Duas inteligências artificiais (IA) desenvolvidas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, estão sendo testadas em Porto Alegre para ajudar na detecção precoce do câncer de mama e de pulmão. As tecnologias, chamadas Mirai e Sybil, são estudadas em parceria entre a Santa Casa da Capital e a Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa), com o objetivo de reforçar o rastreamento e ampliar as chances de cura com diagnósticos mais precoces.
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MIT Jameel Clinic/Divulgação |
O modelo mais avançado é o Mirai, voltado ao câncer de mama. Já calibrado com mil mamografias realizadas na instituição de saúde, o sistema alcançou uma precisão de 81% na identificação de pacientes com risco de desenvolver a doença em até cinco anos. A próxima etapa é o estudo clínico, necessário antes da incorporação à prática hospitalar.
A pesquisadora Carmela Farias, nutricionista e doutora em Ciências da Saúde, lidera o projeto na Santa Casa. Segundo ela, a IA analisa imagens de mamografia e detecta alterações muito sutis, imperceptíveis ao olho humano, que podem indicar risco futuro. "Ela não substitui o médico, mas é uma aliada importante na definição da conduta. Em caso de risco alto, o profissional pode pedir ressonância ou acompanhamento mais próximo", explica.
A expectativa, segundo ela, é iniciar os testes clínicos ainda em 2025, desde que se viabilize o financiamento necessário para a realização de exames mais caros, como a ressonância magnética. Se a etapa for bem-sucedida, o objetivo é aplicar a tecnologia na rotina de rastreamento da instituição.
Para o supervisor técnico da Procempa, Márcio Scherer, o uso da IA representa um novo paradigma no diagnóstico precoce. "O MIT treinou o Mirai com 120 mil mamografias. O que fizemos aqui foi testar em uma população e estrutura diferentes. Obtivemos resultados semelhantes aos dos estudos internacionais, o que reforça a eficácia do modelo", diz.
A IA retorna uma espécie de régua de risco — alta, média ou baixa probabilidade —, mas para isso é necessário um processo chamado de calibragem, no qual os pesquisadores definem os pontos de corte que melhor refletem a realidade local. "Já fizemos essa parte com base em exames antigos de pacientes que posteriormente desenvolveram câncer. Agora falta o acompanhamento de pacientes em tempo real", acrescenta Scherer.
Já o Sybil, voltado ao câncer de pulmão, ainda está em uma fase anterior. A coleta de tomografias de baixa dose, exame menos difundido no Brasil, está em andamento para alimentar e calibrar a IA. Desenvolvido em parceria entre MIT e Harvard, o Sybil tem precisão estimada de 90% e pode prever o risco da doença com até seis anos de antecedência, segundo os testes feitos nos Estados Unidos.
Segundo Carmela, o câncer de pulmão é uma das doenças com maior incidência no Rio Grande do Sul, ficando atrás apenas do de próstata nos homens e de mama nas mulheres. "É uma doença que costuma ser diagnosticada tardiamente, porque os sintomas iniciais são inespecíficos. A Inteligência Artificial pode mudar esse cenário ao identificar lesões muito pequenas", afirma.
Apesar do avanço, o uso da IA na saúde ainda enfrenta barreiras. Carmela destaca a resistência de parte dos profissionais, que temem que as máquinas substituam o olhar clínico. "Mas a IA vem para complementar, e não para tirar o lugar de ninguém. É uma ferramenta poderosa para antecipar diagnósticos e aumentar as chances de tratamento eficaz", analisa.
Apesar de ser considerado "cedo" para estimar um prazo para implementação das tecnologias, a expectativa é que o Mirai seja o primeiro a ser validado, por já ter passado por mais etapas. O projeto prevê que, após a validação clínica, as tecnologias sejam compartilhadas com outros hospitais e, futuramente, integradas à rede pública de saúde.
Fonte: Jornal do Comércio
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