Uma análise sobre os vencedores do Oscar 2020

O diretor de PARASITA, Bong Joon Ho
Pela primeira vez em muitos anos não escrevi nada após a cerimônia do Oscar, e deixei para escrever nesta manhã. Não me senti muito empolgado e tinha coisa melhor pra fazer depois das duas da madrugada. E também resolvi ir direto ao assunto, em tópicos:

- PARASITA não merecia o Oscar de melhor filme. Roteiro e melhor filme internacional (categoria mudou de nome) estavam de bom tamanho. É um
filme redondo, bem cuidado, fechadinho, sem pontas soltas. Mas desnecessário dar a estatueta de melhor diretor para Bong Joon Ho quando Martin Scorsese e Sam Mendes estavam ali, com trabalhos magníficos na posição de diretor. Filme? Pelamor. 1917, Ford Vs Ferrari e até O Irlandês (com o qual tenho minhas reservas) eram melhores. Mais filme, no sentido literal da expressão. Claro, há uma vibração pelos coreanos estarem ali no palco dando tapas na cara do cinema americano. Afinal, a Academia concluiu que a melhor produção do ano não é dos EUA. E abriu uma página na história, com um longa não falado em inglês ganhando a categoria máxima. Isso é maravilhoso. Mas não vou aderir à comoção geral a ponto de perder os critérios. PARASITA é um filme nota 8 ou 9.

- Aliás, o próprio cineasta coreano parece ter se constrangido com o prêmio de melhor diretor. Foi bastante humilde, destacando um ensinamento de Martin Scorsese, que ficou sem graça quando o público levantou para aplaudi-lo de pé, como se todos dissessem “era você que tinha que estar lá pegando a estatueta!” Bong também elogiou Tarantino, Todd Philips e Sam Mendes, quase se desculpando e dizendo que o melhor era serrar o troféu e dividir entre todos - o que não seria má ideia. A Academia poderia ter providenciado durante a noite alguns empates, como já fez no passado.

- Foi bonito de ver a cerimônia começando com uma certa supremacia das animações, gênero sempre subvalorizado: com o musical das dubladoras de Elza e o prêmio da categoria para TOY STORY 4.

- Já estou falando contra o prêmio de melhor ator coadjuvante para o Brad Pitt desde janeiro, quando ele ganhou o Globo de Ouro. É uma total cegueira premiar uma interpretação mediana quando há Hopkins, Pesci, Hanks e - meu Deus do céu - Pacino (a verdadeira alma de O Irlandês!). Não entendo porque essa adoração ao Brad nem ao seu papel nem ao filme do Tarantino - de quem sou fã contumaz -, que é decepcionante.

- Aliás o quarteto Joaquin Phoenix (melhor ator, merecidíssimo), Renée Zellweger (melhor atriz, compreensível, mas não era minha preferida), Laura Dern (coadjuvante, prêmio correto) e o Brad, vieram ganhando tudo em todas as premiações e favoritos desde sempre.

- Ninguém entendeu nada com o Anthony Ramos no meio da plateia, se apresentando e cumprimentando Laura Dern pelo prêmio recebido (?) e em seguida chamando no palco o Lin-Manuel Miranda. Pareceu que o Ramos era filho de alguém poderoso e alguém disse “temos que enfiar o rapaz em algum lugar”.

- Um dos pontos altos foi a excelente montagem das cenas dos filmes e suas músicas marcantes, com Eminem ao vivo no palco, ao final da edição. O rapper estava meio barrigudo, mas de uma agitada na plateia.

- Também ninguém entendeu o musical de uma das voltas do intervalo, com outro rapper (mais um), antes de ser anunciado o vencedor do melhor diretor de fotografia, que foi para Roger Deakins, pelo seu brilhante trabalho em 1917.

- A cerimônia aliás valorizou bastante os números musicais, as canções e as trilhas sonoras concorrentes (até uma maestrina pela primeira vez regeu a orquestra do Oscar), mas as apresentações foram irregulares e em muitas a qualidade do som ao vivo não estava boa - por incrível que pareça!

- Até mesmo meu ídolo Elton John foi prejudicado pela qualidade de som, mas mesmo sendo sua canção do filme ROCKETMAN não ser grande coisa, levou o Oscar, dando algum prêmio para o filme sobre a sua vida. Os discursos de agradecimento dele e de Bernie Taupin foram mais divertidos.

- Houve um momento “empoderamento” quando Brie Larson, Gal Gadot e Sigourney Weaver surgiram lindas no palco (os vestidos de Gal e Brie deixaram Sigourney mais brilhante e elegante) para anunciar a tal maestrina. A Academia já se vacinou pelas críticas de não ter mulheres indicadas ao Oscar de Melhor Diretor. Natalie Portman se deu ao trabalho de ir com uma capa preta sobre seu vestido com o nome de cineastas mulheres que poderiam ter sido indicadas. Menos, né?

- A cantora Billie Eilish, premiadíssima no Grammy em janeiro, destruiu o clássico dos Beatles, “Yesterday”, durante a homenagem aos artistas que faleceram - momento sempre emocionante, que lembramos de Doris Day, Kirk Douglas e tantos outros.

- O casal Obama, produtores de AMERICAN FACTORY, ganharam o prêmio de melhor documentário e tiraram de Petra Costa e metade do Brasil a chance de trazer o Oscar pra casa. O que era pra ser uma coisa legal, ter um filme nosso concorrendo, DEMOCRACIA EM VERTIGEM virou mais uma briga ideológica nesse país que não vale a pena comentar. Tecnicamente o filme é competente, mas não é maravilhoso. Estava indicado muito mais por sua repercussão política do que por qualquer outro fator.

- Ninguém entendeu até agora o interminável discurso de Joaquin Phoenix (brincadeira, foi legal sim, bem positivo. Só estava um pouco desconexo, nervoso e hesitante. E looooooongo).

- Renée também foi longa e chata em seu agradecimento, mas pelo menos manteve o foco no prêmio e na festa em si.

- E a noite fechou com chave de ouro com a ativista presa várias vezes Jane Fonda, maravilhosa do alto dos seus 82 anos.

- Fiquei espantado com a péssima qualidade das transmissões da Globo e da TNT, e algumas lives que vi: a quantidade de pessoas falando mais do que o necessário, dando “suas próprias opiniões” embasadas não sei em quê, um pessoal “moderninho” deslumbrado com o espaço e com um discurso superficial achando que está abafando. Deprimente. Senti falta do Rubens Ewald Filho, que às vezes era inoportuno, mas falava com propriedade e talento. Aliás a TNT fez uma chamada de homenagem a ele no intervalo que me pareceu uma provocação à Globo.

Esqueci alguma coisa? 😉

Confira a lista completa dos ganhadores do Oscar 2020 clicando aqui.

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