Sobre 3 Efes

A impressão é que Carlos Gerbase deu um tempo na carreira e experimentou uma coisa meio diferente, e dali a pouco ele já vai voltar aos seus filmes. É que este 3 Efes é bem diferente de Tolerância e Sal de Prata. Não pior ou melhor, apenas diferente. Gerbase, professor de fotografia e cinema, parece ter exercido aqui a posição de mestre ao máximo: juntou um bando de garotos talentosos, botou uma câmera no ombro e divertiu-se rodando algumas boas histórias unidas num mesmo roteiro. Com uma cara experimentalista e bem colegial, o longa se propõe a isso mesmo: com despretensão total, deixar rolar uma idéia. Ou "umas". Há, porém, riscos na manobra. O novo filme do cineasta gaúcho começa inseguro, com uma abertura muito mais a la Jorge Furtado (sócio de Gerbase na produtora Casa de Cinema e roteirista e diretor de filmes de sucesso como Meu Tio Matou um Cara), com um prólogo explicativo que lembra Ilha das Flores e O Homem que Copiava. Até aí tudo bem, idéia boa se copia e os dois vêm da mesma "casa". Mas em seguida a história patina até engrenar, prejudicada pela mistura de interpretações de um elenco desequilibrado. É que dentro da ousadia do projeto, Gerbase misturou atores mais prontos com outros menos. Coloca-se neste cesto a irritante entonação dos atores gaúchos, principalmente das atrizes, e a diferença é mais contrastante ainda. "Mas tu vai ir lá?" "Bah, eu não tô a fim de ir lá!" naquela impostação portoalegrense que em nada orgulha a nós da capital. Pelo contrário, torna a cena mais amadora e o elenco menos preparado.

Porém, passados os 20 minutos iniciais, apresentados os personagens e as situações em que cada um estão postos, tudo começa a melhorar. Ou a história nos prende mais e nos faz esquecer de falhas de elenco. Tudo vai caminhando num ritmo interessante, com muitas citações aos gaúchos, como o Parque da Redenção e o Estádio Olímpico (Gerbase é gremista e não podia deixar de incluir no roteiro dois jogadores em começo de carreira do seu time como personagens), o que ao mesmo tempo incrementa a produção mas também a regionaliza, quase que decretando qual o limite geográfico brasileiro em que ela fará sucesso. Depois de uma certa tensão entre os personagens, vem toques de humor que encerram os dilemas colocados na tela de uma maneira quase surreal. Júlio Andrade, por exemplo, numa pequena ponta como policial, tem 2 ou 3 falas, mas diz a que veio. Ana Maria Mainéri, de Houve uma Vez Dois Verões e Tolerância, se sobressai. Destaque para a homenagem ao professor de cinema Aníbal Damasceno Ferreira, que foi o primeiro mestre de Gerbase e de tantos outros cineastas e jornalista - incluindo a mim. Damasceno interpreta rapidamenta um professor, que tem a tese dos tais 3 efes. Merecida homenagem.

O restante da ousadia, de lançar o filme em quatro mídias diferentes, é no mínimo uma experiência interessante e necessária. Limitar a exibição do filme em sete dias no cinema funciona também para evitar uma queda de público depois da segunda semana. Disponibilizar na internet é bem coisa do moderno Gerbase, sintonizado com os novos tempos, que ainda liberou para passar na TV e entrar logo em DVD - mídia que obviamente o filme vai funcionar melhor, principalmente no Rio Grande do Sul.

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