Evento de oficialização do Pacto Pela Educação ocorreu em Porto Alegre e já tem mais de 300 voluntários

Tornado público em 31 de maio, o movimento Pacto pela Educação começa a dar os seus primeiros passos em busca de melhorias para o ensino de escolas públicas do Rio Grande do Sul. Um mês e meio após o seu nascimento, o grupo já tem a perspectiva de um grande número de voluntários, além de receber uma centena de propostas enviadas pela população. 

Divulgação/POA Inquieta

Um encontro realizado na tarde desta quinta-feira (14) no auditório do Ministério Público, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre, reuniu os idealizadores do movimento com interessados em participar da mudança, além de crianças e adolescentes e de lideranças sociais de comunidades da Capital. Pessoas que possuem projetos ligados à educação também trouxeram suas experiências ao longo das apresentações, que duraram cerca de duas horas.

"A gente tem que batalhar pelas escolas. A gente é o futuro, né? A escola está precária, não tem teto, é superlotada. Tem gente que não tem como se locomover até a escola. Tem que mudar muita coisa”, a avaliação é da adolescente e estudante Erika Silva Dutra, de apenas 15 anos, presente no evento do movimento que já conta com 156 propostas de projetos e 315 voluntários.

O Pacto pela Educação nasceu como um “movimento colaborativo de CPFs", como definiu a professora Mônica Timm, integrante do comitê-executivo do Pacto, na abertura do evento. O movimento visa justamente transformar a realidade desafiadora relatada pela estudante Erika, integrante do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). A estudante do Colégio Estadual Dom João Becker, no bairro Passo D'Areia, estava acompanhada de colegas de outras escolas de regiões periféricas de Porto Alegre, como Bom Jesus e Morro da Cruz, todos atentos às falas dos representantes de diversos setores da sociedade.

Vale ressaltar que o Pacto Pela Educação não pretende executar os projetos, tampouco interferir na gestão pública da educação. “O objetivo é potencializar resultados. Queremos mobilizar iniciativas que hoje estão dispersas. Vamos conectar ideias a possíveis financiadores”, destacou Mônica. Entre as prioridades do movimento estão as melhorias das infraestruturas das escolas, a capacitação dos professores e o acesso à internet de boa qualidade nas instituições.

O movimento Pacto Pela Educação surgiu há cerca de quatro meses, segundo o professor Cesar Paz, um dos organizadores, a partir de discussões envolvendo dez pessoas, entre elas a professora Mônica Timm e o professor  da Tecnopuc, Jorge Audy, que entendem que "vivemos uma urgência educacional".  Em maio, o movimento foi lançado na Casa de Cultura Mário Quintana com um manifesto que reúne 1.342 assinaturas de cidadãos, professores universitários, professores do ensino público, empresários, ativistas pela educação e outros membros da sociedade civil. 

Todas as forças desse coletivo formado por diferentes setores sociais estão reunidas na concretização de ideias que podem ser sugeridas por todos, com foco em maior equidade, inclusão e diversidade na educação. "Agora já estamos pensando na forma de interagir, em modelos de governança e nos eixos que queremos trabalhar", definiu Cesar. 

Para Henrique Medeiros, presidente do Centro de Educacional Ambiental (CEA), localizado no bairro Bom Jesus, além do projeto, é muito importante que os alunos estejam presentes em locais como o Ministério Público, debatendo o futuro da educação. “Precisamos criar cidadãos intelectualmente capacitados para entender a importância da educação no desenvolvimento. Queremos que todo mundo se enxergue dentro desse movimento”, refletiu. A secretária da Educação de Porto Alegre, Sônia Rosa, concorda e também destacou a necessidade da participação de todos. “Só se faz educação quando diferentes setores pensam juntos”.

Representando o setor empresarial, o presidente do Transforma RS, Daniel Randon, ressaltou a relevância dessa iniciativa para um mercado mais qualificado. “Se queremos um Rio Grande do Sul protagonista, precisamos de uma educação protagonista. Muitas pessoas estão procurando emprego, enquanto, por outro lado, temos muitas vagas que não são preenchidas por falta de educação qualificada”, comentou.

