Projeto gaúcho para criar absorventes sustentáveis e baratos concorre a prêmio internacional

"E se houvesse uma alternativa de absorventes que, além de ecológicos, fossem também acessíveis para mulheres em situação de vulnerabilidade?" Esse foi o questionamento do qual partiu a estudante do curso técnico em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), campus Osório, Camily Pereira dos Santos, 18 anos, para desenvolver o SustainPads, que concorre ao Prêmio Jovem da Água de Estocolmo.


"A ideia do projeto surgiu através de uma conversa que eu tive com minha mãe sobre absorventes ecológicos, e descobri que ela, quando mais jovem, não tinha acesso nem a absorventes convencionais. Foi a primeira vez que me deparei com a questão da pobreza menstrual."

O absorvente sustentável criado a partir de subprodutos industriais começou a ser desenvolvido em julho de 2021 em parceria com a estudante do curso técnico em administração Laura Nedel Drebes, 19 anos, e sob orientação da professora Flávia Twardowski. "Encontramos nos subprodutos industriais uma solução para que pudesse ser implementada em um absorvente, afinal, são materiais que muitas vezes são descartados pelas indústrias e não têm uma destinação nobre", explica Camily.

O projeto ganhou reconhecimento na etapa brasileira do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo (Stockholm Junior Water Prize – SJWP), que aconteceu no Rio de Janeiro, no início de junho, e representará o Brasil na final que acontecerá na Suécia em 26 de agosto de 2022. O SJWP conta com a participação de jovens inovadores entre 15 e 20 anos, de 40 países.

"É um trabalho em equipe, eu me orgulho muito disso. Estou muito honrada com a oportunidade de nós, três mulheres, representarmos a ciência jovem brasileira", afirma Laura.

O absorvente começou a ser desenvolvido em julho de 2021 — Foto: Arquivo Pessoal


Elas relatam que outros materiais foram testados, mas não se mostraram tão promissores. "Realizamos muitos experimentos, algumas coisas deram errado, mas nós persistimos", afirma Laura. Os melhores resultados foram a partir das fibras da palmeira juçara e do pseudocaule da bananeira, e elaboraram um biofilme com resíduos da indústria nutracêutica.

Tendo em vista que o pseudocaule da bananeira é um resíduo presente no país, ele foi escolhido pelas pesquisadoras para compor a camada absorvente e substituir o algodão. "Os agricultores que nos forneciam o pseudocaule também tinham grandes problemas com a geração de resíduo da palmeira juçara, que é uma planta nativa da nossa região. Então, resolvemos também utilizar esse material para compor a camada absorvente". conta Camily.

Laura já vinha, desde 2020, desenvolvendo um projeto de filmes plásticos biodegradáveis utilizando como matéria-prima os resíduos industriais e se juntou ao grupo para contribuir para o desenvolvimento do material. Além da questão ecológica, o baixo custo dos absorventes – que é de R$ 0,02 por unidade, em média – pode ajudar a reduzir o problema de acesso ao produto.

Satisfação com o resultado

A repercussão e o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido são celebrados pelo grupo. "Viemos todos os dias para o laboratório da nossa escola", conta Laura. Mesmo com a escola fechada por causa da pandemia, elas seguiram tendo acesso ao laboratório. "No âmbito da pesquisa e da extensão, o IFRS podia ser acessado", destaca a professora, lembrando que as atividades na instituição voltaram integralmente apenas em fevereiro deste ano.

A possibilidade de participar da competição partiu de um amigo da orientadora, que acreditou que a pesquisa tinha potencial. "A gente não esperava nem que a gente fosse para o Rio de Janeiro, disse Flávia." Inicialmente, o projeto foi classificado entre os cinco melhores para participar da etapa nacional. Agora, para a final, elas se preparam para a apresentação em inglês.

"Desde quando eu comecei a fazer pesquisa, a minha vida foi transformada. Poder estar lá, representando o Brasil, representando a ciência jovem brasileira, é motivo de muito orgulho e fico muito emocionada com tudo isso", afirma Camily.

A viagem, que vai durar uma semana, está prevista para o dia 25 de agosto. A programação será de 26 de agosto a 1º de setembro. A orientadora destaca o empenho das estudantes, que são de áreas diferentes, pesquisaram durante uma pandemia e não ficaram paradas diante das dificuldades.

"As instituições federais estão sofrendo vários cortes na educação, a própria pesquisa no Brasil sofrendo cortes, e elas conseguem mostrar que, com pequenas ações, unindo a educação e pesquisa, isso acaba transformando. Elas não ficaram paradas frente a uma dificuldade que foi imposta por algo maior que deveria ser uma política pública. Eu acho isso fantástico", afirma Flávia.

O próximo passo das alunas é o curso superior. Laura quer fazer medicina, Camily pretende estudar engenharia aeronáutica, e as duas querem continuar fazendo ciência e pesquisa. "Essa experiência que eu tive de fazer ciência no ensino médio me fez abrir meus horizontes e descobrir novas áreas e novas possibilidades pra mim no futuro", diz Camily.

Para o projeto, a busca agora é por apoio de alguém que abrace a ideia. "O conhecimento a gente já tem, o sonho é a gente passar adiante, porque a alternativa foi criada e ela pode, sim, ser concretizada", afirma Flávia.

A etapa nacional do Prêmio Jovem da Água ocorreu nos dias 5 e 6 de junho de 2022 no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, integrada à Conferência Internacional Rio 2030. Criado em 1997 pelo Instituto Internacional de Águas de Estocolmo, o prêmio acontece anualmente em duas fases: uma nacional, nos países participantes, e a internacional, na Suécia, durante a Semana Mundial da Água de Estocolmo. No Brasil, o prêmio é realizado desde 2017 pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), por meio do Programa Jovens Profissionais do Saneamento.

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