#CENADECINEMA: Nosso editor RENATO MARTINS comenta o longa CONCLAVE, em cartaz nos cinemas

Cinemão. Faz tempo que a gente não vê um, né? Grandes cenários e locações, fotografia sublime, ótimos movimentos de câmera, figurinos cuidadosos, trilha sonora marcante e bem temperada, elenco avassalador, direção perfeita, argumento instigante e história bem tramada. Assim é CONCLAVE, que está em cartaz nos cinemas e detém o quinto lugar no ranking das indicações ao Oscar: são oito, para a cerimônia do dia 2 de março. Tem até o tão desejado "plot twist", as viradas de roteiro comentadíssimas nas redes sociais e entre os cinéfilos. 


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Os bastidores de uma cerimônia extremamente tradicional e sigilosa para escolher um novo Papa, depois que o sumo pontífice morre. Algo que acontece na vida real de tempos em tempos e que como jornalista já pesquisei, cobri e acompanhei algumas ocasiões como essa. Mas "este" conclave, especificamente, é totalmente ficcional, baseado no livro homônimo do britânico Robert Harris, lançado em 2016 - e que desde lá tem suscitado reações indignadas dos católicos, apesar do autor ter consultado a própria igreja para registrar alguns detalhes na obra literária. Nos EUA, a comunidade religiosa ficou injuriada com a película por revelar o processo interno de eleição do chefe da igreja católica e tentou, inclusive, boicotar o filme que estreou por lá em outubro do ano passado. Bobagem. Fui católico fervoroso na minha adolescência e juventude e sei que o conclave, apesar do seu mistério e dos seus segredos, no livro e o filme do diretor Edward Berger (o mesmo de NADA DE NOVO NO FRONT, oscarizado por melhor filme internacional em 2023) não acontece nada que desrespeite o ritual nem ofende os valores cristãos.

O grande trunfo do longa é transformar a disputa interna para o papado em uma grande concorrência política, ambiciosa e repleta de conspirações. Afinal, o que acontece dentro da Capela Sistina é uma reprodução do universo de qualquer segmento da humanidade: nas ruas, dentro do congresso, em um time de futebol ou um campeonato de poesia há rivalidade e (pode haver) segredos, traições e tentativas de derrubar um ou outro nome do páreo. Sim, esses cardeais fazem tudo isso e é por causa disso que ficamos agarrados à cadeira do cinema todo o tempo. CONCLAVE é filmão. De novo: como há algum tempo eu não via. 

O cineasta alemão já tinha me encantado com NADA DE NOVO NO FRONT - e olha que não sou fã  do gênero guerra -, mas me ganhou definitivamente com os cuidados e o detalhismo que filma esta nova obra, que além de tudo, traz um Ralph Fiennes espetacular na pele do decano que vai organizar o encontro dos cardeais para a votação, em plena Capela Sistina. As cenas da eleição, já que são proibidas  câmeras no local onde Michelangelo pintou seu famoso afresco no teto, foram feitas numa Capela Sistina devidamente recriada pela designer de produção Suzie Davies, que providenciou uma réplica exata do local ali pertinho do Vaticano, dentro dos estúdios Cinecittà, em Roma mesmo.

  
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Fiennes (foto acima) pode sim, levar o Oscar de Melhor Ator. Será merecido, se acontecer. Ainda tem Stanley Tucci no elenco, que gosto muito, e está magistral no papel de um candidato ao cargo de Sua Santidade, além de ótimos atores como John Lithgow, o mexicano Carlos Diehz e o italiano Sergio Castellito. Todos estão corretíssimos em cena. Isabella Rossellini (foto abaixo) se sobressai ao interpretar uma freira que é essencial na história, embora pouco fale e pouco apareça. Mas a atuação contida lhe deu uma indicação como atriz coadjuvante. A atmosfera é muito masculina, uma vez que se trata de cardeais elegendo um novo papa, e são somente homens. Mas o personagem dela é marcante - embora eu preferisse que ela tivesse uma  presença maior em tela. 

Além de Melhor Filme, Melhor Ator (Fiennes) e Melhor Atriz Coadjuvante (Isabella, na foto abaixo), CONCLAVE também concorre com justiça nas categorias de Roteiro Adaptado, Edição, Design de Produção, Melhor Figurino e Melhor música original - por tudo que já destaquei acima. 

No caso da categoria máxima do Oscar, provavelmente ganha ou então perderá para O BRUTALISTA. Ou, tomara, que perca para AINDA ESTOU AQUI. Seria sensacional, mas acho que ainda não é a vez do Brasil. Tomara que eu queime os dedos que digitam essas frases! 

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Há, porém, algo desnecessário que não vejo como acréscimo na história, embora esteja no livro. Me parece muito mais um mea culpa com a pequena participação da mulheres na história, e é só por isso que não dou nota 9. Mas não posso comentar, porque seria um spoiler do tamanho da Praça São Pedro.   
CONCLAVE merece a sua ida ao cinema HOJE.

Nota 8,5


  

    

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