Também estiveram presentes no evento a ativista pela educação Negra Jaque, o CEO da Transforma RS, Ronald Krummenauer.  Quem deseja fazer parte deste movimento pode inscrever-se pelo site do Pacto Pela Educação.

Definição da gestão e próximos passos 

Além dos 10 fundadores do movimento, a governança do Pacto pela Educação contará com mais membros. Nos próximos dias, será definido o Conselho do Pacto, que terá entre 40 e 60 pessoas, com renovação a cada dois anos. O Grupo Estratégico também está ainda sendo pensado. O único nome já definido é o do coordenador, Leandro Duarte Moreira. 

Após sua formação, este grupo será responsável por definir quais projetos devem receber prioridade para atuação imediata. O trabalho será conduzido até a metade de agosto, quando a ideia é já colocar em prática algumas das propostas.  

O objetivo do pacto não é substituir os governos ou financiar projetos, mas sim atuar em outras frentes, por meio da articulação e da inspiração, para fazer com que projetos ganhem vida:

— Nós não executamos projetos porque não fazemos parte da organização dos fazeres da sala de aula. Somos sociedade e precisamos nos manter nessa função. Nós queremos inspirar mudanças e mobilizar esforços que hoje estão dispersos —  explicou Mônica Timm de Carvalho, CEO da plataforma de leitura Elefante Letrado e uma das fundadoras. 

O movimento também ganhou uma casa: uma sala cedida pela Unisinos, na Avenida Nilo Peçanha. Após os dois primeiros anos, a ideia é que a sede mude para outras regiões da cidade, como outras instituições de ensino ou comunidades.

As propostas

Os projetos estão ligados as sete diretrizes que guiam o movimento. Confira, a seguir, as ideias apresentadas nesta quinta-feira:

1 - Educação como responsabilidade coletiva

Divulgar o manifesto do pacto pela educação

  • Buscar de adesão de 10 mil CPF’s
  • Articulação com as entidades
  • Articulação política
  • Trabalho voluntário
  • Encontros com estudantes
  • Divulgação de cases de boas práticas

2 - Educação baseada em evidências

  • Identificação dos objetivos educacionais e das expectativas de aprendizagem 
  • Definição dos indicadores de desempenho e qualidade 
  • Definição das métricas dos indicadores 
  • Coleta das evidências

3 - Valorização e formação continuada dos profissionais da educação

  • Reconhecer importância do professor 
  • Incentivar a formação de novos docentes 
  • Capacitação docente 
  • Qualificar gestores de escolas 
  • Criar fóruns de boas práticas

4 - Avaliação do impacto da docência na aprendizagem

  • Criar referências de avaliação 
  • Definir modelo de avaliação da docência 
  • Valorizar a formação de comunidades de aprendizagem 
  • Valorizar a liberdade de cátedra comprometida com resultados educacionais

5 - Reorganização da governança na educação

  • Definir instâncias de responsabilidade municipal e estadual na educação pública 
  • Criar um novo marco legal para educação 
  • Reestruturar processos de planejamento de aula 
  • Estimular a integração da escola com a comunidade 
  • Alinhar processos gerenciais entre as diversas instâncias de governança

6 - Novos ambientes de aprendizagem

  • Plano emergencial para recuperação da infraestrtura das escolas 
  • Iluminação digital das escolas (internet Wi-Fi) 
  • Melhoria nos processos de manutenção 
  • Criação de novos ambientes de aprendizagem

7 - Educação como base do desenvolvimento 

  • Conectar com objetivos do desenvolvimento sustentável - ODS/ONU 
  • Preparar para a cidadania e desenvolvimento profissional 
  • Transformar a educação na prioridade do Estado 
  • Reconhecer escolas de referência
Com informações dos sites GZH e Jornal do Comércio

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