Abertura de empresas no RS cresce 5% em 2020 puxada por empreendedores individuais

Em ano marcado pela pandemia, o número de empresas criadas no Estado voltou a subir. Em 2020, 196,3 mil novos negócios foram registrados na Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). A marca representa crescimento de 5,1% em relação a 2019. Naquele período, 186,7 mil empresas abriram as portas. Ou seja, 9,6 mil a menos do que em 2020.


Foto divulgação - Leandro Osório/Palácio Piratini


O número do ano passado é o maior da série histórica disponível no site da Junta Comercial — há estatísticas desde 2003 no endereço. A título de comparação, é como se, em 2020, quase toda a população de Passo Fundo (204,7 mil habitantes), no norte gaúcho, resolvesse apostar em negócios próprios.

Conforme analistas, parte da alta pode ser explicada por efeitos da crise econômica. Com a chegada do coronavírus, trabalhadores perderam o emprego em 2020, especialmente no primeiro semestre. Sem vislumbrar novas oportunidades, uma parcela dos desempregados pode ter tentado a sorte com a criação de uma empresa. São os chamados empreendedores por necessidade.

Um sinal desse fenômeno está na natureza jurídica dos negócios iniciados no ano passado. Do total de 196,3 mil, 160 mil (81,5%) foram abertos por microempreendedores individuais (MEIs). Em 2019, o Estado teve o registro de 152,3 mil MEIs. Ou seja, o grupo cresceu 5% de um ano para o outro.

A lei que criou a figura do MEI entrou em vigor no país em 2009. Entre outras características, o microempreendedor pode ter faturamento anual de até R$ 81 mil e, no máximo, um empregado.

— Existe o fenômeno do empreendedor por necessidade. Ao perder o emprego, uma pessoa ganha uma indenização e pode usar o dinheiro para abrir um negócio. Além disso, há uma tendência de "pejotização". Muitas áreas da economia buscam profissionais para determinados contratos, sem vínculos trabalhistas mais longos. O MEI facilita esse tipo de contratação — explica o professor Gustavo Inácio de Moraes, da Escola de Negócios da PUCRS.

O economista, contudo, lembra que há riscos envolvidos nessas decisões. Um deles é o fato de os negócios não prosperarem em muitas ocasiões, diz o professor.

Isenção de taxas

Depois dos MEIs, as sociedades limitadas (LTDA) responderam pelo segundo maior número de novas empresas gaúchas em 2020. Foram 22,9 mil nessa figura jurídica, avanço de 52,9% frente ao ano anterior (quase 15 mil). Em um negócio sob a forma LTDA, a participação dos sócios é limitada ao capital investido na companhia.

Presidente da JucisRS, Lauren de Vargas Momback afirma que a elevação no número de novas empresas também está relacionada a ações adotadas pelo governo estadual para enfrentar a crise. Nesse sentido, Lauren sublinha que, em outubro, a Junta Comercial suspendeu, por 90 dias, a cobrança das taxas de abertura de negócios em quatro modalidades jurídicas — LTDA, Eireli, empresário individual e cooperativa.

— A isenção é um dos fatos que proporcionaram o aumento no número de novas empresas — pontua a presidente.

Durante a pandemia, o Rio Grande do Sul não ficou imune ao fechamento de lojas e indústrias. Com a paralisação de atividades produtivas para frear a covid-19, negócios de diversos setores não tiveram fôlego financeiro para aguentar a crise e foram obrigados a encerrar as operações. Entretanto, o fechamento de empresas ainda não aparece com tanta força nas estatísticas da JucisRS. 

É que, em parte dos casos, os trâmites que envolvem o término ou a falência dos negócios podem demorar. Quando isso acontece, os fechamentos levam mais tempo para serem detectados nas estatísticas oficiais. 

Conforme os dados já disponíveis no site da Junta Comercial, pelo menos 65,9 mil negócios foram extintos no Estado em 2020. O número é 7,1% menor do que o apurado em 2019 (71 mil).


Notícia original em GZH.



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