Uma sessão a menos para o Guion

A Cidade Baixa, tradicional bairro boêmio e cultural de Porto Alegre, está novamente no centro da polêmica. Já foi palco da discussão dos bares e suas mesas na rua depois das dez da noite, já foi debate pelo excesso de barulho e o eterno conflito entre moradores e "bebedores". Também já teve violência, arruaças, neo-nazistas rasgando cartazes de filmes que aludiam ao assunto. Tem uma rua central, a Lima e Silva, que é uma tranqueira só no final de semana, e que caba sendo evitada por boa parte da cidade que quer cruzar os bairros mas não quer ficar parado numa fila que é um misto de congestionamento com paquera. Agora, mais discussão. Mais polêmica e de novo o cinema está no meio da confusão.

Os moradores e frequentadores no shopping Nova Olaria, onde fica o único cinema alternativo da cidade, o Guion, reclamam dos excessos dos grupos de homossexuais que fazem um point aos domingos à noite. O que era curioso, passou a ser moda, depois ostensivo - até aí tudo ok, sem preconceitos, danem-se os moralistas. O problema é que agora os donos de estabelecimentos e clientes em geral reclamam do comportameto agressivo dos gays e lésbicas, que fazem sexo até nos banheiros. O negócio virou uma catarse. Não posso opinar, pois realmente faz tempo que não passo. Parei no tempo em que o ajuntamento daquela tribo era apenas, como eu disse, uma curiosidade. Uma experiência antropológica até interessante de presenciar. Como se fosse um dia, uma data no calendário, um momento de liberdade para a categoria. Pelo jeito, pelo que ouvi e li, eles "viraram o fio".

A maior prova que este debate não passa pelo preconceito (ah,são gays então não podem se exibir") é a atitude e a carta do dono do cinema Guion, o colega jornalista Carlos Schimdt e meu amigo por muitos anos. Vi o trabalho do Schimdt crescer, desde o finado Ponto de Cinema, nos anos 80, e acompanhei sua luta para implantar o Guion e a mentalidade do cinema alternativo. Admiro muito seu trabalho e, mesmo afastado dele por coisas da vida, lamentei o fechamento de duas de suas salas, situadas na zona sul da capital gaúcha. Acompanhei sua batalha árdua para inovar e manter vivo o público - cada vez menor - do alternativo, da qualidade, do diferencial, e postei aqui várias de suas ideias, promoções e manifestações. Entisteço mais lendo o manifesto do Schimdt, que reproduzo aqui e só resta realmente repudiar o que parece estar acontecendo. Segue a carta, e tirem as conclusões. E se quiserem, comentem, estabeleçam uma nova discussão.

"Neste domingo, em respeito ao nosso público e em protesto, não daremos a tradicional sessão das 22h no Guion Center Cinemas. O descaso e a negligência do poder público permitiu uma permissiva aglomeração na Rua Lima e Silva, o que impede e oprime quem tentar usar de seu direito de ir e vir. Constantes solicitações foram feitas ao poder público nos diversos setores da Infância e Adolescência, Brigada Militar , EPTC, etc.

Estes setores devem estar esperando que aconteça algum incidente trágico para daí tomar uma atitude que preserve o comezinho direito de ir e vir do cidadão. Incidentes e verdadeiros atentados ao pudor acontecem todos os domingos, numa manifestação que indica o comércio de drogas e entorpecentes, pois tem hora para começar e para terminar, das 19h – 22h. Vários estabelecimentos desta rua fecham suas portas nos domingos temendo pelas arruaças. 


Nosso próximo passo será fecharmos definitivamente o Guion Center Cinemas, pois muitos de nossos clientes acham que este “evento” acontece todos os dias e deixaram de frequentar nossas salas. 

Carlos Schmidt"

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