Começa o Festival de Cannes 2012

Marylin Monroe ganha homenagem em Cannes
Começou hoje, 16, mais uma edição do mais famoso festival da Europa, e o mais respeitado do mundo, pela sua organização, seleção e qualidade dos filmes. É a 65ª edição do Festival de Cannes, na Riviera Francesa. Quem me lê bastante sabe que sempre reforço que o Oscar não é um festival, e sim um prêmio da indústria americana do cinema, e por isso não pode ser comparado com festivais como Cannes. Portanto, o certame francês se torna o maior e mais importante evento seletivo da área. o filme Moonrise Kingdom, do diretor Wes Anderson (Os Excêntricos Tennenbaums), abriu a mostra esta noite no Grand Théâtre Lumière do Palais des Festivals. Neste ano, além do brasileiro Walter Salles, com Pé na Estrada, concorrem à Palma de Ouro grandes diretores, como o canadense David Cronenberg (com Cosmopolis), o iraniano Abbas Kiarostami (Like Someone In Love), o americano Lee Daniels (The Paperboy) e o inglês Ken Loach (The Angels' Share). Ao todo serão exibidos mais de 50 filmes, sendo 22 deles pré-estreias mundiais.

Walter Salles com o Pé na Estrada

Este ano, o cinema brasileiro tem um lugar de destaque pois será o principal homenageado e, como convidado de honra, tem uma mostra paralela, fora do concurso. Além disso, nossa produção aparece também na principal premiação do festival francês com a adaptação da clássica obra de literatura beatnik, o livro Na estrada, de Jack Kerouac. A direção de Walter Salles (o mesmo de Central do Brasil) está sendo muito elogiada, e o filme tem atores de destaque no mercado como Kristen Stewart (Saga Crepúsculo), Amy Adams (Dúvida, O Vencedor), Viggo Mortensen (Senhor dos Anéis, Marcas da Violência), Kirsten Dunst (Homem-Aranha, Melancolia), Steve Buscemi (Fargo, Armaggedon), Terrence Howard (Ritmo de um Sonho, Homem de Ferro), Sam Riley (O Pior dos Pecados), Garrett Hedlund (Tron: O Legado) e a brasileira Alice Braga (de filmes como Cidade de Deus, Cidade Baixa, Eu sou a Lenda, Ensaio sobre a Cegueira). Essa pode ser a primeira vez desde O Pagador de Promessas (que em 2012 completa 50 anos da vitória na mostra principal de Cannes), que um com diretor brasileiro pode levar o prêmio máximo do evento.

Outros destaques

O júri da mostra Um Certo Olhar será composto pela atriz Leïla Bekhti, o diretor Tonie Marshall, o jornalista Luciano Monteagudo e a curadora Sylvie Pras. O ator e diretor britânico Tim Roth (Cães de Aluguel) presidirá o júri da mostra, que será aberta por Mystery, do diretor chinês Lou Ye e encerrado por Renoir, do diretor francês Gilles Bourdos (Depois de Partir).

O Brasil aparece ainda com o documentário A Música Segundo Tom Jobim, uma homenagem ao criador da Bossa Nova feita pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, que receberá uma homenagem nas sessões especiais do Festival. Além dele, outros diretores brasileiros como Cacá Diegues, Eduardo Coutinho e Ruy Guerra apresentam clássicos da nossa cinematografia como Xica da Silva, Cabra Marcado para Morrer e Ópera do Malandro, e Juliana Rojas (Trabalhar Cansa) retorna com o curta O Duplo, exibido pela primeira vez na 51ª Semana da Crítica em Cannes.

Neste ano, Cannes terá ainda uma exibição especial, na próxima sexta 18, do longa Era Uma Vez na América, clássico filme de gângster do mestre do western Sergio Leone (Três Homens em Conflito). A película foi restaurada pelo laboratório italiano Bologna Cinemetheque L'Immagine Ritrovata, com a supervisão de Fausto Ancillai, editor de som original do longa. O melhor de tudo é que a versão e terá 40 minutos de imagens inéditas.

Para encerrar o festival, foi escolhido Therese Desqueyrox, último filme do cineasta francês Claude Miller (Feliz que Minha Mãe Esteja Viva), falecido em 4 de abril. O longa é uma adaptação do romance de François Mauriac e no elenco estão Audrey Tautou (O Código Da Vinci, Amelie Poulain) e Gilles Lellouche (À Queima Roupa).

O 65º Festival de Cannes vai até 27 de maio e terá ainda Bérénice Bejo, atriz do oscarizado filme O Artista como mestre de cerimônia. O longa francês ganhou os principais categorias do prêmio americano em fevereiro último, incluindo melhor filme. E o júri será presidido pelo cineasta italiano Nanni Moretti (de O Quarto do Filho, e do ótimo Habemus Papam, em cartaz nos cinemas brasileiros).

