A experiência do Oscar 2021: confira a nossa opinião sobre a premiação

A nonagésima terceira edição do Oscar, o maior prêmio da indústria do cinema, trouxe dois pontos positivos para o mundo inteiro observar: uma experiência interessante de evento, depois de tantas premiações virtuais. O Oscar insistiu no presencial e, mesmo com alguns riscos, permitiu um número limitado de pessoas: apenas os indicados e um convidado para cada um. Além de um tapete vermelho em um cenário ao ar livre bastante arejado, a festa usou muito pouco a transmissão pela internet, tendo apenas alguns pontos ao vivo em determinados lugares do mundo.

Reprodução site oficial Oscars.com


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood avisou que quem apareceu na transmissão sem máscara é porque estava imunizado e autorizado a circular dessa maneira. A cerimônia também prestou uma grande homenagem a todos os profissionais de saúde do planeta, que seguem empenhados na guerra contra a pandemia, atuando em hospitais, clínicas e setores de emergência em vários países.  

Os musicais das canções indicadas aconteceram antes, de forma pré-gravada, como mais uma medida de segurança sanitária. Isso também deixou o evento mais ágil e mais curto, para que as pessoas ficassem menos expostas ao vírus.  

Além disso, outra bela homenagem foi feita àqueles que se foram em tempos de pandemia. O momento tradicional de relembrar as pessoas falecidas da indústria do cinema mostrou um nome a cada segundo, tamanha a lista que tínhamos para relembrar e, encerrando gloriosamente com Sean Connery e Chadwick Boseman (ator de Pantera Negra, que teve indicação póstuma por A Voz Suprema do Blues e que faleceu de câncer aos 43 anos em agosto passado).              

O segundo ponto positivo da festa foi a premiação para a diversidade: neste ano em que os filmes foram vistos por todo mundo em casa, os recordes de indicações de mulheres, negros, asiáticos e até mesmo muçulmanos, foram batidos. O melhor filme da noite, Nomadland, premiou também a diretora Chloe Zang, que passa a ser segunda mulher a vencer nesta categoria e a primeira mulher não-branca a erguer a estatueta. Atores negros como Daniel Kaluuya e a coreana Yuh-Jung Youn também fizeram história ao serem premiados. Aliás, ela foi a primeira coreana a vencer numa categoria do Oscar.

A deficiência auditiva também foi destaque nesse clima de "inclusão": o filme O Som do Silêncio, que trata do assunto ao mostrar um baterista que vai ficando surdo, teve dois prêmios técnicos. E o ator muçulmano Riz Ahmed foi um dos apresentadores da noite, anunciando inclusive a vitória ao próprio filme na categoria de som - uma fantástica ligação com o assunto e o título do filme. A atriz surda Marlee Matlin, premiada em 1987 pelo filme Filhos do Silêncio, também apareceu na transmissão como uma das apresentadoras, comunicando-se através da linguagem dos sinais.  

Em tempos de tanta violência policial nos Estados Unidos, especialmente contra os negros, os temas de valorização racial estiveram em muitos filmes, como A Voz Suprema do Blues, Judas e o Messias Negro, Os 7 de Chicago, Estados Unidos vs. Billie Holliday, Uma Noite em Miami, a animação vencedora Soul e o curta metragem vencedor Dois Estranhos, onde a tensão de um policial perseguindo um cidadão negro toma conta de seus 32 minutos.


Opinião do nosso editor Renato Martins

E os prêmios? Bom, foi maravilhoso que a diversidade finalmente tenha aterrissado na academia - e espero que para ficar - e distribuir indicações para mulheres, negros, asiáticos, muçulmanos e bater alguns recordes em relação a isso, premiando vários deles. NOMADLAND foi superestimado, MANK subestimado, Anthony Hopkins como melhor ator foi uma justiça surpreendente, porque todos achavam que Chadwick levaria post mortem. Achei que faltou valorizar OS 7 DE CHICAGO, a música da Laura Pausini era a melhor e fiquei contente pelo destaque dado a O SOM DO SILÊNCIO, da animação SOUL e do curta DOIS ESTRANHOS. 

Ainda assim, vale lembrar o que já disse por aqui: esse ano de streaming deixou a qualidade dos filmes lá embaixo. Os títulos dessa 93ª edição do Oscar nem de longe chegou aos pés de grandes premiados como O ÚLTIMO IMPERADOR, KRAMER VS KRAMER, O PODEROSO CHEFÃO, LAWRENCE DA ARÁBIA, A PONTE DO RIO KWAI, E O VENTO LEVOU e os mais recentes GLADIADOR, BELEZA AMERICANA, FORREST GUMP, O SILÊNCIO DOS INOCENTES, GANDHI, RAIN MAN e tantos outros. Pare para pensar.

No mais, as tentativas de deixar a cerimônia mais informal foram feitas com a habitual falta de graça dos americanos, tentando inventar piadinhas e esquetes planejados demais para parecerem naturais. Até mesmo Glenn Close dando um show num jogo de adivinhação sobre músicas e dançando e rebolando a coreografia em questão (obviamente tudo ensaiado), pode ter sido engraçado, mas soou como um prêmio de consolação porque ela não ganhou a estatueta em sua sétima indicação (perdeu para a coreana Youn Yuh-jung, que mal sabia falar inglês no seu agradecimento, mas um prêmio merecidíssimo, já que ela é um dos pontos altos de MINARI).   

Enfim, espero que essas transformações todas - estruturais e conceituais - ajudem a melhorar o Oscar. Como tantas coisas nessa pandemia, a maior festa de premiação da indústria do cinema também vai precisar se reinventar para sobreviver, pois há muito já perdeu sua credibilidade - e o seu rebolado, aproveitando o ensejo.      

Da Redação da Rede #AtitudePositiva 



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