Um plano para os próximos 20 anos de Gramado

Se existem - pouquíssimas - reclamações em relação à cidade de Gramado, na serra gaúcha, uma delas é a questão do trânsito. A cidade não tem sinaleiras (semáforos) e semente cruzamentos e rótulas. Nas altas temporadas e fins de semana, a população de carros cresce consideravelmente e o fluxo trava bastante. Várias administrações vêm tentando resolver o problema - assim com milhares de outras cidades no mundo com o mesmo desafio -, lidando com o parquímetro, estacionamento rotativo, etc. Mas cada vez temos mais carros e não há como abrir mais ruas em Gramado. Por isso, começou-se a pensar a cidade nesta e outras questões estratégicas para os próximos 20 anos. Com apoio do arquiteto e urbanista argentino Rubén Pesci (foto), a administração busca alternativas para o desenvolvimento sustentável, incluindo a questão da mobilidade urbana.

Focada em alternativas para o desenvolvimento, turismo e mobilidade urbana, mas tudo com o olhar sustentável, a prefeitura contratou a consultoria internacional de Pesci, que já executou trabalhos em diversas cidades do Brasil e exterior. O argentino tem estado em Gramado para ajudar a criar soluções que não sejam temporárias, mas sim definitivas no que tange principalmente à forma como Gramado tratou durante anos as questões relativas ao crescimento. Pesci e sua equipe inciaram os trabalhos de diagnóstico no final de 2017 e pelos próximos seis meses trabalharão a criação de uma agenda estratégica de desenvolvimento sustentável e mobilidade urbana para a região. Os estudos de campo já começaram.

"É uma iniciativa de grande importância em Gramado. Esperamos contribuir com o nosso conhecimento técnico, pois temos quarenta anos de experiência em diversas cidades, como Porto Alegre, Florianópolis, e em outros países do mundo. A razão fundamental do nosso projeto é repensar o desenvolvimento de Gramado. Esta cidade tem um eixo que é muito importante, que é o turismo, mas também precisamos pensar nas questões de mobilidade urbana, de qualidade de vida no geral, nas questões de meio ambiente e da conservação da paisagem. Esperamos trazer resultados históricos para Gramado", disse o arquiteto.

A comunidade será convidada a participar ativamente da agenda estratégica, que pretende ter suas atividades finalizadas no mês de maio de 2018. Durante o próximo ano, três oficinas serão ministradas aos moradores, com o intuito de dar voz à população.

O plano desenvolvido em conjunto por Pesci e a administração municipal contempla diversos itens que enfatizam principalmente a mobilidade urbana e o transporte público, mas passam também pelo meio ambiente e pela própria economia de Gramado. "O meio ambiente e a economia são dois itens importantíssimos. Sem a dinamização da economia, temos vários problemas que são graves para a cidade, como o desemprego, por exemplo. E se não cuidarmos do meio ambiente, perderemos a nossa paisagem, e perdendo a nossa paisagem, perderemos o nosso turismo. Durante três dias em Gramado, não consegui ver a paisagem da cidade, e às vezes me sinto no centro de Porto Alegre. Isso não pode acontecer aqui", enfatizou o especialista. Veja alguns tópicos do plano elencados por Pesci:

TURISMO

Enfatizar, além do modelo atual de turismo, que traz diversas pessoas nos finais de semana para nossa cidade, o turismo de experiência e do patrimônio cultural e paisagístico de Gramado. Também criar maneiras para que Gramado seja um centro de congressos e de ciência.

MOBILIDADE

Criar novos critérios de mobilidade urbana que contemplem maior uso de meios de transporte público, bicicletas, áreas de estacionamento que incentivem o turismo pedestre, além de redistribuir o trânsito que passa pelo centro de Gramado por outras áreas através da continuação da perimetral.

MEIO AMBIENTE

Conservar nossa beleza natural e recuperar a paisagem que foi perdida ao longo dos últimos anos. Além disso, incentivar o turismo rural para criar experiências diferentes aos visitantes de Gramado.

Rubén Pesci é um arquiteto e urbanista argentino formado na Universidade Nacional de La Plata, com pós-graduação em Roma e Veneza, na Itália, atualmente doutorando em planejamento urbano na Universidade Politécnica de Madrid. É professor nas Universidades de La Plata, Mar del Plata, Belgrano, Mendoza e San Miguel de Tucumán, na Argentina. É fundador e presidente da Fundação CEPA – Centro de Estudos e Projetos do Ambiente e do Foro Latinoamericano de Ciências Ambientais (FLACAM). Possui seis prêmios internacionais, 16 livros publicados e centenas de artigos em 10 países.

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