Prêmio Jabuti 2021 consagra Jeferson Tenório e coroa infantil sobre Brumadinho

O prêmio Jabuti, mais importante troféu anual da literatura brasileira, divulgou na noite desta quinta-feira os ganhadores da sua edição de 2021, consagrando como grande vencedor o infantil "Sagatrissuinorana", de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz, publicado pela independente ÔZé Editora, como o livro do ano.

A obra se inspira na história dos Três Porquinhos para criar um conto sobre os desastres de Mariana e Brumadinho, em linguagem que bebe do mineiro Guimarães Rosa. "A gente não pode esquecer das pessoas que se foram, nem que ainda estamos sob esse risco", disse Cruz, muito emocionado, ao receber o prêmio por Zoom.

O troféu foi entregue improvisadamente por Ignácio de Loyola Brandão, que também teve um livro infantil, "O Menino que Vendia Palavras", vencedor do prêmio máximo do Jabuti em 2008. O autor de "Não Verás País Nenhum" foi homenageado como personalidade literária do ano e, em sua fala, lembrou a crise pela qual as livrarias passam durante a pandemia e defendeu a existência de mais bibliotecas.

Flávio Dutra/Divulgação

O livro "O Avesso da Pele", do carioca radicado em Porto Alegre (RS) Sul Jeferson Tenório, foi o ganhador na categoria de romance literário. A obra é narrada por um jovem negro que retraça e reimagina a vida do pai, um professor que morre devido à violência policial. Ele vence outros romances que se destacaram no último ano, como "Solução de Dois Estados", de Michel Laub, e "Os Supridores", de José Falero.

A cultura negra também esteve em destaque em outras vitórias importantes, como na vitória de "A Razão Africana", do professor Muryatan Barbosa, na categoria de ciências sociais, e "Prato Firmeza Preto: Guia Gastronômico das Quebradas de SP" entre os livros de economia criativa.

Na categoria de poesia, o prêmio foi para Maria Lúcia Alvim, que vence postumamente pela coletânea de poesia "Batendo Pasto", da Relicário. Ela morreu de Covid, aos 88 anos, em fevereiro.

Entre os romances de entretenimento, foi eleita uma obra pós-apocalíptica coescrita por alguns expoentes da literatura fantástica do país –Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado, que assinam "Corpos Secos", da Alfaguara. Machado, aliás, também foi destacado na categoria de livro publicado no exterior com seu "Tupinilândia".

Nas categorias de não ficção, a obra "A República das Milícias", de Bruno Paes Manso, foi a vencedora entre as biografias e livros-reportagem. O livro, que também virou podcast, traça a evolução das milícias no Rio de Janeiro, apresentando sua conexão com alguns personagens célebres do noticiário político da era Bolsonaro.

Outras pautas que encontraram acolhimento no Jabuti foram a de gênero, contemplada em "Sobreviventes e Guerreiras", que traça a história da mulher no Brasil ao longo da história do país, e a defesa da ciência, com o livro "Ciência no Cotidiano: Viva a Razão. Abaixo a Ignorância!" em que Carlos Orsi Martinho e Natalia Pasternak —cientista que ganhou notoridade durante a pandemia— firmam posição desde o título que milita contra o charlatanismo.

A jovem editora Antofágica, que se especializa em reeditar clássicos em linguagem pop, foi laureada na categoria de projeto gráfico por "O Médico e o Monstro", ilustrado por Adão Iturrusgarai, cartunista do jornal A Folha de São Paulo.

Guilherme Wisnik, Henrique Siqueira e Tuca Vieira foram vencedores na categoria de artes por seu atlas de imagens de São Paulo. Vieira foi repórter fotográfico deste jornal, em que seu último trabalho foi o projeto Hipercidades.

Vitor Tavares, presidente da CBL, destacou na fala de abertura da cerimônia virtual, transmitida pelo YouTube, que a edição deste ano teve 31% mais inscritos que a anterior, o que revela a pujança do mercado editorial mesmo em meio à pandemia. A cerimônia trouxe depoimentos de leitores de todas as regiões brasileiras falando sobre sua relação afetiva com a literatura.

O prêmio principal para "Sagatrissuinorana" segue a tendência dos anos anteriores de coroar editoras independentes. Na última edição, a premiada foi a pernambucana Cepe, que publicou a coletânea de poemas "Solo para Vialejo", de Cida Pedrosa, e em 2017 o escritor Mailson Viana venceu por uma obra publicada de forma autônoma.

Veja neste link todos os vencedores das 20 categorias do prêmio.


Com informações da Folha de São Paulo



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