Documentário do Argus Montenegro terá sessão no RJ

A personalidade gaúcha Argus Montenegro, um dos bateristas mais virtuosos do Brasil e do mundo, poderá ser conhecida pelos cariocas no documentário Argus Montenegro & a Instabilidade do Tempo Forte, realizado pela Artéria Filmes e Okna Produções. O diretor do longa-metragem, Pedro Isaías Lucas, participará dessa exibição especial e gratuita realizada para convidados que ocorre, dia 29 de novembro na Estação Sesc Rio – sala 3, às 21h30. Essa sessão tem o apoio da Maracatu Brasil, através do músico Guto Goffi - baterista do Barão Vermelho - que também estará presente no evento, assim como o filho de Argus, Zé Montenegro que fará uma apresentação solo de bateria.

No cenário musical, Argus é cultuado. Ele acompanhou grandes nomes da música nacional que - de passagem pelo Rio Grande do Sul nos anos 60 – contratavam-no como baterista para os shows locais. Foi assim que ele teve a oportunidade de tocar com Carlos Lyra e Elis Regina e outros. Também foi professor e ensinou talentosos bateristas do cenário musical brasileiro, incluindo Kiko Freitas, Nenê, Daniel Batera. Embora tenha vivido no ostracismo em sua própria cidade natal, Porto Alegre, Argus alcançou reconhecimento internacional, principalmente nos Estados Unidos, onde foi convidado a morar, tocar e ensinar música.


O diretor Pedro Isaías Lucas acompanhou os últimos sete anos de vida de Argus. As gravações do filme ocorreram, em sua maioria, na casa do baterista, no bairro Glória, em Porto Alegre. Ele conta histórias e apresenta composições, narrando sua trajetória e a da música no Brasil dos últimos cinqüenta anos.

O documentário resgata a importância de Argus Montenegro e reafirma as raízes do instrumento bateria, suas possibilidades rítmicas, sua poética e sua contribuição à cultura musical brasileira e internacional. O projeto tem patrocínio da NET e Intral, através da Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul (LIC/RS) e recebeu recursos do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Fumproarte).

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Sinopse: Argus Montenegro, um mito da bateria, enfrenta o anonimato na velhice e narra 50 anos na música brasileira: De Lupcínio Rodrigues à Elis Regina, do samba canção à Bossa Nova, dos aplausos, do ostracismo. Ele resiste à passagem do tempo vivendo intensamente os dias que lhe restam. Para seguir tocando bateria, ele precisará tomar decisões radicais sem temer a instabilidade.
Sobre a Okna Produções: É um bureau de produção especializado no desenvolvimento de produtos audiovisuais para todas as plataformas de mídia. A empresa tem em seu catálogo uma gama de diferentes estilos e olhares gerados através da gestão de projetos e de talentos. Atualmente, realiza vários filmes para cinema e televisão. Em 2011, a Okna completa cinco anos de atuação. Nesse período, a empresa produziu 18 filmes – 9 curtas, 5 médias e 4 longas-metragens – que já arrebataram 37 prêmios e participaram de mais de cem festivais nacionais e internacionais. A produtora se destaca por ter sido selecionada para participar dos mais importantes espaços voltados à inserção de projetos no mercado internacional.
Dados biográficos de ARGUS MONTENEGRO: Argus Montenegro começou a tocar bateria na metade da década de 50, em uma época em que não havia disc jokey animando bailes juvenis e as músicas eram executadas ao vivo em clubes, bares, confeitarias e boates. Por esse motivo, existia um razoável mercado de trabalho para os músicos. A televisão ainda era um veículo em afirmação e o grande meio de difusão era o rádio. A música brasileira sofria grande influência do bolero, um ritmo mexicano com harmonias e letras melancólicas, que exerceu forte influência sobre o samba canção.
Nessa época Argus, depois de tocar numa boate do centro da cidade, foi chamado por um amigo para ver um baiano tocando violão num clube próximo dali. Era João Gilberto acompanhado apenas por uma caxeta. O ano era 1956 e o cantor ainda estava desenvolvendo o método de tocar e cantar, que tanto o consagraram posteriormente. O fato repercutiu na vida desse baterista jovem, que tocava bolero e samba canção, estilos que nada tinham a ver com a sua personalidade e a sua idade.
Ele só foi entender melhor o que havia assistido quando ouviu pelo rádio Tito Madi cantando Chega de Saudade, acompanhado pelo baterista Edson Machado, que fazia a levada de samba no prato enquanto marcava no aro da caixa a batida de caxeta. Possuidor de uma aptidão pessoal, Argus desenvolveu rapidamente essa maneira de tocar bateria, incrementando ao seu modo o groove que veio a ser conhecido como Bossa Nova anos mais tarde.
No início dos anos 60 ele já acompanhava grandes nomes da música nacional, que, de passagem pelo Rio Grande do Sul, contratavam-no como baterista para os shows locais. Foi assim que ele teve a oportunidade de tocar com Lúcio Alves, Dick Farney, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Carlos Lyra, Elis Regina e outros.
                      
A partir da aceitação internacional da Bossa Nova, surgiu um interesse por músicos brasileiros sem precedentes no exterior. Em 1969 Argus, aproveitando essa nova demanda, embarcou em um navio transatlântico como músico de bordo integrando um quinteto formado por saxofone, piano, baixo, bateria e vibrafone. Na América Central ele buscou interação com os músicos locais de Kingston, Trinidad, San Tomaz, Guadalupe, Porto Royal... onde sua música sofreu forte influência dos ritmos afro-caribenhos. Quando retornou para o Brasil, deparou-se com uma situação musical muito diferente daquela anterior a sua viagem. Sem espaço para a sua música no mercado nacional, restou-lhe o trabalho de professor do instrumento a que dedicara toda a sua vida.
O filme acompanha o convalescimento desse baterista, que não aceitou as transformações do mercado musical nas últimas décadas, e se recusou a deixar de tocar por falta de espaço para o estilo de música que praticava: Bossa Nova, Jazz e Música Centro-Americana. É nesse momento que o filme deixa de tratar do passado e revela a progressiva obsessão de Argus pela música e pela bateria, situação que o leva a se refugiar em uma realidade alternativa, que afeta drasticamente sua vida pessoal. Argus faleceu no ano de 2008.

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