ARTIGO: "Enquanto a Covid não tem remédio, o mais garantido ainda é vacinar-se", por Renato Martins

É incrível que ainda pairem dúvidas sobre as vacinas. É impressionante que ainda se escolha as vacinas - por marca e procedência. É simplesmente desanimador como o ser humano tem energia e disposição para lutar contra aquilo que é arduamente estudado em laboratórios e universidades de todo o mundo. E também é surpreendente que a opinião de um vizinho ou um cunhado, no almoço de domingo, pode influenciar mais do que a palavra de um cientista ou um médico. E nem estou falando sobre o movimento anti-vacina - já passei dessa fase. Falo aqui de gente inteligente, culta, bem informada, com acesso à literatura, aconselhamento profissional, a médicos e que tenha informação de qualidade. 

Eu fiquei bastante impactado com a notícia da cidadã gaúcha de 77 anos que assinou um termo de recusa de vacina em Esperança do Sul, e que morreu na semana passada. Nesta pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, a prefeitura faz muito bem: eles buscam pessoas com a idade ou com comorbidades nas residências para que possam se vacinar. Quem não quer receber a dose, assina um termo, para ajudar no controle e assegura também de, futuramente, a pessoa dizer que não foi comunicada da vacina na sua idade ou no seu grupo. Fazem muito bem. Mas fiquei mais surpreso ainda que neste mesmo município de apenas de 2.885 habitantes, mais 50 pessoas assinaram o termo de recusa da vacina.

qimono / Pixabay


O fato é que passados 15 meses da chegada do coronavírus no Brasil, temos muitos avanços na ciência mas não temos ainda o medicamento que cura ou evita a Covid-19. Portanto, não há melhor solução momentânea do que confiar nas vacinas, quaisquer que sejam. Nos últimos dias alguns estudos mostraram que a eficácia de algumas imunizações podem estar abaixo do esperado. E a morte do sambista Nelson Sargento, mesmo tendo tomado duas doses, reacendeu essa desconfiança e a discussão a respeito da reinfecção.       

O certo é que se você estiver vacinado, a chance do SarsCov2 lhe encontrar é mais rara, e se acontecer, a propensão para a manifestação da doença na sua forma grave é menor. Ou seja, o risco de parar entubado numa UTI, necessitando oxigênio é bem mais baixo. As vacinas contra a Covid reduzem consideravelmente as chances de uma pessoa imunizada morrer. Mas claro, todos os profissionais de saúde dizem a mesma coisa: quem tomou as duas doses deve manter as medidas de prevenção – como uso de máscaras e distanciamento social. Não muda nada  na rotina, infelizmente, pelo menos por enquanto.  

Na quinta-feira passada, durante depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas na CPI da Covid no senado, Eduardo Girão (Podemos-CE) resolveu citar a morte do músico Nelson Sargento como uma prova de que a Coronavac não era eficaz. O diretor do Butantan rebateu, explicando que nenhuma vacina no mundo oferece uma eficácia absoluta. Os idosos respondem menos na produção de anticorpos em relação aos indivíduos mais jovens. 

Já o infectologista Carlos Starling, dentro do mesmo debate, declarou: "todos sabemos que a vacina é fundamental, mas não é a única medida de prevenção. Ela não prescinde de medidas de isolamento social e uso de máscaras”. O quadro clínico de um paciente, mesmo vacinado, pode piorar conforme a presença de doenças crônicas. Ou seja, muda de pessoa para pessoa. A maior prova é que os estudos e testes clínicos indicaram uma eficácia de 57% da Coronavac no Brasil enquanto que na Turquia a mesma vacina chegou a 90%. 

A boa notícia é que está provado que a vacinação já provoca impacto na redução de internações e mortes entre as pessoas com mais de 80 anos. Profissionais de saúde e indígenas também estão morrendo menos. Mesmo num país gigante como o Brasil, estes efeitos já estão sendo observados. Os levantamentos mostram que as vacinas da Pfizer e Astra Zeneca também são eficientes em relação às variantes que estão surgindo em território brasileiro.

E para quem tem dúvidas sobre a chamada "imunidade de rebanho", a experiência vem da cidade paulista de Serrana, onde foi feita imunização em larga escala nos últimos quatro meses, quando pesquisadores do Instituto Butantan mediram os efeitos do que poderia estar sendo feito em todo o país: a cidade de 45 mil habitantes tinha um alto índice de contágio e a pesquisa seguiu critérios científicos: o controle da pandemia na cidade se deu depois que 75% da população estava vacinada com duas doses. Logo após o fim da vacinação, o número de mortes caiu 95% em Serrana.

Esta é a maior prova que a única saída neste momento, para o Brasil, é a vacina. E para quem quer um exemplo de fora, saiba que o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos registrou 10.262 casos de pessoas que se infectaram após a imunização total. Entre elas, 160 morreram, ou seja, 2% do total. E aí, vamos continuar negando ou falando mal das nossas vacinas?


Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.




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