A crítica de "Julie e Julia"

Julie & Julia, em cartaz nos cinemas do Brasil, ao contrário do que é vendido ("uma deliciosa comédia", diz o trailer), é um drama que mistura toques de comédia, tal qual uma receita culinária. Dirigido por Nora Ephron, roteirista de primeira linha em Hollywood e que se transformou em diretora de igual quilate, valiosa por seu estilo de escrever histórias criativas e ao mesmo tempo fácil. Foi assim com "Sintonia de Amor", onde Meg Ryan e Tom Hanks deram tão certo que repetiu-se a dose em "Mensagem para Você".

Desta vez Nora misturou duas mulheres, que viveram duas histórias verdadeiras, registradas em dois best-sellers e para isso a cineasta criou uma ponte atemporal entre as duas. Uma das fontes foi a autobiografia "My Life in France", que retrata a vida de Julia Child, autora de livros de culinária e apresentadora de televisão norte-americana. Ao mesmo tempo, a narrativa mostra a tentativa de Julie Powell (Amy Adams) de cozinhar todas as 524 receitas de Julia Child (Meryl Streep) do livro "Mastering the Art of French Cooking".

O grande ingrediente do filme - seguindo nessa analogia de forno e fogão - é realmente o roteiro, que conta as histórias de maneira leve e não fixa por demais nem no passado em Paris nem no presente em Nova Iorque. Com isso, o dinamismo garante a atenção do espectador ao filme, e até mesmo o batido tema das receitas culinárias se torna atrativo. O elenco fica em segundo plano, embora Meryl Streep esteja sendo elogiada em quase todas as instâncias da crítica. Acho que ela começa bem mas no meio do filme cai no personagem caricato, parecendo que sua Julia está sempre fora de si, meio extasiada, até mesmo um pouco...hã...bêbada. Talvez o jeito da Julia original fosse assim, mas na tela soa muito estranho. Ao lado dela, um Stanley Tucci perfeito, sóbrio (desculpem o termo!), discreto, no papel de Paul Child, marido de Julia. No núcleo da história passado em Nova Iorque, Chris Messina também vai muito bem como marido de Julie Powell, e esta, vivida por Amy Adams, também está na medida.

Enfim, não é uma comédia de se gargalhar, e sim de esboçar um sorriso. Não é um dramalhão, mas há momentos em que o filme se torna muito mais dramático do que divertido. Mas no geral, "Julie e Julia" é bom, filme que justifica a ida ao cinema, sim, para um momento de imersão em assunto tão feminino quanto é a culinária, mas tão universal em nossas vidas, tão presente em nossos relacionamentos e que também atinge, dentro deste contexto, os homens. Afinal, são eles que quase sempre são os primeiros a provar as receitas!

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