Cine Guion Sol fecha em Porto Alegre

Depois de perder todos os seus cinemas de bairro, a capital gaúcha começa agora a matar suas salas em shopping, algumas delas já tradicionais. O Guion Sol, único cinema da zona sul de Porto Alegre, encerra as suas operações neste próximo final de semana, depois de funcionar por 12 anos. Pertencente à rede Guion, que tem três salas no Shopping Olaria, na Cidade Baixa, e mais duas salas no aeroporto Salgado Filho, as duas salas do Jardim do Sol Strip Center inauguraram luxuosas, pequenas e confortáveis, mas fecham com equipamento defasado, cadeiras quebradas e público minguado. Os filmes que encerram esta melancólica carreira são Hannah Montana, Tinha que Ser Você e Intrigas de Estado.

Mesmo passando filmes mais comerciais do que as outras salas da rede não conseguiram sucesso continuado e mais recentemente os proprietários faziam de tudo para garantir a sobrevivência, com promoções de fidelidade e ingressos cortesia. O baixo movimento do próprio shopping também contribuiu para o cansaço do negócio. As poucas lojas que cercavam o Guion Sol igualmente amargaram derrotas e pouca fluência de clientes. Em tom de lamentação, os proprietários da rede Guion, Carlos e Aiko Schmidt, retiram seus equipamentos após as derradeiras projeções deste domingo, e o espaço não mais será ocupado com salas de cinema — pelo menos imediatamente.

Schimdt é um jornalista que dedicou uma vida inteira de trabalho ao cinema. Dirigiu, nos anos 80, em Porto Alegre, os ciclos do Ponto de Cinema, que levava filmes clássicos e alternativos a diversos espaços na cidade, até que se fixou no Teatro do SESC, na rua Alberto Bins, 665, no centro da capital. Ali teve seu momento de maior sucesso até que sofreu um desastroso incêndio numa tarde de sábado. Eu era repórter de uma emissora e lembro de ter ido cobrir o acidente. Schmidt estava transtornado, sua dedicação ao cinema tinha sido literalmente destruída.

Refeito da perda, superou o problema e deu a volta por cima criando as salas do Guion Center, uma referência nacional, pela sua proposta diferenciada de cinema. Além da programação extremamente diferenciada e alternativa, eventos e ciclos no melhor estilo da cinefilia portoalegrense, a rede virou griffe. Café, lojas de CDs, lançamentos de livros e sessões de autógrafo marcam até hoje o cinema do casal Schimdt. Foi ali, na Cidade Baixa, que se viram recordes absolutos de bilheteria como "O Carteiro e o Poeta". A construção das salas na zona sul foi uma tacada arriscada, que funcionou durante anos, contentando o exigente espectador daquela região da cidade, mas que caiu no ostracismo por falta de hábito e pela inauguração de grandes shoppings com enormes rede multiplex de salas. No Guion Sol foram exibidos grandes títulos, entre muitos estive presente em sessões históricas. O último filme que assisti ali, porém, foi o infantil "Tá Dando Onda", onde pude perceber o triste estado da sala e de suas poltronas. Além de mim, da minha esposa e do meu filho, mais seis ou sete pessoas na sessão.

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