Marylin Monroe

A lendária atriz Marilyn Monroe está em todos os cantos do Festival. Sua imagem é destaque na próxima edição de Cannes, que quis homenagear a atriz falecida há meio século. Já no cartaz divulgado com bastante antecipação, Marilyn aparece, em uma foto em preto e branco, soprando a vela de um bolo dentro de uma limusine (veja foto acima, à direita). O clique foi feito pelo fotógrafo Otto L. Bettmann.

O release oficial de Cannes definiu a fotografia como "a perfeita encarnação do glamour e do festival, figura de um ideal de simplicidade e elegância. Marilyn continua, 50 anos após sua morte, sendo uma das figuras mais importantes do cinema mundial, referência eterna e decididamente contemporânea da graça, do mistério e da sedução", acrescentaram os organizadores do Festival. Eles ainda destacaram que a atriz "despertava a imaginação em cada uma de suas aparições". Na foto escolhida, indica a organização, Marylin foi surpreendida "em um momento de intimidade no qual a mitologia se une à realidade".

Veja a lista completa dos filmes presentes em Cannes 2012:


- The angels′ share, de Ken Loach (Inglaterra)
- Mud, de Jeff Nichols (EUA)
- Da-reun na-ra-e-suh, de Sang-soo Hong (Coreia do Sul)
- Killing them softly, de Andrew Dominik (Nova Zelândia)
- Jagten, de Thomas Vinterberg (Dinamarca)
- Cosmópolis, de David Cronenberg (Canadá)
- Lawless, de John Hillcoat (Austrália)
- Na estrada, de Walter Salles (Brasil)
- Holy motors, de Leos Carax (França)
- The paperboy, de Lee Daniels (EUA)
- Vous n`avez encore rien vu, de Alain Resnais (França)
- De rouille et d`os, de Jacques Audiard (França)
- Do-nui mat, de Sang-soo Im (Coreia do Sul)
- V tumane, de Sergei Loznitsa (Ucrânia)
- Baad el Mawkeaa, de Yousry Nasrallah (Egito)
- Amour, de Michael Haneke (Áustria)
- Post tenebras lux, de Carlos Reygadas (México)
- Dupa dealuri, de Cristian Mungiu (Romênia)
- Paradies: Liebe, de Ulrich Seidl (Áustria)
- Like someone in love, de Abbas Kiarostami (Irã)

Brasil em Cannes

Oficial

Mostra competitiva
Dia 23 – Na estrada, de Walter Salles

Cannes Classics
Dia 21 – Xica da Silva, de
Cacá Diegues
Dia 22 – Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho

Filme homenagem
Dia 22 – A música segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos
lParalela

Quinzena dos realizadores
Dia 23 – Porcos raivosos, curta de Leonardo Sette e Isabel Penoni (PE)
Dia 24 – Os mortos-vivos, curta de Anita Rocha da Silveira (RJ)

Semana da Crítica
Dia 19 – O duplo, curta de Juliana Rojas (SP)

Disputa entre craques

Baseado no cultuado romance de Jack Kerouak, Na estrada é um dos 22 longas que disputam a Palma de Ouro. O páreo não é nada fácil para Walter Salles, já que a competição inclui trabalhos de veteranos que inclusive já têm o cobiçado prêmio em casa. O austríaco Michael Haneke, por exemplo, já venceu com Caché (2005) e A fita branca (2009) e está de volta com Amour (2012). Depois de ganhar em 2007 com 4 meses, 3 semanas e 2 dias, o romeno Cristian Mungiu comparece novamente com Beyond the hills.

Isso sem falar nos novos trabalhos de Abbas Kiarostami (Like someone in love), David Cronenberg (Cosmópolis), Ken Loach (The angels` share). Como o Brasil é um dos países homenageados em 2012, também integram a programação oficial A música segundo Tom Jobim (2011), de Nelson Pereira dos Santos, Cabra marcado para morrer (1984), de Eduardo Coutinho, e Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues.

“Isso não é só uma homenagem, mas também o reconhecimento da importância do cinema brasileiro no panorama internacional”, diz Cacá. O brasileiro embarca para a França com a missão de ficar de olho na produção dos novos realizadores. Ele foi escolhido para presidir o júri do Câmera D’Or, prêmio concedido a diretores estreantes. “É uma excelente oportunidade de ver o que acontece pelo mundo afora, quais as tendências mais novas no cinema. Mas não tenho nenhuma expectativa sobre o que vou ver, qual o estilo dominante, que filmes são esses”, comenta.

Para Cacá Diegues, o Festival de Cannes não nega o papel dos grandes eventos da área. “Os festivais existem como vitrines para que conheçamos os filmes uns dos outros, sobretudo aqueles que têm pouca chance de circular pelo mercado comercial do cinema, apesar de suas virtudes e qualidades. Cannes é o mais importante deles, aquele que mobiliza mais gente, mais filmes, mais novidades”, explica.

Na opinião de Marco Dutra, um dos méritos de Cannes é conseguir conciliar produções extremamente comerciais e seus opostos. “Acho que o papel dele é manter vivo o cinema mais investigativo e a diversidade. Mas isso também não quer dizer que são perfeitos”, aponta.

(Redigido com agência de notícias)


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