Governo prepara plano de geração de emprego em frentes sustentáveis

O governo brasileiro vai lançar o chamado Programa de Crescimento Verde, para geração de emprego nos setores de energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e ecoturismo. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez menção no discurso na Assembleia-Geral da ONU ao desejo do Brasil de atrair investimentos externos nessas áreas.

Ao voltar de Nova York, onde acompanhou a delegação do presidente, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse à CNN que está trabalhando nesse plano junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Leite estima que o lançamento ocorrerá no final de outubro, portanto nas vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que começa dia 31 de outubro e vai até 12 de novembro. Leite apresentou em Nova York as linhas gerais do plano ao representante do presidente Joe Biden para mudança climática, John Kerry, ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e ao presidente da COP26, Alok Sharma.

Geraldo Magela / Agência Senado


Segundo o ministro, Kerry ofereceu assistência técnica para a execução do programa, já que a abordagem é parecida com a que tem sido adotada no governo Biden, de investir na modernização da infraestrutura e dos setores produtivos com o duplo objetivo de aumentar a competitividade e de reduzir a emissão de gases poluentes.

Leite aceitou a ajuda, e disse que ela poderia começar pelas próprias empresas americanas que atuam no Brasil, do agronegócio às montadoras de automóveis. A CNN apurou que Kerry saiu “bem impressionado” do encontro com Leite. Os dois já haviam se reunido em julho em Londres, nos preparativos da COP26, e remotamente na semana passada. “Eu ouvi do Boris Johnson, do Kerry e do Allok que o governo federal está atuando na direção correta de conter o desmatamento”, afirmou o ministro do Meio Ambiente.

A secretária americana de Energia, Jennifer Granholm, também gostou do que ouviu do seu colega brasileiro, Bento Albuquerque. Os contatos ministeriais entre os dois países têm sido produtivos. O problema ainda continuam sendo as atitudes do presidente Bolsonaro, segundo apurou a CNN.

Alguns funcionários americanos notaram que o discurso do presidente foi na direção desejável na questão ambiental, mas outros associam a participação de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU ao fato de ele não ter se vacinado, ter defendido tratamento precoce para Covid-19, e seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ter testado positivo para o vírus.

Na reunião entre Bolsonaro e Johnson, para a qual o presidente brasileiro convidou o ministro, foi discutido um acordo bilateral de livre comércio. “Isso significa acordo ambiental e comércio de carbono”, observou Leite. O ministro pediu apoio a Johnson no financiamento global do pagamento dos serviços da floresta e na autorização da entrada de 40 integrantes da comitiva brasileira sem necessidade de quarentena. Isso depende de o Brasil ter alcançado, até 4 de outubro, a marca de 60% de imunização completa contra a Covid-19, segundo o ministro.

No discurso na Assembleia-Geral, Bolsonaro enfatizou: “O futuro do emprego verde está no Brasil”, citando os seis segmentos da economia. Segundo Leite, o presidente acatou de forma literal todos os trechos que ele sugeriu que fossem incluídos no discurso, sobre o tema do meio ambiente.

O ministro reafirmou que os números citados por Bolsonaro na área ambiental estão corretos. A redução de 32% do desmatamento em agosto, ante o mesmo mês do ano passado, foi medida pelo Inpe, que fornece o dado oficial mensalmente.

“Até aqui o dado oficial do Inpe era de aumento e todo mundo dava. Agora que está caindo, questionam”, queixou-se Leite. Ele atribuiu o resultado ao aumento da fiscalização. O orçamento dos órgãos ambientais subiu de R$ 228 milhões, no início do ano, para R$ 498 milhões. Foram contratados 739 novos fiscais para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Além disso, a fiscalização conta com apoio da Força Nacional e do Exército.

Ele disse que o dado segundo o qual 84% do bioma da Amazônia está preservado é da Embrapa Territorial. A afirmação feita pelo presidente de que a agricultura brasileira ocupa 8% do território brasileiro vem também da Embrapa, que calcula esse índice em 7,8%, e da Nasa, a agência espacial americana, que fala em 7,6%. A pecuária, segundo o ministro, ocupa outros 19%. “Mas o presidente falou em agricultura apenas.”

Leite, que também já havia se encontrado com Sharma em Londres e em Brasília, contou ter oferecido ao presidente da COP26 fazer gestões junto aos países com os quais o Brasil tem interlocução melhor do que o Reino Unido, para apresentarem metas mais ambiciosas de redução das emissões de gases do efeito estufa. Sharma aceitou a ajuda, segundo Leite, que já conversou com autoridades de 27 países e pretende falar com mais 50 antes da conferência em Glasgow.

Com informações da CNN

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