ARTIGO: as vantagens de sair do armário, independente da corrida eleitoral

A rumorosa confidência do governador gaúcho Eduardo Leite, na semana passada, em rede nacional no programa do jornalista Pedro Bial, além de surpreender muita gente, também abriu um novo debate no país inteiro, na mídia, na política e nas redes sociais. Assumir a homossexualidade. Uns acharam que a atitude foi exemplar, corajosa e abriu caminho para dezenas de simpatizantes LGBTQIA+ fazerem o mesmo. Outros, consideram uma ação eleitoreira porque Leite está de olho na presidência. E uma outra parte ainda acha que ele só assumiu a orientação sexual porque como branco e rico, faz parte de uma elite que não sofre tanto preconceito e por isso pode expor suas posições livremente, sem ser criticado. 


Steve Johnson/Unsplash

Eu gostaria de sair da discussão política e me ater neste momento à notícia boa: o ato do governador foi sim, corajoso e surpreendente, pois não é fácil para ninguém, em nenhuma condição humana ou social, sair do armário. Ainda mais sendo o comandante de um estado conservador e machista. Um terço dos gays, por exemplo, evita assumir sua orientação com receio de ser rejeitado em seus ambientes profissionais e pessoais. O IBOPE pesquisou durante um ano e constatou que ainda assim, os homens afirmam mais facilmente que são homossexuais ou bissexuais: 16% dos entrevistados contra 8% de mulheres.  Outros fatores como idade também pesam na hora de falar a verdade. Quanto mais jovem, maior a facilidade em assumir o opção sexual. E ainda segundo a pesquisa, a região sul, depois do norte, é a que menos tem pessoas declaradamente gay.

O fato é que o temor de não ser aceito, de ser estigmatizado, de ficar isolado, perder oportunidades ou até mesmo ser demitido passa na cabeça de quem guarda o segredo de sua orientação. Ao mesmo tempo que protege sua vida social e suas relações de trabalho, causa um dano pessoal à sua saúde mental. Muita gente passa anos de uma vida tentando ser alguém que ‘não se é’ e por isso gera consequências emocionais sérias, que levam a transtornos de ansiedade e depressão. Nas situações mais críticas, ocorre o suicídio, que infelizmente não é pouco comum entre os gays que não conseguem enxergar uma saída. Além do trabalho, a não aceitação na família também causa um prejuízo incomparável.

Não faz muito tempo que a transexualidade saiu da lista de doenças mentais no Brasil. A psiquiatra Lívia Castelo Branco, de Salvador, na Bahia, diz que o sofrimento de uma pessoa por não se identificar com seu gênero de nascimento, incluindo o que vem do preconceito e da falta de aceitação social, produz muitos transtornos mentais que precisam ser tratados. 

Neste mês de junho, considerado o mês do orgulho gay, muito se falou sobre este assunto - e penso que cada vez menos temos pessoas enclausuradas dentro de seus armários. Felizmente nossa sociedade, inclusive com o apoio da mídia, tem favorecido a causa da livre orientação. Mas certamente ainda precisamos vencer muitas barreiras e obstáculos para impedir que as pessoas se prendam pelo preconceito e adoeçam, infelizes, por não poder assumir sua opção. É neste sentido que digo que o ato do governador Leite favorece, incentiva, encoraja e inspira uma série de pessoas a fazerem o mesmo e serem mais felizes. 

Aliás, neste mês a famosa sigla recebeu também mais um alteração: agora é LGBTQIAP+, por causa dos pansexuais, que foram lembrados também a partir de agora nessa causa.     


Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.


       



   

Comentários