ONG internacional resgata animais, leva remédios e cestas básicas a afetados pela enchente nas ilhas da capital
Três pequenos barcos a motor navegaram velozes pelo Guaíba na tarde da última quarta-feira, levando medicamentos, cestas básicas e sacos de rações para animais, tendo como passageiros um grupo de voluntários. Saídos do bairro Picada, em Eldorado do Sul, eles levaram alento a pessoas na ilha Mauá, ao sul do Arquipélago, em Porto Alegre, área novamente afetada pela elevação do curso d’água, e cuja maioria dos moradores optou por não seguir para abrigos por medo.
Instagram/Reprodução |
Mariana Serra, CEO da ONG Vvolunteer, natural do Rio de Janeiro e casada com um gaúcho, capitaneou a equipe, formada por pessoas de Santa Catarina, do próprio Rio e do Instituto Moinhos Social, ligado ao Hospital Moinhos de Vento, na Capital. Formada em Relações Internacionais, ela gerencia a Vvolunteer com sócios, e que tem expertise de atuar em situações de caos em 20 países.
Iniciado há três semanas, o trabalho da entidade também já resgatou diversos animais e pessoas das ilhas. No Rio Grande do Sul, a Vvolunteer também atua com ações permanentes no Vale do Taquari. “Sempre trabalhei com isto, desde muito nova, a escola me incentivava. Sou uma mulher branca, sempre tive tudo, e me perguntava: o que posso fazer com meus privilégios? A ideia da empresa veio da inquietude de ver tantas coisas que posso fazer com os recursos que tenho”, comentou ela.
Na última quarta, antes de partir para a Mauá, ela parou na residência da pescadora Áurea Alexandra Nunes Ribeiro, moradora do bairro Picada, em Eldorado. Quando a água sobe, ela atravessa a rua dos Pilares e vai para uma área de matagal junto à BR-290, onde monta um “kit da enchente”, já pronto com lonas e outros acessórios, além de um gerador, recebido após as inundações de maio do ano passado. No pátio da casa dela, há um barco cujo nome é Caco, alcunha dada por um afilhado.
“Quando começa a chover lá para cima, nas cabeceiras, a gente meio que começa a se organizar. Levamos as barracas, roupa de cama e colchão. Estamos calejados”, comenta Áurea, que mora com o marido, a filha e o genro, e tem outro filho com dois netos que vive na Ilha da Pintada. Com a frequência maior das cheias, desde 2015, segundo ela, somente é possível colocar as redes na água por dois ou três meses por ano, no entanto ela se sustenta consertando redes para outros.
Áurea deve receber em breve o benefício da Compra Assistida, e após 34 anos em Eldorado do Sul, a pescadora decidiu que irá embora com a família para Nova Tramandaí, no Litoral Norte. De barco, seguindo o canal do Guaíba, cuja correnteza é forte com a descida das águas, o caminho entre a Picada e a Mauá leva cerca de dez minutos, e no destino, quase todas as casas de madeira estão abandonadas, mas há algumas luzes acesas.
O servente de pedreiro Evanildo Oliveira da Silva logo aparece e leva uma cesta básica para casa. Ele e a esposa têm quatro filhos, o mais velho com sete anos de idade, e a mulher está grávida de oito meses da quinta criança. “A situação não está muito boa, mas com esta ajuda que estamos recebendo, vai melhorar. Não queremos ir para o abrigo novamente. Estivemos em três na outra enchente, e aqui é mais seguro. Estamos com luz e sinal de celular”, relata ele, que ficou sabendo do projeto pelo contato de Mariana. Ela, por sua vez, tem contato direto com líderes comunitários das ilhas, que indicam os moradores mais necessitados.
Um dos barqueiros da equipe e também habitante da Mauá, o pescador Éder Marques Ribeiro, com esposa e três filhos, mora com o pai em uma das casas na beira do Guaíba atingidas pela água. “Já ficamos atentos a qualquer coisa. Só quem é daqui, quem viu ano passado, sabe o que se passa. Você fica tenso, nervoso, estressado, ansioso. No ano passado, tiramos todas as coisas que conseguimos, depois da enchente ganhamos outras, e perder de novo é muito difícil. Aqui parece cidade deserta. É muito triste. Será que vai ser todo ano isso? Não vai acabar, ninguém vai fazer nada”, desabafou ele. Ao todo, foram entregues na quarta 60 litros de leite, dez cestas básicas, 50 quilos de ração, vermífugos para cães, medicamentos, 11 kits básicos de higiene e roupas infantis para o frio.
Em busca de trazer atendimento à população afetada, a supervisora do Instituto Moinhos Social, Monique Pimentel, ainda participou da ação como voluntária. O instituto está oferecendo teleatendimento psicológico gratuito para pessoas afetadas pelas inundações (clique aqui e saiba mais). “Como instituição do tamanho do Moinhos e da representatividade que temos na comunidade, é mais do que nosso dever contribuir com ela, também atuando quando ela mais precisa. Temos um vínculo muito forte com as ilhas. Que pena que temos de passar por isto novamente, mas nós, enquanto instituição, precisamos contribuir para que isto não se repita”, afirmou Monique.
Fonte: Correio do Povo
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