Sinopse gera ação contra cinema

Um caso no mínimo curioso. Reproduzo na íntegra o email do Carlos Schimdt, proprietário dos cinemas Guion em Porto Alegre. Comentários mais abaixo. Seguem os originais, sem revisão ortográfica ou de digitação:

"A NÃO MENÇÃO DE SWING DE CASAIS NA SINOPSE DO FILME PINTAR OU FAZER AMOR GERA AÇÃO CONTRA O CINEMA GUION

No mínimo, o que podemos depreender da ação abaixo é muita falta do que fazer e uma grande necessidade de aparecer. E, como parece ser este o desejo, tornamos pública a ação de censura que somos vítimas pelo cidadão abaixo.

A reclamação de que a sinopse não contempla menção ao swing de casais e isso ter originado a ação é um absurdo. Em que medida um filme de censura até 16 anos pode prejudicar um cidadão adulto com os cursos que possui o referido cidadão?
As sinopses são fornecidas pela distribuidora e, independente disso, achamos totalmente estapafúrdio o mote que move a ação a que somos vítimas.
Quantas vezes ouvimos em uma fila de cinema a revelação de determinados fatos referentes a um filme e isso suscitou reclamações de quem vai assistir ao filme .
Por isso não é aceitável que o cinema altere a sinopse oferecida pela distribuidora , que por conseguinte representa a visão e intenção do diretor.
Nos perguntamos se uma visão tão estreita justifica uma ação judicial, tomando o nosso tempo e do judiciário.

GUION CENTER 2– PINTAR OU FAZER AMOR – 100 MIN/ 14ANOS 14h50 – 18h40 – 20h30 – 22h15"


Agora, o texto da ação, pra todo mundo entender:

"Exmo. Sr. Dr. Juiz de DireitoVenho com esta interpor ação judicial contra os Cinemas Guion pelos fatos que exponho a seguir:Domingo, dia 29 de abril, recebi o convite de uma amiga para ir ao cinema Guion Center, sito à av. Lima e Silva, às 20h20min, para assistir ao filme francês "Pintar ou Fazer Amor". O critério de decisão de escolha foi a leitura da sinopse disponibilizada na internet, http://www.guion.com.br/pinar.html (ver impressão em anexo), cujo conteúdo aqui reproduzo:"Um casal se muda para uma nova casa, onde faz amizade com outro casal. Quando a casa dos novos amigos incendeia eles aceitam acolhê-los em sua nova residência. Com Daniel Auteuil e Sergi López. (seguem-se informações do filme como gênero, diretor, elenco etc.) Sinopse William e Madeleine vivem em uma cidade nas proximidades de uma montanha. Casados há um bom tempo, e certos de seu amor, seguem sua vidinha pacata. Sua filha, única, está de mudança. Agora eles não têm mais ningu! ém para cuidar a não ser eles mesmos. Durante uma de suas caminhadas nos bosques, Madeleine acaba chegando em frente a uma antiga casa e conhece Adam, um homem refinado, culto e cego. Ele mostra uma casa nos arredores que está a venda, pela qual ela se apaixona a primeira vista. William e Madeleine decidem comprá-la. Nas semanas seguintes a venda o casal está contente e satisfeito. Eles planejam suas vidas próximas a Adam e sua jovem companheira Eva, cuja casa é algumas quadras dali. Quando a casa de seus amigos incendeia, William e Madeleine não têm dúvidas em acolhê-los."Durante a sessão, surpreendemo-nos com a prática sexual de "swing" de casais, em que o casal anfitrião adere ao dito comportamento a partir de uma experiência com um casal amigo e vizinho. Algumas pessoas se retiraram do cinema durante a sessão, antes e depois do principal evento referido. No final da sessão, constatamos que se encontrava no mural de entrada do cinema um recorte do jornal Zero Hora que mostrava um artigo que trazia uma crítica - comentários e considerações - a respeito da característica essencial do filme, que é a abordagem do tema swing de casais, que fora suprimida ou omitida na sinopse residente na internet na página do cinema fornecedor.Creio que não há que se falar em "bons costumes", pois parece que todas as moralidades estão disponíveis hoje em dia nas bancas de revista, nos canais de televisão aberta e fechada, na internet e nas locadoras de vídeo. Entretanto, requereiro a devolução dos dois ingressos pela omissão de informação essencial do filme a respeito de uma prática sexual específica, impedindo-me, como consumidor, de exercer minha livre escolha, optando por um filme que pensei tratar-se ingenuamente da história de amizade entre dois casais, sem práticas sexuais bizarras. Aliás, apenas para raciocinar, sem no entanto consentir, até é possível que no futuro não exista amizade sem sexo (o que levaria ao fato de as pessoas virem a recusar a amizade de outros que viessem a se negar a fazer amor).! Entretanto, atualmente, pelo menos por enquanto, amizade é um conceito que não inclui a prática sexual - até há um termo para esse novo tipo de amizade que é a "amizade colorida". É possível , portanto a existência de amizade com ou sem swing de casais, o que não é possível é a satisfação do consumidor com a supressão de uma informação essencial do produto ou serviço na hora de sua soberana e livre escolha, principalmente do que se deseja consumir nos produtos e serviços culturais nos aspectos da moral e da sexualidade.Vice-versa, é possível imaginar a frustração de um filme que tivesse no título a expressão "swing de casais" para aquelas pessoas que fossem ao cinema para ver essa prática sexual acontecer e se deparassem apenas com um filme ingênuo, puro e enfadonho a respeito da amizade sem sexo.Os Cinema Guion violou o Código de Defesa do Consumidor ao ferir o princípio da boa-fé que inclui o dever de informação essencial na venda de um produto ou serviço. As! sim, solicito a condenação dos Cinemas Guion, com a conseqüente devolu ç ão das duas entradas e a alterarção necessária do conteúdo de sua página informativa da internet para que inclua explicitamente a característica essencial do filme em relação à pratica de swing de casais, pena de outros consumidores continuarem sendo lesados por serem induzidos a acreditar que o filme trata-se de uma apologia à amizade desinteressada e não à abordagem da prática de swing de casais, ainda que romântica, sensível e lírica.Salvo Melhor Juízo,Marcel Stock RegoBacharel em Administração, Analista Judiciário TRT da 4ª Região, estudante de Direito UFRGS."

