ARTE NAS RUAS: O que ver na 13ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre

Refletindo sobre o tema Trauma, Sonho e Fuga, alusivo à pandemia de covid-19, a 13ª Bienal do Mercosul abriu suas portas nesta sexta-feira (16), com 10 espaços expositivos que abrigam obras de mais de cem artistas, vindos de 20 países. Oito deles estarão abertos neste final de semana. É a primeira edição presencial após quatro anos — a última havia ocorrido em 2018. A entrada é gratuita e os dias e horários de visitação variam conforme o local. Veja outras informações no site oficial do evento. O período de visitação vai até 20 de novembro.

Carranca - Pedro Carneiro - Instituto Caldeira/Reprodução site Bienal


Há trabalhos capazes de agradar a gregos e troianos, desde os amantes da arte contemporânea até quem tem pouca afinidade com o gênero artístico. Obras para serem vistas, obras para serem experienciadas, obras para serem sentidas e até obras que mudam de acordo com o espectador.

O site GZH circulou pelos espaços expositivos e destaca os principais trabalhos que poderão ser vistos e vividos pelo público em cada um deles. Clique aqui para ler a reportagem completa e ver as fotos.

Armazém A6 do Cais do Porto

Um dos espaços mais versáteis desta Bienal, o Cais do Porto está abrigando trabalhos de 13 artistas. Há arte de todos os tipos: intervenção, performance, obras interativas, tecnológicas e contemplativas e até uma obra olfativa — Lágrimas, Terra e Crisântemo, de Karola Braga — que reproduz o cheiro de crisântemos, flor tradicional em velórios, para refletir sobre o luto. Também deve chamar a atenção do público o trabalho de Sigismond de Vajay & Kevin Lesquenner + LAPSo, Biocensis, que, dentro de uma sala completamente no breu, reproduz uma metrópole iluminada por leds, sobre a qual incidem relâmpagos projetados no teto escuro, com direito ao som dos estrondos, em uma experiência imersiva que causa no espectador a sensação de estar sob um temporal.

Outro destaque é a obra de Adrianna Eu, A Peneira da Vida, que traça nos altos do Armazém A6 um emaranhado de fios vermelhos, sobre os quais penduram-se peneiras e escadas. Segundo a artista, a instalação convida para um mergulho no inconsciente, buscando peneirar os mais variados sentimentos que habitam as pessoas. Por isso, a escolha do vermelho, uma cor que, conforme ela, "trata de sentimentos muito ambíguos, que representa tanto o amor quanto a morte, o sangue de Cristo e o fogo do inferno".

Endereço: Av. Mauá, 1.050 (entrada pelo Cais Embarcadero)

Visitação: de terça a domingo, das 9h às 19h

Obras de: Adrianna Eu, Antonio Tarsis, José Bento, Karola Braga, Leandro Lima, Lucas Dupin, Luisa Mota, Marilá Dardot, Panmela Castro, Raphael Escobar, Sigismond de Vajay & Kevin Lesquenner + LAPSo e Tino Sehgal.


Casa da Ospa

O espaço está dedicado à obra inédita de Paulo Nenflidio, Experimento de Suspensão nº 2, criada para esta Bienal. O trabalho consiste em uma rocha que fica suspensa a centímetros do chão, por meio de um sistema formado por 24 roldanas e contrapesos de aço que são tensionados por fios de náilon. 

A grande questão da instalação é que os fios, isoladamente, não suportariam o peso da rocha. Mas, em conjunto com os demais elementos, tornam-se capazes de manter todo o sistema em equilíbrio. É possível interagir com a obra e tirá-la de sua posição de equilíbrio, mas ela sempre retorna à posição original.  

Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1.501

Visitação: de segunda a sexta, das 8h às 18h. Fechado neste fim de semana. 

Obra de: Paulo Nenflidio


Casa de Cultura Mario Quintana

Quem chega à Casa de Cultura Mario Quintana já depara com os bandeirões coloridos que se espalham pelo teto da Travessa dos Cataventos, trazidos pela obra Travessura, de Héctor Zamora. A intenção do artista é usar o lúdico para proporcionar um momento de alegria ao público da Bienal. Algo que, segundo ele, contrasta com o atual momento histórico do Brasil, que considera pouco risível. 

