Após vacinação, mortes de idosos com mais de 80 anos por coronavírus recuam 41% no RS

Passados pouco mais de três meses desde o início da vacinação no Rio Grande do Sul, a proporção de idosos com mais de 80 anos entre as vítimas da covid-19 apresenta sinais de queda. O percentual de vítimas nessa faixa etária — entre as primeiras a serem atendidas no Estado pela campanha de imunização — caiu 41% entre março e abril, em comparação com os primeiros 30 dias de distribuição das vacinas aos municípios gaúchos. 

Essa população respondeu por 27% dos óbitos por coronavírus no período entre 19 de janeiro, quando os produtos começaram a ser entregues às prefeituras para aplicação, e 19 de fevereiro — quando ainda não havia tempo suficiente para os imunizantes garantirem proteção. Em um período equivalente entre 19 de março e 19 de abril, três meses mais tarde, essa parcela recuou para 16%. 

Reprodução Site GZH


O presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm), Juarez Cunha, afirma que é preciso analisar os números com prudência por ser necessário um prazo ainda mais longo para uma avaliação definitiva, mas considera que o cenário está de acordo com o esperado:

— São dados preliminares. Temos de avaliar com cuidado, mas é bem provável que já tenhamos, sim, uma maior proteção individual (entre essa população). Só teremos a proteção da comunidade com o aumento da cobertura vacinal.

A chamada imunidade de rebanho, que freia a circulação do vírus, é atingida quando pelo menos 60% a 70% da população recebe as injeções. Até esta quarta-feira (21), a campanha havia contemplado o equivalente a 17,6% dos gaúchos. Cunha afirma que outro grupo vacinado junto dos idosos já foi alvo de estudos científicos que indicam menor vulnerabilidade à doença:

— Em um primeiro momento, além dos idosos, também tivemos profissionais de saúde vacinados como grupo prioritário. No caso desses profissionais, já foi observado, por meio de artigos publicados, diminuição (de casos) da doença e da gravidade. É esperado que isso também se observe entre os idosos. 

Cunha acrescenta que os vacinados precisam continuar tomando medidas de precaução, como distanciamento e uso de máscara, pelo fato de o imunizante não impedir completamente a manifestação ou a transmissão da covid-19. 

Em números absolutos, o somatório de mortes em cada período (contado por data de confirmação) caiu de 586 para 437 entre essa população mais velha — um recuo de 25%, ainda que, nos mesmos intervalos, o total de óbitos causados pelo coronavírus tenha avançado 26% no Estado em razão do agravamento da pandemia.

É preciso levar em consideração que, em razão de atrasos no processo de notificação, é possível que novos registros referentes aos últimos dias ainda sejam inseridos no sistema de monitoramento. Isso não deve alterar significativamente, porém, o percentual dessa faixa de idade no universo de óbitos. Mesmo quando se leva em consideração um período anterior, menos sujeito a eventuais atualizações, a mudança de perfil se mantém. Se for utilizado o período até o dia 15 de cada mês, a queda na proporção de idosos acima de 80 entre as vítimas é praticamente a mesma — diminuição de 43%.

É preciso considerar que esses são indícios ainda parciais de eficácia das vacinas, já que uma parcela significativa desses idosos ainda não recebeu as duas doses necessárias para completar o esquema de imunização. Pelos dados do painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), o equivalente a cerca de 57% do grupo prioritário estimado em cerca de 326 mil idosos com 80 anos ou mais recebeu a dose complementar. Essa conta não inclui os idosos com pelo menos 60 anos vivendo em asilos, que formaram um grupo prioritário à parte. 

Uma das possíveis explicações é que a CoronaVac exige 28 dias de intervalo entre as doses, mas a AstraZeneca necessita de três meses. Assim, idosos que receberam a primeira aplicação da segunda fabricante estão ingressando apenas agora no período de reforço. Depois disso, ainda são necessárias cerca de duas semanas para os anticorpos atingirem o nível máximo de proteção. Em razão disso, espera-se que o efeito da campanha de vacinação se intensifique ao longo dos próximos meses.

Há, ainda, um percentual de pessoas que não comparece aos postos de saúde para se vacinar. Um levantamento oficial divulgado em 13 de abril apontou que 123,5 mil gaúchos dos grupos prioritários haviam deixado de tomar a dose de reforço nos prazos adequados até aquele momento.


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