"O Anticristo", de Lars Von Trier

Já vi o novo filme do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, considerada a obra mais polêmica do ano. Trier é um dos fundadores do Dogma, confraria de diretores que se revoltaram contra Hollywood e decidiram fazer filmes crus, sem efeitos, sem trilha e com câmeras no ombro, ou seja, tudo que é elemento possível para espantar, enojar ou incomodar o espectador. É assim mesmo que funciona o "O Anticristo", na base da incomodação. O espectador se remexe na cadeira o tempo inteiro, pois a história por si só já não é agradável. Do jeito que é filmada, se torna constrangedora, uma verdadeira pedra no sapato. Um casal transa enquanto o filho pequeno acorda, vai pra janela e cai na neve numa altura suficiente para matá-a. A partir desse argumento, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg tentarão exorcizar sua culpa refazendo os passos da tragédia. Um passo rumo à insanidade dos dois.

O diretor, que já fez outros filmes bem pesados como "Dançando no Escuro" e "Dogville", diz que teve uma crise de depressão após "Manderlay", de 2005, e não queria mais filmar por falta de ideias. Acabou concebendo esta obra que didiviu espectadores e críticos na mais recente edição do Festival de Cannes. Trier chegou a ser prensado por um jornalista que queria saber qual a razão do cineasta ter feito o que fez na tela. Trier não teve palavras, disse que "foi a mão de Deus" que criou o roteiro. Gainsbourg ganhou a Palma de Ouro de atriz no festival, mas o filme realmente não agradou a todos. Está longe de ser uma unanimidade.

Apesar de uma sequência inicial bonita cinematograficamente falando, em preto e branco, câmera lenta e trilha sonora clássica (!), o resto do filme é osso duro de roer. Não é necessariamente ruim, mas difícil de ser deglutido, chocante e com passagens bastante gratuitas, como as constantes comparações da crise do casal com animais em estado estranho na floresta. A tensão entre sexo, morte e dor é confusa e gera sentimento igualmente confuso no espectador. Não dá vontade de ver mais, ou querer uma continuação. A sensação é de querer que tudo se acabe o mais rapidamente possível. O roteiro sangrento e nojento faz com que qualquer característica positiva seja escondida no longa. Dividido em atos, como gosta o diretor, o pior deles é o último, onde o casal extrapola suas dores num caos sem similar nos filmes de hoje em dia.

Sadomasoquista, "O Anticristo" consegue o que quer. Ser polêmico. É diferente e atrai curiosos. Não será um sucesso de bilheteria, mas certamente conseguirá repercutir muito mais do que até agora. Tem a mesma levada de "Irreversível", que afugentou muitas pessoas das salas de projeção, e levou tantas outras. São filmes assim que tornam o circuito alternativo mais desprezado pelos fãs médios, mas isso não tira o sono de cineastas como Trier. Eles querem é incomodar. E conseguem. Meu conselho? Respire fundo. E prepare-se.

Comentários

Rafa Luz disse…
poxa, tava doido pra ver esse filme, só pelo fato de levar assinatura de Lars Von Trier. ele é fantastico.
mas pelo que vc falou fiquei na duvida se vale a pena. não gosto de roteiros sangrentos e com muita forçação de barra
Dor e poesia disse…
Eu adorei o filme! É muito mais profundo do que isso...