Também se destaca o trabalho de Mazenett Quiroga, duo dos artistas Lina Mazenett e David Quiroga. Batizada de Healing Forest, a obra ocupa uma sala cujas arestas foram iluminadas por uma luz de led azul que transforma o ambiente em um lugar de extremo aconchego. Nele, há colchões sobre os quais o público pode se deitar e, deitado, sente-se então o cheiro de tintura de trombeteira — uma planta nativa das regiões tropicais da América do Sul que é usada por culturas indígenas em preparações médicas e cerimônias religiosas —, exalado por umidificadores. É, segundo os artistas, uma obra que se relaciona com o conceito de coronasônia, a insônia causada pelo estresse vivenciado durante a pandemia de coronavírus.

Endereço: Rua dos Andradas, 736

Visitação: de terça a domingo, das 10h às 20h

Obras de: Anna Costa e Silva & Nanda Félix, C. L. Salvaro, Carlos Nader, Diego Groisman, Felippe Moraes, Fyodor Pavlov-Andreevich com Olga Treivas, Héctor Zamora, Janaina Mello Landini, Karola Braga, Mazenett Quiroga, Panmela Castro e Tino Sehgal


Farol Santander 

Um dos espaços mais tecnológicos desta Bienal, o Farol Santander abriga obras de artistas renomados pelo intercâmbio entre arte e tecnologia. É o caso do mexicano-canadense Rafael Lozano-Hemmer, que leva ao Farol uma série de intervenções que usam aparato tecnológico para construir obras que promovem interação direta ou indireta com o público. Um dos destaques do artista é a obra Pulse Topology, que proporciona um espetáculo visual ao reunir 3 mil lâmpadas que brilham individualmente de acordo com o pulso dos espectadores, captado a partir de sensores.

Outro destaque é Thermal Drift, uma espécie de espelho térmico que permite visualizar a dispersão do calor corporal à medida que o espectador se movimenta — ou seja, a obra será diferente para cada pessoa que se posicionar à frente dela. O efeito é produzido por uma câmera térmica que detecta o calor e um sistema de partículas que o representa em imagens computacionais.

Endereço: Rua Sete de Setembro, 1.028 

Visitação: de terça a domingo, das 9h às 19h

Obras de: Edson Pavoni, Julius von Bismarck, Rafael Lozano-Hemmer, Tino Sehgal e Walid Raad

Fundação Iberê Camargo

A Fundação Iberê Camargo está dedicada ao trabalho do catalão Jaume Plensa, único monografista desta edição da Bienal. O artista apresenta, no interior do imponente espaço cultural, uma série de 11 obras que propõe reflexões sobre as relações do homem com o ambiente, composta por materiais diversos como aço, ferro e vidro. 

Chama atenção a obra Silent Hortense, instalada na calçada da fundação ainda no início do mês. Trata-se de uma gigante cabeça feminina, que leva as mãos à boca, como se estivesse se calando. A escultura foi construída em Barcelona e trazida a Porto Alegre para a Bienal.

Endereço: Av. Padre Cacique, 2.000

Visitação: de quinta a domingo, das 14h às 19h 

Obras de: Jaume Plensa


Instituto Caldeira

O instituto da Zona Norte é o abrigo oficial da mostra Transe, fruto da chamada aberta que financiou o trabalho de 19 artistas de diferentes países, selecionados às cegas entre mais de 800 inscritos. Destaca-se a obra do duo Esfincter, formado por Luis Enrique Zela-Koort e  Genietta Varsi, batizada de Órgano Primo: Condensador de Cuerpos. A instalação, que vem sendo chamada pela dupla de "máquina-órgão interativa", lembra um esfíncter digestivo, coletando composto orgânico e destilando a putrefação, em uma adaptação do experimento químico de Miller-Urey. 

Além dos trabalhos da mostra Transe, está exposta no Caldeira a obra Te Encontro Amanhã na Mesma Hora, de Claudia Melli. Trabalhando na fronteira entre a pintura, o desenho e a fotografia, concebendo imagens que ocupam uma das vidraças do instituto, a artista propõe reflexões sobre os ciclos de vida e morte, que ganharam um novo sentido com a pandemia.