Agora eu: o Schmidt - já disse no ar na Rádio Bandeirantes - é a "Eva Sopher dos cinemas". Exigente, criterioso, detalhista, proíbe balas, barulhos e balbúrdias em suas salas. A dona Eva faz a mesma coisa com o Theatro São Pedro. Os dois oferecem conteúdo de qualidade em troca, acima do resto. Lá no Guion não aceitam cheques, por exemplo, algo que incomoda muita gente e já fez amigos meus irem embora. Mas ele cuida do gado de perto, ajudando as vacas a engordar. Nesse caso acima, ele tem total razão. O cinema não tem nenhum poder sobre a sinopse. Se fosse o caso, a distribuidora é que teria que ser processada. Agora aqui entre nós: o cara tem 16 anos e se choca ao ver uma cena de swing?

Comentários

Mauro disse…
O "Fazer amor" que consta no título do filme não fez ele nem suspeitar que teriam algumas cenas mais ousadas no filme?

Esta pessoa só pode estar querendo aparecer!
Rodrigo disse…
Falso moralismo é dose...
Paloma Rodrigues disse…
Hahahahahaha... Bons costumes! Garanto que podemos ver cenas mais fortes nas novelas da Globo!

Esse cara mais parece uma beata de filme americano.
Mário Pertile disse…
Imagina que beleza se todas as sinopses contassem exatamente o que aconteceria no filme. Pensemos em duas situações: na primeira, a seguinte frase na sinopse - (...) Este filme trata de dois casais e ambos trocam parceiros em cenas de swing". A segunda seria a atual. Qual escolheríamos? É óbvio que é muito melhor assistir um filme na espectativa de que possa ou não acontecer uma cena de swing. Aliás, o Swing é o que menos importa. Pensei até em enviar um e-mail para o cidadão sugerindo alguns DVDs bem light. Para não chocar muito, começaria por 9 canções, e para encerrar a noite com a amiga que o convidou para assistir a um filme com uma cena de swing (hmmmm tah explicado...), Irreverssível. O que acha?
Outra coisa, não frequentarei mais o Guion, pois pelo que eu entendi agora estão acorrentando as pessoas na sala até acabar a projeção...
Abraço!
Mário Pertile
Saulo disse…
Epa!! o cara não tem 16 anos! É Bacharel em Administração e "estudante" de Direito!! Acho que está aí o problema. Está estudando e já se acha o dono do mundo, processando até Deus por ele ter feito o mundo de maneira imperfeita. Só tenho mais uma coisa a dizer: Vai assistir o filme da Xuxa.