O exemplo de D'Alessandro

D'Alessandro (Foto Ricardo Duarte - CP)
Raramente falo de esporte, pois não entendo do assunto. Sou um zero à esquerda. Mas admiro o
futebol em algumas partidas, principalmente as decisivas. Também virei um fã do jogador D'Alessandro, pois meu pai me deixou de herança essa predileção pelo Internacional de Porto Alegre. Isso porque, do pouco que verso sobre a modalidade, acompanho jogadas incríveis, cobranças certeiras de falta e gols maravilhosos. De uns tempos pra cá, o argentino não é mais unanimidade entre a torcida colorada. Já fui muito criticado por defendê-lo, pois muitos sustentam que ele já deveria ter pendurado as chuteiras - literalmente. Apesar de "fiasquento", comprar muitas brigas desnecessárias e se irritar facilmente com os árbitros e com a imprensa, considero que o jogador ainda é uma peça essencial para a moral da equipe e para os resultados do time em campo. Mas entendo perfeitamente que não seja um consenso. E mais recentemente ainda, o artilheiro (92 gols) vai avançando na idade e coleciona mais críticos do que fãs.

Nesta sexta (13), ele deu um show de humildade, assertividade e resiliência - palavrinhas que estão muito na moda. Na entrevista coletiva para imprensa (link para assistir completa aqui) que concedeu no início da noite, D'Alessandro surpreendeu, por ter utilizado muita honestidade. Falou de sua idade, de experiência, e do papel que têm para conversar com os mais novos, disse que está num outro estágio da carreira ("vou fazer 39 anos daqui a 20 dias”) mas ressalta que segue com muita vontade de estar em campo, e jogando. Chegou a afirmar que o seu amigo Eduardo Coudet, o técnico do time, também de origem argentina, a quem chamou de "Muchacho" várias vezes, é quem sabe quem escalar, e é quem escolhe quem entra e quem sai e quanto tempo joga. "Ele sabe, ele me conhece: ele vê a minha cara e vê que não estou contente em ficar no banco. Mas sei que a decisão é do técnico". A humildade de D'Alessandro me surpreendeu ao confidenciar que "demorou para pensar assim", pois o tempo é que lhe deu a lição para entender que o treinador é quem decide. "Ele faz o que quer, pode me colocar para jogar 15, ou 20 minutos, eu estarei pronto..."

Ainda sobre a idade, o atleta declarou: "não posso ter a mesma vitalidade de quando eu tinha 25 anos. Ao mesmo tempo que ganho experiência, perco força física". E ainda provocou a imprensa, dizendo "vocês não podem comentar isso, eu sei." Impressionante a fala esclarecida do argentino sobre si mesmo, sobre sua condição e sua "finitude" no futebol. Afinal, é a idade e o baixo (palavra com a qual eu não concordo) rendimento do jogador são o principal alvo das críticas. "Eu me sento no banco e estou feliz".

BRIGA NO GRENAL

Sobre a vexaminosa briga entre jogadores no clássico Gre-Nal, D'Alessandro pediu desculpas aos torcedores, tanto gremistas quanto colorados pelo que aconteceu. Não criticou o técnico do Grêmio, Renato Portaluppi, que disse que a briga "sempre começa pelos colorados", Pelo contrário, Dale elogiou Renato e disse que recentemente ele tem falado muito as verdades. E ainda, ao condenar a briga, isentou a torcida e a imprensa nessas provocações. "O prejuízo maior, com esse tumulto, foi do Inter, porque estávamos melhor no jogo".   

Sobre o Coronavírus e o futebol, D'Alessandro opinou a favor da paralisação do futebol. "Assim como está acontecendo em todo mundo, parques da Disney, etc., penso que tinha que suspender. Mas não eu que decido, então vamos jogar", disse ele, se referindo aos jogos do Gauchão que acontecerão com portões fechados.

A lição dada pelo jogador é um exemplo para os mais novos e menos humildes. Inclusive para pessoas e profissionais fora do futebol. Achei incrível. "Não há o que fazer. Tenho que aceitar que o tempo passa. Faço parte de um grupo, e tenho que saber disso. Quando precisarem de mim, tenho que estar pronto."                 

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