Nesta terça , Dia da Luta Antimanicomial alerta para formas mais humanas de tratar a loucura

Nesta terça, dia 18 de maio, é dia mais uma vez de lembrar da luta contra os manicômios. É o chamado dia de luta anti-manicomial. Porque já passou o tempo em que prendíamos, amarrávamos e dávamos tratamento de choque nas pessoas. A reforma psiquiátrica veio para estabelecer novos parâmetros e humanizar esse tipo de terapia. Diversas entidades estão engajadas nessa campanha e promovem, mesmo em época de pandemia, uma série de ações em defesa do cuidado em liberdade e da completa substituição do modelo manicomial, que já está provado de todas as formas, que está superado. O manicômio não é o tratamento correto segundo a visão médica, social, humana, cidadã e conforme uma série de outros aspectos da vida em sociedade. O objetivo deste dia 18 de maio, há muito anos, é alertar a sociedade que a exclusão jamais deve ser considerada uma forma de cuidado para pessoas em sofrimento psíquico ou que façam uso abusivo de álcool e outras drogas. 

Foto: Abrasco

A ideia do dia nacional surgiu em homenagem a essa batalha dos profissionais de saúde por um tratamento mais humano aos usuários do sistema de saúde mental. Uma luta que ganhou força no contexto da abertura da ditadura militar, quando surgiram as primeiras manifestações no setor de saúde. Entre as reivindicações, estavam o fim do uso do eletrochoque e de outras práticas de “tratamento” – que se assemelhavam às torturas comuns nos porões da ditadura –, e pedia melhores condições de assistência à população e pela humanização dos serviços. Este movimento deu início a uma corajosa greve (durante oito meses no ano de 1978) que teve grande e importante repercussão na imprensa à época.

Mas somente em 1987 de fato seria formalizada a data onde o movimento antimanicomial se firmaria como força social, com a divulgação do chamado “Manifesto de Bauru”, que entre outras coisas instituía o lema do movimento: por uma sociedade sem manicômios. O movimento desde então busca levantar discussões sobre a loucura para além do limite assistencial, em prol de novos métodos de tratamento de forma humanizada, não-institucionalizada, tendo por objetivo tornar pública a luta pelos direitos das pessoas em sofrimento mental, pelo bem-estar e pela dignidade desses indivíduos e de suas famílias, envolvendo atividades que em muito ultrapassavam as do campo convencional da saúde. Seu objetivo principal era o fim das instituições manicomiais e o desenvolvimento de serviços de saúde abertos, para além dos muros de hospícios e manicômios, vistos como dispositivos incutidos de violência física e simbólica que, através de uma aparência protetora, isolavam da sociedade aqueles indivíduos considerados “loucos”, e o pior: isentando a sociedade de culpa nesse processo eminentemente social.

As campanhas e os alertas para o tema, porém, são muito mais antigos do que parecem: a doutora baiana Nise da Silveira foi uma das primeiras brasileiras da história a se formar em Medicina, no ano de 1920. Seu trabalho e estudos sobre a psiquiatria tornou-a uma das precursoras da reforma psiquiátrica no Brasil, tendo fundado nos anos 1950 o Museu de Imagens do Inconsciente e a Casa das Palmeiras, dois importantes espaços de reabilitação da saúde mental a partir de terapia ocupacional e artes, um dos grandes legados de Nise da Silveira para a luta antimanicomial brasileira e mundial.

A Reforma Psiquiátrica abriu, nas últimas décadas, um campo de possibilidades e mudanças na forma de lidar com as enfermidades mentais. Com a substituição gradativa dos hospitais psiquiátricos por espaços de acolhimento em saúde mental presentes no território, os usuários de serviços de saúde mental, antes confinados aos manicômios, puderam acessar novas formas de atenção e cuidado, como o Acompanhamento Terapêutico, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou os Residenciais Terapêuticos, entre outros serviços.


Em Porto Alegre

No dia 18, às 18h, o Conselho Regional de Psicologia do RS realizará uma projeção na fachada de um prédio na elevada do túnel da Conceição, no centro de Porto Alegre, e lançará uma História em Quadrinhos inédita, produzida especialmente para a data, que apresenta diferentes relatos de vidas, dilaceradas pela exclusão.

“Importante ressaltar que a superação do manicômio enquanto estrutura e enquanto lógica nunca se efetivou de fato, pois para além das estruturas físicas com modelos de internação que persistem até hoje como é o caso das Comunidades Terapêuticas e Hospitais Psiquiátricos, a lógica manicomial existe também nas práticas de segregação e desumanização associadas ao aprisionamento e à exclusão das diferenças e de sujeitos considerados ‘indesejáveis’”, afirma a psicóloga Cristina Schwarz, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho.

Para Cristina, nos últimos anos, tem-se acompanhado o crescimento de políticas que adotam a segregação em espaços de confinamento como estratégia principal para o tratamento de pessoas em sofrimento psíquico e de usuários de álcool e outras drogas. “Marcadores sociais, econômicos e étnico-raciais são balizadores para o modelo de atendimento oportunizado, em que, não raramente, pretos e pobres são ainda mais excluídos do convívio com a sociedade, levados para lugares que aprisionam, como manicômios, prisões e comunidades terapêuticas, sob a justificativa do risco para si ou para a sociedade”, exemplifica.

Com informações do site da Biblioteca Nacional e do jornal Sul21



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