ARTIGO: o editor Renato Martins relembra o encontro com o humorista e comunicador Jô Soares

O humorista Jô Soares morreu nesta sexta (5), em São Paulo, aos 84 anos. O também apresentador de televisão, escritor e diretor teatral estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 28 de julho. A causa da morte não foi divulgada.

O editor da Rede #AtitudePositiva, o jornalista Renato Martins, escreveu um texto com uma lembrança hoje cedo nas suas redes sociais de seu encontro com o humorista, e nós reproduzimos aqui. Boa leitura!

Desejamos aos familiares e amigos de José Eugênio Soares muita paz e nossos sentimentos nesse momento muito triste.

Reprodução Twitter oficial de Jô Soares

OS BEIJOS DO GORDO

No final dos anos 70, meu pai me levou no antigo Teatro Presidente, em Porto Alegre, para assistir um espetáculo de humor de José Eugênio Soares. Eu já admirava os programas de piadas das segundas como “Satiricom”, “Faça amor não faça guerra” e “Planeta do Homens”, que reuniam diversos humoristas no elenco incluindo o Jô. 

Mais tarde, veio o programa humorístico somente dele, o “Viva o Gordo”, também nas segundas à noite. Foi bem antes da época das entrevistas no SBT e depois na Globo. E neste exato momento de minha pré adolescência que fui no teatro ver esse show - e que eu adorei. 

O melhor de tudo, porém, foi ir no camarim depois do espetáculo e conhecê-lo pessoalmente. Meu pai era representante da SBAT (Sociedade Brasileiras de Autores Teatrais) e por isso recebia e conversava com muitos artistas de teatro na cidade. Depois, ainda fomos num coquetel cheio de convidados onde o Jô circulava e falava com todos, atendendo de forma muito simpática. 

Ainda no teatro, meu pai disse: “ele é teu fã”. O humorista se aproximou, todo de branco, e foi muito querido com um garoto como eu de 12 anos. Falou alguma coisa sobre o texto do show ser pesado demais para crianças e sapecou em mim dois beijos com suas bochechas gordas e suadas. A lembrança que eu tenho desse momento é a surpresa que tive: da irreverência daquele ato “transgressor” - na minha pequeníssima visão - de um homem da arte, da cultura, do humor, da televisão, beijar “outro homem”. Foi ali que comecei a entender que os artistas são pessoas diferenciadas, principalmente no quesito comportamento. E no caso do Jô, mais ainda: um cara autêntico, inteligente, talentoso - uma joia rara no mundo do teatro, da música, da literatura e da televisão. 

Nunca mais o assisti em espetáculos ao vivo. Guardo esse dia como memória viva. Revivi na mente todos esses detalhes por ocasião da sua morte. Depois, apenas acompanhei com afinco as entrevistas em sua fase jornalística no fim de noite da TV, quando aprendi a dormir tarde para consumir mais cultura. 

Te retribuo os beijos, Jô, onde quer que você esteja.


Renato Martins, jornalista e professor, editor da Rede #AtitudePositiva.

  





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