Quem vai ganhar o Oscar?

Estamos a menos de uma semana da maior festa do cinema mundial, o Oscar, que é na verdade a entrega dos prêmios promovida pela indústria do cinema - e não uma escolha através de um certame crítico. As apostas são intensas e tradicionais nesta época, dominando as esquinas de Los Angeles e os sites por todo o mundo, perguntando sempre a todos a mesma questão: "Who will win the Academy Award?". A cerimônia, que há 83 anos muda muito pouco mas sempre traz surpresas, nutre as mesmas expectativas em profissionais do mercado cinematográfico, críticos, membros da academia e cinéfilos em geral. Nós, pobres mortais que nem chegaremos perto do Kodak Theatre no domingo 27 de fevereiro para pisar no Red Carpet, também estamos na mesma tensão: torcendo por uns e desdenhando a vitória de outros. O resultado, porém, como em todos os anos, é imprevisível. O que está dentro dos envelopes e será anunciado pelo mais alto staff do mercado de astros de Hollywood, entre 23h de domingo e 2h da manhã da prócima segunda, ninguém tem o poder de antecipar. Nossas previsões são só conversa de bar, sem aferição que garanta alguma proximidade com acertos matemáticos. Isto porque o sistema de votação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é bastante complexo, não envolvendo apenas uma indicação simples de cada membro. Por exemplo, no caso de melhor filme: cada integrante enumera, em ordem de preferência, os dez candidatos a melhor filme. Ele é obrigado a elencar os dez títulos. A Academia, devidamente auditada, soma os votos de todos que indicam cada filme, e aquele que aparecer com mais votos como preferido na primeira posição (desde que tenha mais de 50% dos votos) ganha. Se não atingir os 50%, a Academia irá verificar as preferências para segundo filme. Em quaisquer dos casos, o que vale é a densidade da votação. Um ganhador precisa ter sido bem votado, ou seja, apontado por um bom número de membros. Nas outras categorias também funciona da mesma maneira, sendo necessário o membro da AACCH enumerar sempre seu preferido, do primeiro ao quinto. Então, a equação é misterioso e pode dar qualquer coisa. No final das contas, o vencedor pode ser uma grande zebra, pois não há lógica.

Analisemos os 10 filmes indicados à categoria principal, de melhor película. "Inverno da Alma" é a zebra e não deve ganhar nada, certo? Mas se os votos de dispersarem por demais no restante dos outros nove títulos, e houver um consenso que ele é o quarto ou quinto preferido dos integrantes da Academia, pode haver concentração de votos e aí...the Oscar goes to Winter's Bone!!! Claro que a probabilidade é difícil, mas não é impossível. Mas é por essas e por outras que é difícil seguir o pensamento lógico e dizer que "Bravura Indômita", indicado em dez categorias, e um primor de filme que caiu no gosto do público do americano médio será o vencedor. "A Rede Social" tem seu séquito de fãs apesar de já estar desgastado nessa corrida. O mesmo vale para "A Origem", que foi esquecido até por estar nos saldões de DVD no Brasil. "O Discurso do Rei" pode polarizar com o filme dos irmãos Coen e ser o ganhador. Ele pode o ser o segundo da lista de cada membro, mas com mais densidade. Mais unanimidade. Entenderam? Só não devem sair do chão mesmo filmes como 127 Horas, O Vencedor e Toy Story 3, este que deve ganhar o Oscar de animação.

Bem, mas como apostar, palpitar e opinar faz parte do ser humano, aqui vão minhas impressões, um pouco de torcida e reflexões sobre porque a Academia pode premiar alguns e outros não. Vou aproveitar e fazer na mesma lógica acima descrita: vou enumerar a ordem de probabilidade de vitória, do primeiro ao décimo, no caso dos melhores filmes (categoria principal):

Melhor Filme

1. Bravura Indômita - Olha que é um gênero que eu não gosto: faroeste. Mas é uma pequena obra-prima, que superou em elementos de cinema todos os outros da lista. O problema aparece às vezes quando um ator é bom demais, ou a história é tudo. Aqui não. Tudo é bom, ninguém se sobressai totalmente. Nem mesmo Jeff Bridges, que periga ser premiado de novo pela academia. Não há nada maior do que o próprio filme: um enredo simples, interpretações excepcionais, direção de arte, fotografia e condução impecável dos irmãos Joel e Ethan Coen. Mereceria a estatueta máxima da noite.

