Leia a crítica de "Um Porto Seguro"

Tem coisas que grudam, mas não incomodam. Já outras, são melecas grudentas que dão enjoo. Nicholas Sparks é assim. Seus livros, vertidos para a tela grande, são uma grande massa disforme de clichês, pieguices e situações improváveis que parecem ser um remix de todas aquelas histórias dos livros "Sabrina", "Bianca" e "Júlia", que faziam as alegrias das adolescentes nos anos 80. O pior daquelas revistinhas de verão (como elas gostavam de levar para a praia!) está sintetizado num romance de Sparks. Ele já nos fez chorar em filmes como Diário de uma Paixão e Um Homem de Sorte, e até então aguentamos. Mas foi com Um Porto Seguro, em cartaz nos cinemas brasileiros, que ele se superou. Primeiro, porque colocou a última pá de terra em cima da carreira do cineasta sueco Lasse Hallström, que fez um dos filmes mais marcantes dos anos 80 (de novo eles), Minha Vida de Cachorro, e depois, em solo americano, comandou boas obras como Regras da Vida, com Michael Caine, e Chocolate, com Juliette Binoche. Tudo bem, ele já demonstrava uma certa tendência pelo melodrama exagerado, e tanto que já aceitou fazer outra obra de Sparks, Querido John. Agora, a dupla extrapola toda pieguice possível encontrável em 24 quadros.

Embarquei na história sem saber muito, como gosto de fazer. Até para não formar pré-conceitos. Fui motivado pelo argumento de uma mulher (Julianne Hough, de Footloose e Rock of Ages) que esconde algum segredo e recomeça sua vida numa pequena cidade portuária, até que se apaixona por um viúvo (Josh Duhamel, da série Transformers) que lida com o desafio de criar dois filhos pequenos. Essa trama mista de suspense e romance se transforma em algo inacreditável. Da metade do filme em diante, cada cena é embasbacante - e isso não é um elogio. O filme surpreende, de tão inverossímil, e se torna divertido, até certo ponto, quando começamos a adivinhar as falas que se seguem, e realmente acontecem. Acertamos em cheio! É um absurdo recheado de cafonice e improbabilidades. Dá vontade de sair gritando do cinema: "socooooooorrroooo!!!!".

ATENÇÃO SPOILER - NÃO SIGA LENDO SE NÃO QUISER ESTRAGAR (UM FILME QUE JÁ SE ESTRAGOU POR NATUREZA)
     

Um segredo que tenta "dar uma virada" e acaba mostrando um personagem patético, o de um policial alcoólatra que se torna violento, perseguindo a "mocinha", e não morre nunca, ressurge até das águas - dando aquele sustinho característico na plateia.

O pior, no entanto, é o viúvo bonitão, que encanta todos (numa atuação terrível de Duhamel), leva uma dura da donzela, até que ela cede, até por causa da torcida da filha menor. Mas aí vem um incêndio (??) e ela e a garotinha têm que fugir pelo teto...meu Deus. E não acreditei quando tudo passou, o viúvo vem e entrega uma carta (eu disse baixinho "não, não pode ser o que penso que é") para ela. A missiva era escrita em vida pela primeira mulher, endereçada à mulher que ele viria se apaixonar. "Se ele entregou esta carta para você, é porque ele realmente a ama". Socooooorrro!!!!

Vocês conseguem entender o meu sofrimento, a minha agonia, a esta altura dos acontecimentos? O espetáculo foi ficando cada vez mais dantesco, saindo da mesmice ao engraçado, passando pelo sofrível mas chegando na catástrofe fílmica.

É claro que Hallström dirige bem, tem um bom pulso, ótimos enquadramentos, paisagens, mas filmou uma história minúscula que, óbvio, só lhe deu dinheiro. A protagonista Julianne, revelada na TV por programas como Dancing with Stars, é menos pior, pois ganha pelo carisma. Mas aqui está de doer. E ela tem potencial, porque dentro da sua breguice ela estava bem em Rock of Ages, cujo papel não se distanciava muito desse, da mocinha indefesa, ingênua e apaixonada. Uma vítima, no final das contas (no remake de Footloose ela também encarnou algo parecido).

Gente, nem pra DVD, daqueles que a gente ganha de graça com revistas. Prefiro Sabrina.

Confira o trailer:


      

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