No Dia Nacional do Bioma Pampa, 17 de dezembro, o grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre da UFRGS divulgou um dado inédito sobre a diversidade do Pampa, obtido, recentemente, em atividades de campo no município de Jaguarão, Rio Grande do Sul: um metro quadrado de campo nativo com 64 espécies de plantas. O número ilustra a enorme diversidade do bioma, que, no entanto, segue desprotegido e sofre, anualmente, grandes perdas das suas áreas nativas e da sua biodiversidade, com impactos para as populações humanas.
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Enquanto o público geral, muitas vezes, associa a biodiversidade brasileira aos ambientes florestais, os ambientes de campo e savana possuem uma biodiversidade equivalente. O mesmo vale para o Pampa, um bioma cuja vegetação natural é dominada por campos que possuem uma biodiversidade rica e típica. Parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o PPBio Campos Sulinos - Pampa é um projeto nacional que visa ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e subsidiar políticas públicas voltadas para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais. O PPBio Campos Sulinos - Pampa é coordenado pelo professor Valério DePatta Pillar, da UFRGS, e as atividades envolvendo levantamento da vegetação campestre, pelo professor Gerhard Ernst Overbeck, também da UFRGS.
Na primavera de 2024, a equipe do Laboratório de Vegetação Campestre (LEVCamp) da UFRGS, composta pelo mestrando Mateus Schenkel e pelo especialista Fábio Torchelsen, e liderada pela pós-doutoranda Ana Porto, realizou a amostragem da vegetação em cinco áreas campestres do Pampa, seguindo protocolos de amostragem padronizados. “O nosso objetivo é analisar os padrões de diversidade vegetal das espécies campestres e suas relações com fatores ambientais como pastejo e contexto da paisagem", explica Ana Porto. Foi no município de Jaguarão, em uma área de campo nativo sob manejo pastoril, situada em uma propriedade particular, que a equipe de campo encontrou o metro quadrado mais rico em plantas já registrado no país: 64 espécies em um único metro quadrado. Registros anteriores já haviam documentado áreas de campo com mais de 50 espécies de plantas por metro quadrado; valores acima de 30 espécies por metro quadrado são comuns nos campos do Pampa. “O novo recorde destaca a riqueza de espécies dos campos nativos no sul do Brasil, algo muito pouco conhecido até pelos próprios gaúchos e gaúchas", comenta Ana. “Quem imagina ter mais de 60 espécies diferentes de plantas em um único metro quadrado de campo nativo que, de longe, parece tão homogêneo?”, adiciona.
O Pampa brasileiro, uma região de campos nativos sob clima subtropical, abriga pelo menos 12.503 espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, como foi revelado em um estudo publicado em 2023, coordenado pelo professor Gerhard Overbeck da UFRGS e com a colaboração de 120 pesquisadores de 60 instituições. Além de sustentar tamanha biodiversidade, os campos nativos fornecem importantes serviços ecossistêmicos para as pessoas, como abastecimento de água, armazenamento de carbono, alimentos e forragem. Ainda mais, o Pampa tem elevado valor cultural.
Conservação exige políticas públicas
Apesar da sua alta importância para a biodiversidade, entre 1985 e 2023, o Pampa perdeu 3,5 milhões de hectares de campos nativos. A expansão de lavouras anuais (como soja e arroz) e de monoculturas de árvores exóticas (por exemplo, pínus e eucalipto) é a principal causa da perda dos campos nativos, apesar do potencial produtivo dos mesmos. “A pecuária extensiva em campo nativo é, comprovadamente, uma atividade econômica que é compatível com a conservação da biodiversidade”, ressalta Overbeck. “Temos, com os campos do Pampa, a possibilidade de produzir carne de alta qualidade com base na vegetação nativa, sem degradar o meio ambiente. No Pampa, o gado é aliado à conservação da biodiversidade, e o uso pastoril do Pampa deve ser incentivado.” A conversão em monoculturas, no outro lado, reduz não só a biodiversidade, mas também a multifuncionalidade da paisagem, assim reduzindo também os serviços ecossistêmicos que são base para a qualidade de vida humana, e também para a própria produção agrícola.
Os pesquisadores concluem que, para garantir a conservação e o uso sustentável do Pampa, são necessárias políticas públicas que incentivem a manutenção dos campos nativos e o seu uso, além da implementação das exigências legais já existentes, como o Cadastro Ambiental Rural e os Programas de Regularização Ambiental.
Fonte: UFRGS
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