ARTIGO: "Economia brasileira necessita de um novo modelo", por GUSTAVO INÁCIO DE MORAES

Todas as semanas publicamos aqui artigos especiais dentro da campanha "A Sociedade e o Pós-Covid". Semanalmente divulgamos as ideias de gestores, autoridades, lideranças, especialistas e pensadores sobre a retomada da economia do RS e do Brasil. Este artigo é  do Economista  e Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Gustavo Inácio de Moraes

Economia Brasileira necessita de um novo modelo 

A Economia Brasileira, há pelo menos uma década, permanece em um estado de baixo crescimento. Nesse período a renda per capita, avaliada em dólares ou a paridade do poder de compra, esteve estagnada e no período o Brasil foi superado por vários países, tanto em termos absolutos, passando de oitava para décima-segunda economia do mundo, como pelo critério da renda per capita. 

Pelo critério do FMI para 2021, estaremos abaixo da média mundial: uma renda per capita, considerado os preços internos, de 15.643 dólares e a 111ª posição entre os países do mundo: Cazaquistão e Botswana (20% da população com HIV positivo) são alguns dos países à frente do Brasil nesse critério de renda média. Em 1980, éramos o 50º colocado. 

A decepção é ainda maior quando, na altura de 2008, prometia-se que o Brasil estaria em meados deste século entre as 5 maiores economias do mundo: pode-se dizer que inauguramos o novo século com a eterna promessa de futuro nunca realizada, tão presente na história nacional. 

Para um país que esteve entre aqueles que mais cresceram no século XX, resta uma pergunta: será que os modelos antigos de política econômica, praticados nos últimos 90 anos, ainda são úteis para a geração do crescimento econômico? Como fomos capazes de perder a receita do crescimento econômico?

Nossa paralisia inicia-se ao iniciarmos a década de 1980, a partir de uma conjuntura internacional desfavorável e um endividamento crescente. Essa conjuntura adversa foi decisiva na ampliação de dois problemas geracionais do Brasil do século XX: o endividamento e a inflação. 

É importante localizar a razão pela qual o Brasil deixou de crescer a partir desse momento: havia contratado recursos externos para a realização de projetos voltados ao desenvolvimento econômico e de outra parte utilizava-se de recursos do orçamento público além das possibilidades de obtenção de receitas, mesmo no espaço de décadas. Essa foi a tônica nos períodos de grandes projetos de desenvolvimento: no Estado Novo, no Plano de Metas e no Milagre Econômico. Produziu-se crescimento econômico, a ponto do Brasil ser considerado a próxima potência em vários momentos.

Contudo, houve um comprometimento das reservas financeiras, com endividamento crescente, seja do setor público (Brasília, como exemplo, foi construída sem orçamento ou “a fundos perdidos”), seja em relação ao exterior.  Tal endividamento, com a conjuntura desfavorável do início dos anos oitenta, elevação dos juros em dólar a 17% ao ano, crises do petróleo e recessão nas economias desenvolvidas, criou um círculo do qual não conseguimos nos desvencilhar.  Em outras palavras, a economia brasileira ainda não reencontrou de forma consistente uma fonte de financiamento para seus projetos de desenvolvimento. 

Como consequência, a economia brasileira terá uma retomada das condições de crescimento somente quando equacionar o financiamento de seus projetos de desenvolvimento. Com a capacidade do setor público financiar empreendimentos comprometidos, apenas restam duas portas: o capital externo, na forma de investimentos, e a poupança privada dos brasileiros, um eixo que nunca foi relevante na economia nacional, mas cuja necessidade é crescente.

Assim, insistir nas receitas antigas de desenvolvimento e determinar fórmulas antigas para a economia apenas irá resultar em novos períodos de paralisia, baixo crescimento econômico e perda de competitividade. O novo eixo de desenvolvimento da economia brasileira no século XXI deve fomentar a participação do capital externo nos diversos setores, bem como ampliar a capacidade de poupança das famílias e empresas brasileiras. Velhos caminhos não abrem novas portas.



Gustavo Inácio de Moraes é Economista  e Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 






















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