ARTIGO: Dá para tirar algo bom do que é ruim?

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O texto de hoje é do professor da Escola de Administração da UFRGS Luis Felipe Nascimento.



Dá para tirar algo bom do que é ruim?

Estamos sofrendo os impactos da disseminação do coronavírus e, não obstante, muito se fala em como será o mundo pós-pandemia. Ao invés de previsões, prefiro fazer perguntas e apresentar cenários para a sua reflexão. Há quem diga que três meses depois do fim da pandemia tudo vai voltar ao que conhecíamos como “normal” e voltaremos a viver como antes. Outros falam no “novo normal”, em que teremos comportamento diferente do passado.

Existem ainda os que preveem um período “anormal”, em que as pessoas vão querer recuperar o “tempo perdido” durante o isolamento social com muitas festas e uma explosão de consumo, o que traria como consequência o endividamento de camadas da população. Além disso, uma vez passado o medo, haveria um certo enfraquecimento da religiosidade nesse cenário. Eu acredito que essas três possibilidades, “normal”, “novo normal” e “anormal”, podem ocorrer de forma simultânea.

O que se sabe é que negócios fecharam durante a pandemia, pessoas perderam seus empregos e a economia aprofundou sua crise. Ocorreram muitas ações solidárias de pessoas físicas e empresas nesse período e, no que se refere ao à tecnologia, intensificou-se a utilização de plataformas on-line para trabalhar e estudar à distância. O que disso vai mudar quando estivermos vacinados? Diante da crise, vamos voltar mais solidários ou esqueceremos rapidamente o que foi feito? Vamos seguir utilizando o trabalho e aulas remotas, migraremos para um modelo híbrido ou voltaremos ao que era “normal”? Vamos lembrar do que as empresas fizeram por nós durante a pandemia?

A Covid-19 acelerou alguns processos que já vinham ocorrendo e mostrou a insustentabilidade do nosso modelo econômico, bem como a fragilidade das nossas políticas de saúde pública. Além disso, impactos do coronavírus foram potencializados devido à existência de problemas sociais que se manifestam na forma de doenças crônicas. É por isso que alguns cientistas não utilizam mais o termo “pandemia”, mas “sindemia” para fazer referência ao período atual, já que o conceito de sindemia implica na interação entre fatores biológicos e sociais. 

Segundo o artigo “COVID-19 não é uma pandemia”, publicado na Revista The Lancet, o número de pessoas com doenças como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares vem crescendo também por conta das desigualdades socioeconômica. Então pergunto: estaremos protegidos dos próximos vírus enquanto esse quadro persistir?  

Junto da desigualdade social há a questão ecológica: antes da pandemia a humanidade já havia entrado no “cheque especial ambiental” com o planeta, gastando mais recursos naturais do que a Terra pode oferecer. No cenário pós-pandemia, contudo, será necessário criar empregos e reaquecer a economia. Isso significa retomar a economia tradicional intensiva em carbono? Ou uma nova economia que seja regenerativa, estimulando a sustentabilidade? De que forma fazer isso?

A espécie humana faz parte da natureza e precisa dela para sobreviver, mas homem esqueceu da convivência harmônica com os ecossistemas para que estes sejam produtivos e se mantenham saudáveis. A resposta deles tem sido por meio de tragédias ambientais cada vez maiores com consequências econômicas terríveis. Durante a pandemia os ecossistemas respiraram mais aliviados. Será que aprendemos a lição?

Por fim, o que podemos fazer agora e no pós-pandemia? Podemos cuidar da nossa saúde física e emocional, cuidar de quem precisa mais do que nós, ajudar no surgimento e fortalecimento dos pequenos negócios, pensar no impacto de tudo o que fazemos sobre os ecossistemas e como podemos ajuda-los em sua recuperação. Se fizermos isso, estaremos tirando algo bom do que foi tão ruim para todos nós.


Luis Felipe Nascimento é Professor na 
Escola de Administração da UFRGS.
Contato: nascimentolf@gmail.com




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