Filme sobre Danúbio Gonçalves entra em segunda semana

O documentário Danúbio, de Henrique de Freitas Lima, primeiro episódio da Série Grandes Mestres, com 55 minutos de duração, passa a ter novos e melhores horários na cidade.  Para quem gosta de um programa diferente na hora do almoço, o Instituto NT tem sessões diárias às 13h. No agradável centro cultural da Rua Marquês do Pombal, o cinema convive com um delicioso café ao ar livre com decoração voltada à sétima arte.  Já quem é mais afeito aos happy hours da capital, a pedida é a sessão das 17h20min da Sala Norberto Lubisco da Casa de Cultura Mário Quintana. O belo prédio neoclássico tem dois belos locais para esperar o fim do dia: o Café dos Cataventos, no térreo, e o privilegiado Santo de Casa, com o por do sol que se mostra na cúpula do edifício.

O projeto Danúbio, realizado a quatro mãos tomou forma, e o desejo do artista de ver sua trajetória documentada na linguagem do cinema está concretizado. As primeiras tomadas ocorreram em Torres, espécie de segundo lar de Danúbio, acompanhando sua relação com a cidade e os festivais de balonismo que geraram duas séries de pinturas. Foram seguidas por períodos alternados no atelier do artista no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre, e Bagé.

A grande atração do filme, entretanto, é a realização de um sonho antigo: o encontro com uma das maiores influências de sua carreira, o México e seus artistas. Integrante da geração que chegou à idade adulta na quarta década do século XX, Danúbio, como seus contemporâneos Carlos Scliar, Vasco Prado, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, foi influenciado pelos artistas engajados mexicanos, gente da estirpe de Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Siqueiros. Mais do que estes, conhecidos por suas pinturas e murais, quem realmente tocou os gaúchos foi o grupo reunido no Taller de Arte Grafica Popular sob a liderança do gravador Leopoldo Mendez. A arte engajada de Mendez e seu grupo, com quem Carlos Scliar conviveu na Europa durante o Congresso dos Artistas e Intelectuais pela Paz de Varsóvia, em 1948, forneceu a matéria prima para iniciativas coletivas como o legendário Clube de Bagé. No momento em que o grupo buscava uma arte figurativa que pudesse se contrapor ao modelo que se impunha a partir do abstrativismo e das Bienais de São Paulo, o exemplo dos mexicanos serviu como uma luva.

A história do projeto

 No fim dos anos 80, o diretor Henrique de Freitas Lima foi convocado pela crítica de arte e gestora cultural Evelyn Ioschpe para uma tarefa especial. O projeto Arte na Escola , hoje o carro chefe entre os programas da Fundação de abrangência nacional e sede em São Paulo, buscava uma forma eficiente de arte educar, através do uso de vídeos sobre o fazer artístico que pudessem ser usados em sala de aula acompanhados por materiais pedagógicos produzidos por especialistas. No período que exerceu esta função, quando aperfeiçoou seu olhar e o aproximou das artes visuais, o cineasta licenciou para a Fundação mais de 300 títulos, garimpados no Brasil e Exterior. Uma constatação, entretanto, ficou evidente: era insignificante a documentação dos artistas do Sul, em que pese sua importância no cenário nacional. A vontade de sanar esta lacuna ficou latente, já que a Fundação não tinha entre suas metas a produção de documentários.

Muitos filmes depois, Henrique veio a conhecer Danúbio Gonçalves através de José Antonio Mazza Leite, que o levou à pré-estreia de Concerto Campestre (2004), longa que reconstituiu a época áurea do charque para adaptar para as telas de cinema a novela de Luiz Antônio de Assis Brasil. Mazza Leite tinha Danúbio, o grande artista da série Xarqueadas,  gravuras produzidas na década de 50 que lhe garantiram os prêmios mais importantes de sua carreira, como o doador principal do pequeno Museu do Charque, empreendimento de um grupo de abnegados que tenta manter viva em Pelotas a herança da atividade que engendrou a própria cidade. Henrique acabou doando para o Museu farto material do filme, como a maquete da charqueada realizada a partir da gravura clássica de 1828 de Jean-Baptiste Débret , adereços e figurinos. O espaço expositivo do Museu do Charque está localizado atualmente nas dependências da Charqueada Santa Rita, bela pousada às margens do arroio Pelotas, e recebe muitos visitantes.

A amizade entre o cineasta e o artista, hoje com 87 anos completos e em plena atividade, gerou a belíssima abertura do filme com versão em série de televisão Contos Gauchescos, que tem estreia prevista para setembro de 2012. A partir de desenhos de Danúbio, as imagens foram animadas e musicadas por Sérgio Rojas, que compôs especialmente a Milonga para João Simões Lopes Neto, gravada com a participação da gaita de Renato Borghetti. Inscrito no Festival de Gramado entre os curtas metragens gaúchos de 2009, o episódio Jogo do Osso garantiu a Rojas o prêmio de Melhor Música.

A convivência fez Danúbio revelar o desejo de ter sua trajetória documentada e convidasse Henrique a fazê-lo. O convite foi aceito e o filme está chegando às telas.

Ficha Técnica

Produzido e dirigido por Henrique de Freitas Lima

Roteiro: Henrique de Freitas Lima e Pedro Zimmermann

Fotografia e câmera: Eduardo Amorim

Direção de produção: Gina O’Donnell

Montagem: Pedro Zimmermann e Eduardo Pua

Música: Felipe Azevedo

Edição de som: Kiko Ferraz

Produção México: Aurelie Semichon e Francisco Montellano

Coordenação administrativa: Carmem Curval

Secretaria de produção: Raquel Matos e Fernanda Guimarães

Produtores associados: Start Vídeo Produções, APEMA, Drops Mídias Digitais, Animake e Filmoteca da UNAM – México

Algumas opiniões sobre o filme:
“Para incidir deliberadamente no lugar-comum, este documentário é um retrato de corpo inteiro. Precisávamos disso, Danúbio precisava, o Rio Grande também.”

Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor

“É um filme emocionante, pois amoroso da existência de um homem e um artista. Por sorte, trata-se do homem mais simples do mundo, que se apresenta desta maneira, como um tarefeiro. Chegou no planeta, preparou-se e toda a vida foi dedicada a este ofício. A inteireza do Danúbio é verdadeiramente tocante”.

Jacob Klintowitz, crítico de arte

“O conjunto, costurado por bela música, imagens e paisagens encantadoras, que se refletem muitas vezes, surge temperado com equilíbrio entre palavra e silêncios, emoldurando o homem e o artista na história da nossa cultura. Um belo resultado”.

Débora Mutter, doutora em literatura

“Está registrada importante memória de capítulo dos mais significativos das artes do Rio Grande do Sul”.

Evelyn Berg Ioschpe, crítica de arte e gestora cultural


Programação dos cinemas

Instituto NT – sessões às 13h

Sala Norberto Lubisco – sessões às 17h20min



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