ARTIGO: as (boas e más) experiências com público nos eventos esportivos ao redor do mundo

Nos meses de junho e julho tivemos um ápice de eventos esportivos, e até agosto ainda teremos mais. Além do Brasileirão, que segue sem público nos estádios brasileiros, o Brasil recebeu meio de supetão a Copa América e que também teve os estádios vazios, a não ser na final, no último sábado, entre Brasil e Argentina, que a prefeitura do Rio de Janeiro resolveu ceder e permitiu 10% de público no Maracanã. Num país de 14% de vacinados apenas. Nesta semana, a Libertadores vai recomeçar e a Conmebol já permitiu público nas partidas, assim como na Sul Americana. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que, apesar da autorização, não permitirá a entrada de torcedores. A capital mineira vai receber no dia 20 deste mês o jogo da volta entre Atlético e Boca Juniors.

Penso que a Conmebol está jogando no lixo uma excelente experiência de Copa América: apesar de extremamente atabalhoada, o campeonato foi organizado no Brasil em menos de duas semanas, e mesmo abaixo de críticas - inclusive minhas -, os eventos aconteceram sob um protocolo de testagem bastante eficiente, sem permissão de público e poucos casos de Covid nas delegações. Houve sim, registros de casos principalmente de funcionários de empresas terceirizadas e de hotéis, principalmente, e que chegaram a 168. Por mais que alguns pesquisadores insistam que a comissão organizadora não seja transparente nos dados, o fato é que a média de mortes por Covid-19 no país caiu 35,7% no período em que foi realizada a Copa América. E os casos positivos da doença diminuíram 24,6% .

Na seleção brasileira, por exemplo, não houve nenhum resultado positivo nos testes para o vírus nas 760 coletas realizadas com atletas, comissão técnica e equipes de apoio. Ao todo, desde a apresentação do grupo para dois jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar até a final do último sábado foram 45 dias reunidos numa tentativa de bolha sanitária. E parece ter dado certo. 

Já a Eurocopa, também disputada nessas últimas semanas, permitiu público de 20% a 30% da capacidade das arenas e nas semifinais e final, acontecidas no estádio de Wembley, em Londres, a organização chutou o pau da barraca: liberou 60 mil pessoas e no domingo, quando a Itália venceu a Inglaterra, haviam 67 mil pessoas lá. A equação é matemática: o número de novos casos aumentou 10%, impulsionado pelas multidões nas cidades-sede do campeonato. Além dos torcedores nos estádios, também os pubs e as ruas ficaram mais cheios, sem falar nas viagens entre os países, que aumentaram. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um período de 10 semanas de queda nas novas infecções por coronavírus em toda a região europeia chegou ao fim e uma nova onda de infecções é inevitável. O ministro de Interior da Alemanha, Horst Seehofer, chamou de "totalmente irresponsável" a decisão da Uefa, entidade reguladora do futebol europeu, de permitir público durante a Eurocopa.

Em agosto, temos a Champions League na Europa. Como será avaliado esse tipo de decisão, em cima dessas experiências? 

E os jogos Olímpicos, em Tóquio, começam dia 23 de julho sem público, uma vez que o país teve um  aumento de casos, chegada das variantes, uma vacinação lenta e muitas mortes, levando o governo a decretar estado de emergência a partir deste 12 de julho. Ou seja, a Olimpíada da "redenção", se tornou mais uma vez vazia nas arquibancadas, pois estamos vivendo realidades diferentes em regiões diferentes, com combates diferentes em relação ao vírus. Ninguém está vencendo. Mesmo em países que a vacinação está adiantada, os cientistas e médicos afirmam que não se deve abrir mão da máscara e dos protocolos de distanciamento. Pelo jeito, ainda é cedo para voltarmos com as torcidas presenciais. Temos que confiar nos números e aguardar um pouco mais.   

Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.

  

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