Vinte anos depois, brasileiro vai ao pódio e enfim ganha prata de 2000

"É prata, é prata, é prata, é prata, é prata". A narração de Galvão Bueno tornou a final do 4x100m masculino dos Jogos Olímpicos de Sydney, no ano 2000, ainda mais histórica. Da voz dele saíram cinco pratas, mas só quatro foram entregues na Austrália. Um erro que só foi corrigido neste domingo (13), 20 anos depois, quando Cláudio Roberto de Souza subiu ao pódio para receber a medalha de prata que sempre foi sua por direito.

Uma competição de revezamento dos Jogos Olímpicos, seja no atletismo ou na natação, é composta de duas etapas. A eliminatória e a final. Todos os atletas que disputam qualquer uma dessas duas fases pelas equipes campeã, vice e terceira colocada têm direito à medalha. Na conta de 23 medalhas de ouro de Michael Phelps, por exemplo, entra a vitória no 4x100m medley de 2004, mesmo ele tendo participado apenas das eliminatórias.



Foto Wagner Carmo/CBAt

Acontece que, até hoje, nunca ninguém havia entregue a medalha de prata conquistada por Claudinho pelo resultado conquistado pelo Brasil no dia 30 de setembro de 2000. O piauiense, que tinha 27 anos à época, sempre foi tratado como "medalhista" tanto pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), onde tem direito a voto na assembleia, quanto pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). Mas nunca havia recebido a medalha.

"Já passei por muitas saias justas, momentos desagradáveis. De ir dar palestra como medalhista olímpico, a pessoa quer ver a medalha mais do que o próprio atleta. Aconteceu muitas vezes e eu tinha que explicar o que tinha acontecido. Agora eu posso levar, né? Há quatro anos o André (Domingos) me ofereceu a réplica da medalha, foi muito emocionante, uma cerimônia linda, e isso tirou um pouco do peso das minhas costas. Agora foi trocada a medalha, tô com a original mesmo, linda por sinal. E agora eu sou literalmente medalhista olímpico. Não que eu não fosse, mas agora eu posso falar com a autoestima lá em cima. É diferente", disse Claudinho ao Olhar Olímpico, já com a medalha no peito.

O fato de ele nunca ter recebido a medalha era conhecido tanto pelo COB quanto pela CBAt, mas a situação nunca foi resolvida, exceto pela solução paliativa encontrada em 2016 por André Domingos, que fez uma réplica da própria medalha e entregou ao amigo e ex-companheiro de seleção.

A lacuna só foi resolvida depois que uma equipe de reportagem da Rede Globo decidiu voltar ao assunto, questionando o COB e o Comitê Olímpico Internacional (COI). As duas entidades passaram a dialogar sobre o assunto e concordaram que Claudinho merecia não só uma medalha, mas uma cerimônia.

"Logo que soubemos dessa falha procuramos diminuir o erro. Consultamos o COI para ver a veracidade de toda a história, confirmar se fazia jus à medalha, em nenhum momento duvidamos, mas tínhamos que confirmar todas as informações. O COI reviu toda sua organização dos Jogos de 2000, viu que o Cláudio fazia jus e quando recebemos a informação a pandemia nos impediu de fazer a entrega rapidamente", explicou o campeão olímpico Rogério Sampaio, CEO do COB, que representou a entidade.

A medalha foi entregue no campo do Centro Olímpico de São Paulo, assim que se encerrou a última etapa do Troféu Brasil de Atletismo, disputado no mesmo local. Foi a única cerimônia de medalha olímpica do ano de 2020, que deveria ser olímpico, mas viu Tóquio-2020 ser adiada por causa da pandemia. Membro do COI, o brasileiro Bernard Rajzman foi o responsável por entregar a medalha de prata a Claudinho, que teve a companhia dos demais medalhistas: André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Luciano e Vicente Lenílson. Antes da cerimônia de pódio eles refizeram o revezamento, com Claudinho cruzando a linha de chegada.

"Para mim é um orgulho. Por ser medalhista olímpico, eu sei quanto foi importante na minha carreira. Depois, como membro do COI a quem estou representando aqui, onde a gente vai refazer uma falha ocorrida 20 anos atrás. Aquele ditado de antes tarde do que nunca prevaleceu", disse Bernard antes da cerimônia.

"Finalmente a medalha chegou. Eu não me arrependo de nada que fiz. Fui atrás dela do meu jeito, como tinha que ser. Sem agredir ninguém, sem fazer escândalo, sem criar polêmico, foi algo que aconteceu naturalmente. Sou muito grato ao COB, ao COI, à CBAt, à minha família, e principalmente aos meninos, André, Edson, Vicente, Claudinei, o Rafael Oliveira que era o outro reserva. Formamos uma equipe que foi medalha de prata", comentou Claudinho. Rafael não correu nem eliminatória nem final e, por isso, não faz jus à medalha.

"Tenho muito a agradecer a eles, ao Jayme (Netto, treinador da equipe), que fez essa equipe ficasse espetacular, e ao meu treinador (Katsuhiko) Nakaya, que foi o responsável por eu chegar na equipe e fazer parte dessa equipe. Agora é curtir o momento. Curtir, beijar a medalha. Agora posso fazer meu quadro de medalhas, porque não tinha sentido, uma tava faltando. Agora eu posso fazer e exibi-la."

Notícia original no site do UOL.

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