Endereço: Rua Frederico Mentz, 1.606

Visitação: de terça a domingo, das 9h às 19h

Obras de: Bruno Borne, Cesar & Lois, Craca, Esfincter, Estela Sokol, Fernando Sicco, Nati Canto, Nádia Aranha, Pierre Fonseca, Poema Mühlenberg, Elias Maroso, Gabriela Mureb, Pedro Carneiro, Pedro Carneiro, Vitor Mizael, Iván Cáceres, Leandra Espírito Santo, Franco Callegari e Claudia Melli

Instituto Ling

Quem passar pelo Instituto Ling poderá viver a experiência onírica de Hypnopedia, criação do artista mexicano Pedro Reyes e um dos destaques do espaço expositivo. A obra reproduz uma espécie de cérebro, construído pela junção de dezenas de cabaças, que fica suspenso sobre uma cama onde é possível deitar. Deitado sob o órgão gigante, ouve-se a voz de pessoas relatando seus sonhos, todos eles reais, coletados previamente pelo artista na intenção de formar uma "enciclopédia de sonhos". A sensação ao deitar, olhar para cima e ver-se circuncidado pela sinapse entre as cabaças é a de estar dentro do cérebro de alguém, espionando seu inconsciente.

Endereço: Rua João Caetano, 440

Visitação: de terça a sábado, das 10h30min às 20h

Obras de: Beatrice Wanjiku, Pedro Reyes e Shabu Mwangi


Memorial do Rio Grande do Sul

O Memorial está dedicado a celebrar a história de 25 anos da Bienal do Mercosul. O museu abriga a mostra Trajetórias, que recupera obras que marcaram a megaexposição ao longo das suas 13 edições. 

Além do espaço nostálgico, a instituição abriga obras de Karola Braga e Panmela Castro e é um dos palcos da intervenção proposta por Tino Sehgal, This Element. Nesta performance, a cada duas horas, um grupo de pessoas se reúne para fazer algo de forma coletiva. 

Endereço: Rua Sete de Setembro, 1.020 

Visitação: de terça a domingo, das 9h às 19h 

Obras de: Alejandra Dorado, Carlos Zerpa, Daniel Monroy, Francisco Matto, Janaína de Barros, Lia Menna Barreto, Liuska Astete e Seba Calfuqueo, pela mostra Trajetória, e Karola Braga, Panmela Castro e Tino Sehgal


Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

Com um leque robusto de artistas, o Margs abriga, durante a Bienal, obras que exploram desde a tecnologia até elementos naturais como as rochas. Este é o caso do trabalho de Denise Milan, TrincAr, que chama atenção entre o acervo. Trata-se de uma fenda de cerca de 20 metros cravejada por ametistas, simbolizando as cicatrizes deixadas pela covid-19. Segundo a artista, que trabalha há mais de 40 anos com o material, rochas como estas "são sobreviventes, pois surgem a partir da movimentação de placas tectônicas e da efervescência dos vulcões", resultando em beleza. Nesta obra, ela traz o elemento natural "para reativar a memória do trauma e também a superação".

Outro destaque é o espaço dedicado ao método terapêutico A Estruturação do Self, criado por Lygia Clark (1920-1988). Ali, foi criado um ambiente que remete ao consultório-atelier onde Lygia realizava atendimentos, possibilitando ao público vivenciar diferentes experiências, como a de deitar-se no divã da artista.

Endereço: Praça da Alfândega, s/nº

Visitação: de terça a domingo, das 9h às 19h  

Obras de: AnaVitória & Letícia Monte & Carolyna Aguiar, Cássio Vasconcellos, Denise Milan, Dora Smék, Gabriel de la Mora, Juliana Góngora Rojas, Karola Braga, Luzia Simons, Lygia Clark, Marina Abramović, Martín Soto Climent, Lídia Lisboa, Tino Sehgal, Nico Vascellari, Vivian Caccuri, Panmela Castro e Rabih Mroué


Paço Municipal 

O Paço Municipal recebe a obra de Pedro Matsuo, The Matsuo Plastic Light Show Happy Bars, composta por refletores e telas pintadas com tintura fotoluminescente. Quando o ambiente está iluminado, é possível mirar todo o espaço da instalação com clareza visual; mas, no escuro, o brilho que emana das telas muda totalmente a imagem do lugar, que se torna ébrio e visualmente conturbado. O objetivo do artista é jogar com a dualidade entre luz e breu, conforto e incômodo.  

Endereço: Praça Montevideo, 10

Visitação: de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 12h e das 13h30min às 17h30min. Não abrirá neste final de semana.

Obra de: Pedro Matsuo

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