2. O Discurso do Rei - Era o meu preferido até ver Bravura Indômita. História ótima, com duas interpretações brilhantes de Colin Firth e Geoffrey Rush. No entanto, o filme depende um pouco demais dos dois. É o que digo acima. Sozinho, como filme, já não tem tanta vida própria. Mas tem chance.


3. A Rede Social - De herói a vilão, o filme de David Fincher surfou numa onda maravilhosa de crítica e prêmios e de repente passou a ser considerado uma obra menor, uma produção pop, e portanto esquecido. Mas ainda assim é consistente como obra, com enredo, direção e elenco afiados. Tudo é muito abotoado e funcional na tela deste filme extremamente contemporâneo e que poderá ser um divisor de águas na temática atual que domina o assunto do título. Não merece ser jogado no ostracismo.


4. Cisne Negro - Este filme de Darren Aronofsky vive um perigo iminente: o de Natalie Portman crescer tanto em sua interpretação magistral que apagará o resto do filme. Realmente, ela é o máximo, ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz, vai ganhar o Oscar e não vai sobrar mais nada para ninguém. Porém, é preciso lembrar que a obra cunhada pelo mesmo diretor de Réquiem para um Sonho é algo fantástico, que se fosse compreendida pelo grande público, teria certamente uma aceitação e uma premiação inevitável. Não, não o terá. Este filme é um "estranho no ninho". Não é simpático, nem pop, nem comercial. É um filme incômodo. Mas é uma obra-prima. Eu queria fazer uma estatueta à parte para esta obra. 


5. Inverno da Alma - Como citei no exemplo acima: é a zebra da lista, e não deve ganhar nada. Ganhador do Festival de Cinema Independente de Sundance, nos EUA, esta triste história é mais ou menos o "Preciosa" do ano passado. Tem que ter sofrimento na lista dos filmes do Oscar, senão não é Oscar. E Javier Bardem também está na lista dos atores, com "Biutiful", sofrendo pacas. Mas a produção da novata cineasta Debra Ganik só deve ganhar algo se o teto do Kodak Theatre se abrir e uma luz azul descer dos céus com um envelope mágico.


6. A Origem - Na mesma lógica de A Rede Social, este excelente policial-fantasia de Christopher Nolan desgastou-se além do tempo e virou pop. É uma lógica perversa, essa de Hollywood, mas infelizmente, que vinga: lançar-se cedo demais faz com que o título não alcance a linha de chegada. A produção tem todos os ingredientes necessários para uma estatueta: apuro técnico, boa direção e elenco, além de roteiro e sinopse criativos. Mas é superado por cinco concorrentes acima de maior peso e mais "novos" no mercado.

7. Toy Story 3 - Encaixo essa animação aqui porque os títulos abaixo são inferiores como obras fílmicas. Essa obra da Pixar segue a linha de talento e competência de todos os frutos da empresa e em especial desta trilogia, com igual vigor ao primeiro episódio de 1995. Ganha o Oscar de melhor animação, com certeza. E aqui já é vencedor por estar na lista.  
 
Os longas restantes se equivalem, por não serem grandes produções, mas terem ingredientes especiais. Ficam no mesmo páreo. 127 Horas tem seu valor em uma história contundente e verdadeira, contada de maneira moderna e com recursos modernos no melhor estilo Danny Boyle. O filme ganha muito ao escalar James Franco no papel principal do alpinista que é obrigado a cortar o próprio braço para se salvar das montanhas, fazendo com que este ator a partir de agora obtenha um salto qualitativo enorme em seu currículo, mesmo sem ganhar nenhuma estatueta. O Vencedor tem como mérito descobrir, no mundo exploradíssimo dos filmes de boxe, uma história ainda não contada, e tornar isso interessante, com elementos de drama e comédia, com elenco de talentos excepcionais como Christian Bale e Melissa Leo. Mas é um filme comum sem grandes adereços, e fica longe de clássicos como Rocky e Touro Indomável, por exemplo. Por fim, o simpático Minhas Mães e Meu Pai deve ter sido incluído apenas para manter uma imagem politicamente correta da academia. O filme vale pela ideia, pelo seu conceito, de levantar temas polêmicos, sem julgamentos, sem heróis, sem bandidos e sem culpados. Com atuações que ao meu ver não mereciam em nada as indicações de Anette Bening e Julianne Moore (as duas foram indicadas no Globo de Ouro, Anette está na categoria de melhor atriz do Oscar), o roteiro é o grande trunfo, arrancando da platéia risos, suspiros, choros e reflexões. É uma agradável surpresa do último ano, mas longe de ganhar Oscar.

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