Sweeney Todd, uma "sonora" droga!

É com pesar que digo isso, e não quero falar muito no assunto. Silvia, minha mulher, assistindo o filme comigo, cochichou ao meu ouvido: "o Tim Burton ainda é o teu cineasta preferido?". Eu respondi com outra pergunta: "alguma vez eu disse isso?" - como bom geminiano. Bem, já que ela garantiu que sim, lembrei que realmente admiro o cara porque ele foi um dos únicos mais recentes que conseguiu criar um estilo próprio - um tanto sombrio, mas é autoral. Criativo, irreverente, instigante.

A mim não incomoda ter Johnny Depp em quase todos os seus filmes. A esposa do diretor, Helena Bonham Carter, esta sim, já não consigo admirar. Mas não faz feio. Só eu não gostaria de ser o Tim e ter que conviver com aquilo todos os dias. O problema é que aos 15 minutos de filme - e aí eu entendi a pergunta da patroa - eu não aguentava mais o protagonista cantando. E aí veio Helena, Alan Rickman, o guri, a menininha presa no quarto choramingando e cantando pro pintassilgo (cena de doer!), e aí explodiu a paciência. É cantoria demais. Meia frase para duas ou três canções emendadas. Pior: as letras são interpretadas pelos atores ao mesmo tempo, com significados diferentes, o que pode ficar bonito na música mas para quem lê legendas fica terrivelmente prejudicado. E Depp canta mal - desta vez Isabela Boscov, crítica da Veja tem razão. E vejam, não é preconceito contra musicais: os clássicos de 40 e 50 eram assim, poucas frases e lá vinha uma canção. Mas tinha mais ação, diálogos e algumas cenas entremeando o score musical. Cantando na Chuva tem muito mais diálogo falado do que Sweeney Todd. E adorei Moulin Rouge, então não pode ser preconceito.

Eu sei que o filme foi adaptado de uma peça musical, mas bem que o Tim Burton poderia justamente ter tirado a musicalidade do filme. O resto está sensacional: a caracterização dos personagens, o clima decadente da imunda Londres, a linha condutora da história de vingança que motiva o personagem principal e as histórias paralelas, de amor, ódio e derrotas, culminando num final (calma, não vou contar), estontonteante e levemente surpreendente! Tudo funcionaria de maneira perfeita se todos os textos fossem falados. Interpretados pela qualidade que Depp, Rickman (ok, até Carter também) têm! Colocaria Do Inferno no chinelo! Epa, agora me ralei com os fãs dos irmãos Hughes.

Chega. Já falei demais. Burton me traiu. Os Fantasmas se Divertem, Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood (o melhor!), Marte Ataca, Noiva-Cadáver, o primeiro Batman... tudo definitivo! Agora ele me vem com essa... o quê que eu vou dizer pra minha mulher agora?

Comentários

Léo C Kerber disse…
Tu tá louco! Esta vez vou ter que discordar de ti.
É disparado o melhor filme do Burton.
E é muito bom principalmente por causa da música de qualidade. Eu pessoalmete tenho toda a trilha e curto muito as sutilezas das melodias e das letras.
E juntando isto com as ótimas interpretações, com a tragédia grega que é a história, com o visual fantástico e como ele mexe com o estômago da gente ao tratar temas como mentira, família, abuso de poder, luxuria, vingança, assassinato, amor, traição de confiança, ........ canibalismo!!!
É difícil conceber como em um filme (ou peça da Broadway) tão curto tantos temas possam ser tratados de forma tão profunda.
Gosto bastante dos outros filmes do Tim Burton, principalmente Ed Wood, mas em alguns anos este filme vai ser tratado como um clássico, estes que marcam época.

Um abraço.
Léo Kerber