Crítica: 2012

Opinião de Mãe
Não cresci em uma família de cinéfilos. O que poderia explicar a minha obsessão pelos filmes do Spielberg e do Hitchcock, o meu carinho pelo cinema do Billy Wilder e a minha predileção pelos diálogos do Tarantino e do Woody Allen, não encontra fundamento visível na minha árvore genealógica. Ou melhor, aparentemente, eu nunca tinha me dado conta do contrário.

As minhas lembranças mais remotas associadas ao cinema talvez sejam, nesta ordem: a) eu no Cine Brasil, em São Leopoldo, tentando decidir entre olhar a minha avó materna dormir profundamente na cadeira desconfortável ou tentar absorver algo do que se passava na telona entre Pinóquio e o Grilo Falante; b) o meu pai saindo comigo abaixo de chuva para me levar a uma sessão no Cine Independência dos Saltimbancos Trapalhões, o que, convenhamos, deveria ser para um adulto um programaço de índio, apesar da Lucinha Lins, naquela época, justificar alguns sacrifícios; c) eu e os colegas de escola fazendo sessões duplas nas matinés de domingo, geralmente um filme do Trinity seguido de outro de Didi Mocó e Cia. E dá-lhe Mentex e bala de goma, alternadamente entre a goela e a cabeça dos namorados que sentavam à frente.

Apesar do meu crescente interesse pelo cinema (o que atingiu níveis preocupantes com o advento do videocassete), os meus pais limitavam-se a me acompanhar, quando muito, em empreitadas na Capital uma vez por mês, para ver coisas como Rambo II, Loucademia de Polícia e O Último Imperador, não necessariamente nesta ordem.
Os gostos dos dois eram diferentes: enquanto minha mãe era mais das comédias, o meu pai era o típico fã de filmes de ação e faroestes com o Giuliano Gemma (ou, como eu tentava repetir desde cedo, filmes "de tiro e bochetada"). Desta mistura toda, surgiu um petit enfant térrible que vê pontos positivos tanto na obra de Truffaut quanto na de Stallone (embora, confesso, seja algo complicado apontá-los com exatidão no último caso).

Após o falecimento do meu pai, minha mãe, timidamente, foi redescobrindo o prazer da tela escura, a tal ponto de rivalizar comigo na frequência das idas ao cinema. E este desabrochar da paixão pela Sétima Arte me impressionou diversas vezes durante as discussões nos almoços dominicais: a mulher tanto assiste a filmes como Bastardos Inglórios ("ah, gostei tanto, quero ver mais uma vez"), como defende coisas que nem eu me atreveria a justificar ("Triplo X 2 é o típico filme que eu gosto"). Acontece que, assistindo a um maior número de títulos, o gosto de d. Maria Elis sofreu uma metamorfose e ela passou a apreciar também filmes cheios de efeitos visuais e explosões.

Tudo isto para chegar ao seguinte ponto: ELA seria o público alvo, muito mais do que eu, para um filme como 2012, a atual coqueluche mundial das bilheterias, uma espécie de "mãe de todos os filmes catástrofe". O cineasta Roland Emmerich, que já havia destruído os EUA em Independence Day, Godzilla e O Dia Depois de Amanhã, desta vez amplia ainda mais o seu leque de cataclismas e, apoiado no calendário maia, resolve mandar o nosso planetinha para as cucuias, inclusive apontando a data exata para o infortúnio (atenção: convém não agendar nada para 21.12.2012!!!).

A minha opinião sobre o filme? Como cinema, é uma grande porcaria, uma bobagem com momentos constrangedores, principalmente graças ao texto que parece saído daquelas novelas mexicanas que o Silvio Santos dubla e exibe no horário nobre. Mas diverte que é uma beleza. Aliás, num ano fraco como 2009, acho que é uma das únicas superproduções que vale o ingresso (só a fuga de Los Angeles a bordo de uma limusine já seria suficiente para justificar a ida ao cinema, aliás). A história? Quem se importa? É o manual padrão dos filmes catástrofe, desta vez com o John Cusack como mocinho. O que vale, evidentemente, são os efeitos especiais e a correria. E muita pipoca. Com refri, que é para não engasgar.

Minha mãe, a quem eu tinha resumido o parágrafo aí de cima logo após assistir ao filme, me veio com a seguinte opinião dias depois: "Achei 2012 mais ou menos, meio fantasioso demais, só os efeitos especiais é que são bonitos".  Quem sou eu para discordar de uma cinéfila mais experiente?

Luiz Fernando Pedrazza

Comentários

Anônimo disse…
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