Estudantes da Lomba do Pinheiro driblam pandemia para participar de competição de robótica

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa Lobos, localizada na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, tem uma tradição de participação em torneios de robótica educacional. Em 2018, foi premiada em um torneio mundial disputado no Canadá. Em 2021, em razão da pandemia de covid-19, a expectativa era de que a escola não teria como formar uma equipe para participar de disputas. Contudo, graças a uma iniciativa de um trio de ex-alunos, atualmente estudantes do Instituto Federal da Restinga (IFRS), a equipe Lobóticos classificou neste final de semana para um evento nacional que pode levar a mais uma competição mundial.

Professora de robótica educacional na Villa Lobos e treinadora da Lobóticos, Cristiane Pelisolli Cabral conta que a última participação da equipe em torneio havia ocorrido em março do ano passado, quando a pandemia ainda não havia provocado o fechamento das escolas. Diante de um ano sem aulas presenciais, a expectativa dela era de que 2021 fosse de reformulação da equipe, ainda mais pelo fato de que três de seus alunos mais velhos haviam concluído o ensino fundamental e se transferido para o IFRS.

Contudo, o cenário mudou quando a First Lego League (FLL), um dos principais eventos de robótica educacional para alunos da rede municipal, anunciou que teria uma versão online em 2021. “Quando a FLL lançou o evento online, os meninos que eram da Lobóticos e estavam no IFRS me procuraram perguntando se a nossa equipe ia participar”, diz.

Victor Myra Braile, que participou da etapa nacional da FLL pela Lobóticos em 2020 e atualmente está no 1º no Ensino Médio no IFRS, conta que o trio perguntou ao professor Iuri Albandes Cunha Gomes, que leciona Informática no IFRS, e a Cristiane se seria possível fazer uma parceria para participar da disputa. “Nós somos gratos à equipe Lobóticos. Então, porque não poderíamos estar ali ajudando mais uma vez?”, afirma.

A parceria deu origem à Lobóticos/IFRS, que participa da competição regional para o Rio Grande do Sul da FLL neste final de semana. “Os meninos estavam sedentos por fazer alguma coisa, ainda mais os que estavam há muito tempo em robótica. Eu ouvi também das famílias que eles ficaram animados porque fazia um tempo que eles estavam tristinhos em casa”, relata Cristiane. “Esse evento motiva muito os alunos. Eles gostam muito de participar porque ele é muito animado. Quando é no presencial, tem festas para a meninada, tem dancinhas. A criançada e os adolescentes gostam muito de participar”, complementa a professora.

Trabalhando durante a pandemia

Formada a equipe, surgiu um novo desafio: se organizar para a competição em tempos de pandemia. Eventos de robótica educacional, como a First Lego League, conjugam o aprendizado na área com a pesquisa em iniciação científica. No caso da FLL, as equipes são julgadas em três categorias: a apresentação com o robô, uma pesquisa/projeto científico sobre o tema da edição e o trabalho em equipe.

Para desenvolver as tarefas de robótica da competição, os alunos precisam utilizar um tapete específico — que foi cedido à escola pelo Serviço Social da Indústria (SESI) — e uma mesa de trabalho que está mantida na escola. Sem a possibilidade de realizar encontros presenciais, os sete membros da Lobóticos/IFRS decidiram que, como havia duas duplas de irmãos na equipe, uma delas iria levar o tapete para casa e iria receber as visitas da outra dupla, com os quatro repassando informações sobre o trabalho diário para os demais em reuniões e conversas online.

“A gente decidiu fazer nós quatro, com os outros vindo em horários separados, porque a gente colocaria apenas duas famílias e não quatro”, conta Gabrieli Bolico Welter, aluno do 7º ano da Villa Lobos e irmã de João Gabriel, um dos meninos que começou a estudar no Instituto Federal neste ano.

Victor, que ao lado do irmão Ayrton compõe a outra dupla de irmãos da equipe, afirma que a preparação para a competição foi “bem difícil”, porque o início dela coincidiu com a entrada do Estado na bandeira preta do Distanciamento Controlado.

Mais recentemente, quando o Estado saiu da bandeira preta, conseguiram levar a mesa da escola para a casa de Gabrieli e João Gabriel para realizar os testes práticos para a competição. Além disso, conseguiram fazer duas reuniões presenciais no pátio da escola Villa Lobos.

“Nós tivemos quatro dias apenas para montar o robô. Aí conseguimos ir à escola, o RS tinha acabado de sair da bandeira preta. Depois disso, conseguimos levar para a casa de um colega nosso, com todos os cuidados, levamos a mesa para a casa dele e ficamos treinando lá. Eram quatro alunos e, no final do dia, nós sempre repassávamos [para os outros] o que havia sido feito”, diz Victor.

Gabrieli, que já fazia parte da equipe no ano passado, diz que um problema encontrado era de que três dos membros da equipe eram novos, nunca tendo participado dos trabalhos presencialmente. “Como o campeonato foi totalmente online esse ano, foi um pouco mais complicado, mas a gente conseguiu se virar bem. Foi uma nova experiência, porque a gente nunca tinha feito online, mas foi bem tranquilo”, diz.

“Como o tempo é curto, eles estão ficando praticamente dia e noite em cima do robô”, conta a professora Cristiane.

Além dos trabalhos na casa de Gabrieli e João Gabriel, a equipe realizava videoconferências diárias e debatia o projeto em grupos de mensagens eletrônicas. E foi dessa forma, à distância, que o grupo desenvolveu a segunda etapa da competição, o projeto de iniciação científica. Sob o tema “RePLAY”, a FLL em 2021 desafiou os estudantes a desenvolver soluções que envolvam a tecnologia para ajudar as pessoas na prática esportiva e a se tornarem mais ativas.

A ideia apresentada pela equipe é de um aplicativo que poderia realizar o monitoramento do uso dos espaços esportivos e informar as pessoas da comunidade sobre as atividades que estão acontecendo e a disponibilidade de uso.

“Partindo dessa ideia de como manter as pessoas mais ativas, eles criaram um aplicativo para o bairro deles, que tem poucos recursos para as pessoas se movimentarem. Basicamente, a gente tem uma praça ali e as quadras da escola e o ginásio, quando não estão sendo usados, são cedidos para a comunidade”, diz Cristiane. “O evento sempre valoriza soluções tecnológicas para o local em que as pessoas vivem”.

Por enquanto, o aplicativo é só um projeto, mas Cristiane diz que a equipe espera que ele possa ser transformado em protótipo a partir das aulas de Informática do Instituto Federal.

Os estudantes entregaram vídeos para a competição com as tarefas envolvendo o robô no dia 30 de abril. Na sexta (7), participaram de uma entrevista sobre o projeto de iniciação científica. O resultado foi divulgado na manhã de sábado (8) e a Lobóticos/IFRS ficou em segundo lugar na classificação geral, garantindo uma das quatro vagas parra o torneio nacional, que será disputado em junho.

Para a professora, independentemente do resultado, a experiência de participar da competição online neste ano pode ser considerada como muito produtiva. “A gente conseguiu manter os alunos conectados. Os alunos novos conseguiram aprender bastante com os antigos, é muito legal essa troca. Eu senti que eles estavam sedentos por fazer alguma coisa. Mesmo para os alunos que estão no Instituto Federal foi bem difícil o ano”, diz Cristiane.

Confira um dos vídeos de apresentação do trabalho feitos pelos alunos:





Com informações do site do Sul21



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