Lista completa dos premiados no Festival de Berlim

"Tropa de Elite", de José Padilha, surpreendeu a todos - até mesmo nós, brasileiros - ao ser anunciado nestes sábado 16 o grande vencedor do Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cinema de Berlim. Em segundo lugar, com o Urso de Prata, ficou o documentário "Standard Operating Procedure", de Errol Morris, que investiga as torturas praticadas por soldados norte-americanos na prisão de Abu Ghraib. O diretor Padilha discursou ao receber o prêmio das mãos do cineasta grego Costa-Gavras (leia mais abaixo neste mesmo post os detalhes da premiação de Tropa de Elite).

Esta é a lista completa dos vencedores do 58º Festival de Cinema de Berlim:

- Melhor Filme: "Tropa de Elite", de José Padilha (Brasil)
- Prêmio Especial do Júri: "S.O.P. - Standard Operating Procedure", de Errol Morris (EUA)
- Melhor Diretor: Paul Thomas Anderson, por "Sangue Negro" (EUA)
- Melhor Contribuição Artística: Jonny Greenwood (Radiohead), pela trilha sonora de "Sangue Negro" (EUA)
- Melhor Roteiro: Wang Xiao Shuai, por "In Love We Trust" (China)
- Melhor Ator: Reza Najie, "The Song of Sparrows" (Irã)
- Melhor Atriz: Sally Hawkings, "Happy-Go-Lucky" (Reino Unido)
- Melhor Filme de Estréia: "Asyl - Park and Love Hotel", de Kumasaka Izuru (Japão)
- Prêmio Alfred Bauer: "Lake Tahoe", de Fernando Eimbcke (México)
- Prêmio da Crítica Internacional Fipresci: "Lake Tahoe", de Fernando Eimbcke (México)
- Prêmio Anistia Internacional: "Sleep Dealer", de Alex Rivera (México/EUA)

MAIS BRASIL EM BERLIM - Outra produção brasileira foi premiada em Berlim, o curta-metragem "Café com Leite", de Daniel Ribeiro. O filme venceu o prêmio Geração 14 Plus, voltado ao público jovem. O prêmio é concedido por um júri formado por adolescentes. Em "Café com Leite", o Ribeiro traz um relato sensível sobre um casal de homossexuais que receberá a guarda do irmão pequeno de um deles após a morte de seus pais. "Quis contar uma história de dois irmãos e a ambientei em uma família gay, exatamente porque podem existir famílias de vários tipos", disse o diretor após a exibição do curta em Berlim, que ocorreu na sexta-feira. O diretor, que evidencia as relações íntimas de seus dois protagonistas, destacou que o tema "não é o homossexualismo" mas o fato de assumir a responsabilidade de criar Lucas, um menino de nove anos, interpretado por Eduardo Melo. O título do curta se refere ao tratamento dado aos menores em brincadeiras infantis, segundo o diretor. "A idéia era mostrar os problemas que acontecem em uma família normal, seja composta por gays ou heterossexuais", acrescentou.

Na última quinta-feira, outro curta brasileiro de abordagem de questão homossexual saiu vitorioso em Berlim."Tá", de Felipe Sholl, levou o prêmio Teddy de melhor curta gay. "Tá" mostra uma cena de banho na qual um jovem tenta que seu amigo consiga uma ereção. O diretor disse que a história é narrada "com muito humor" e que, embora a princípio possa parecer "sórdida e suja", na realidade transmite uma mensagem romântica.

TROPA PREMIADO - "É difícil expressar sentimentos em qualquer língua. Costa-Gavras é um herói para todos na América Latina, por todos os filmes que fez", disse o diretor brasileiro José Padilha ao receber o prêmio das mãos do presidente do júri neste ano em Berlim, o diretor franco-grego Constantin Costa-Gavras. Apesar da recepção majoritariamente negativa que teve na mídia internacional - a produção brasileira chegou a ser chamada de "fascista" pela revista americana "Variety"-, "Tropa de Elite" desbancou os favoritos "Sangue Negro", de Paul Thomas Anderson, e a comédia "Happy-Go-Lucky", de Mike Leigh.

Ainda na sexta-feira 15, Padilha rebateu às críticas internacionais dizendo que, independente de se gostar ou não de "Tropa de Elite", o importante é o debate que o filme teria causado. O último filme brasileiro a vencer um Urso de Ouro foi "Central do Brasil", de Walter Salles, em 1998.

TROPA NO MERCADO MUNDIAL - A vitória em Berlim faz parte de uma estratégia da Weinstein Company, que detém os direitos do filme fora do Brasil. Os irmãos Bob e Harvey Weinstein (ex-donos da Miramax) resolveram retirar o filme de do Festival de Sundance, em janeiro, para fazê-lo competir na Berlinale e no Festival de Cannes, que acontece em maio. Dessa forma, "Tropa de Elite", pelo menos por enquanto, opta por uma carreira européia - ainda mais depois de ser preterido na indicação nacional ao Oscar por "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer, que não chegou à seleção final.

Relembrando: antes mesmo de sua estréia no Brasil, dia 5 de outubro de 2007, o filme "Tropa de Elite" já era um dos mais comentados da história do cinema brasileiro, por causa da inédita pirataria de cópias não-finalizadas do longa-metragem. Mesmo assim, o foi o filme brasileiro mais visto de 2007, encerrando o ano com 1,9 milhão de pagantes nos cinemas (a estimativa de cópias piratas vendidas é de 11,5 milhões). O sucesso popular de "Tropa de Elite" foi tamanho que camelôs do Rio de Janeiro e São Paulo chegaram a distribuir "continuações" do filme, na verdade outros filmes nacionais ou até mesmo vídeos institucionais produzidos pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais, divisão da Polícia Militar carioca da qual faz parte o Capitão Nascimento, protagonista do filme) para confrontar os vídeos produzidos pela facção criminosa Comando Vermelho e distribuídos nas favelas cariocas. Além da pirataria, dos modismos e das fantasias de Capitão Nascimento que invadiram o carnaval pelo país, o filme também foi todo este tempo criticado no Brasil, pelos temas polêmicos - violência policial, drogas, ameaças de torturas. Por muitas vezes o diretor Padilha e o protagonista Wagner Moura tiveram que defender-se da acusação de "fascismo" e apologia à violência no filme. Moura chegou a declarar que "estava cansado de responder sempre às mesmas críticas".

Fonte: agências de notícias nacionais e internacionais (UOL, BBC, AFP)

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