a  Bolsa] e procurando ativos de risco”.

Os investidores já vêm olhando para as ações – tanto que o Ibovespa e o IFIX, índice de referência dos fundos imobiliários, sobem 8% e 3,3% neste mês, respectivamente. Para os especialistas, ainda há mais espaço para avançar.

Ao mesmo tempo, a renda fixa continua sendo uma boa opção para investimentos, já que os juros básicos seguem altos e não devem cair abaixo de 10% ao ano tão cedo. “Ainda há ótimas aplicações com juro real [rendimento além da inflação] acima de 5% em títulos públicos, de baixo risco”, comenta Renato Ramos, diretor de renda fixa da Empírica Investimentos.

Diante do cenário que se concretizou nesta quarta-feira, confira a visão de especialistas consultados pelo InfoMoney para cada tipo de investimento:

Ações

A principal dúvida do investidor que quer entrar na Bolsa ou aumentar a exposição a ações é se ainda dá tempo de capturar ganhos, já que o Ibovespa tem bom desempenho desde o início de maio. Especialistas acreditam que a janela de oportunidade está longe de terminar.

Para a XP, o valor justo para a Bolsa enquanto os juros estão em 13,75% é de 130 mil pontos. Ferreira explica que, historicamente, o Ibovespa supera a taxa do CDI (principal referência de rendimento para a renda fixa) em ciclos de corte de juros. “A Bolsa ainda não precificou o potencial de queda de juros; o Ibovespa supera o CDI em ciclos de queda e ainda nem começamos esse movimento”.

Calixto, da Santander Asset, diz que o investidor “tende a fazer, aos poucos, uma migração de aplicações em juros para a Bolsa, que tem espaço para ‘andar’ mais”.

Com a queda de juros no horizonte, alguns papéis tendem a ter melhor desempenho. Setores como varejo, saúde, educação e construção civil sofrem mais que outros com as taxas altas e, por isso, as ações desses segmentos foram punidas. Agora, as cotações estão sendo “desamassadas”, subindo até 25% no último mês, como acontece com os papéis da MRV (MRVE3).

A recomendação de Ferreira está fora do Ibovespa. Ele acredita que as small caps (ações de empresas com menor valor de mercado) têm grande potencial de valorização. “Elas são geralmente ligadas a setores domésticos, como varejo e imobiliário, sem tanta exposição a commodities”, explica. A leitura é que empresas sensíveis à economia local se beneficiem mais de juros menores, que significam estímulo à atividade econômica.

Para quem quer mais segurança, as blue chips (ações de empresas grandes, consolidadas e com alta liquidez) ainda são bons investimentos, segundo Calixto. “O setor financeiro, por exemplo, deve continuar com alta lucratividade, mesmo com juros um pouco mais baixos”, diz. Outra bola de segurança são empresas de energia, conhecidas pelo pagamento de dividendos robustos e proteção contra a inflação, já que conseguem repassar o aumento de custos aos consumidores.

Fundos imobiliários

Os FIIs também vêm se beneficiando da volta do apetite por risco. O IFIX, menos volátil que o Ibovespa, sobe cerca de 13% desde a mínima do ano, em março. A bola da vez desse mercado são os fundos de “tijolo”, que investem em imóveis físicos, como shoppings, galpões logísticos e lajes corporativas.

Esse segmento é mais sensível a juros, já que taxas altas estimulam a contração da economia, fazendo com que empresas hesitem em expandir e alugar novos escritórios, varejistas fechem lojas em shoppings e desistam de abrir centros de distribuição em galpões logísticos. Agora, com o corte da Selic mais próximo, investidores se animam novamente com os fundos de “tijolo”.

Marcos Baroni, analista e especialista em FIIs da Suno Research, alerta que investidores devem ir além das taxas de juros para analisar se vale a pena investir em FIIs agora. “Os fundos imobiliários são afetados por vários setores, como varejo, indústria e tecnologia. Portanto, é preciso analisar como a queda de juros vai impactar a economia real”, explica.

Fonte: Infomoney



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