ESTUDO: Desinflação global mostra primeiros sinais, com desaceleração da atividade econômica

O processo de desinflação global de bens e alimentos já está em andamento, enquanto a dinâmica da alta dos preços de serviços deve continuar acima da meta de inflação. A conclusão está no relatório “XP Macro Especial – Primeiros sinais da desinflação global”, elaborado pelos economistas Francisco Nobre e Tatiana Nogueira.

Eles projetam um processo de desinflação de agora em diante, mas não rápida o suficiente para trazer a inflação de volta para a meta já em 2023. Isso ocorre por conta da política monetária mais apertada no mundo, que provoca uma desaceleração considerável da atividade econômica, com alívio no lado da demanda.

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“O choque (inflacionário) foi muito grande, incluindo efeitos secundários, como nos preços da commodities, que têm poder de se disseminar mais intensamente. Por isso não enxergamos essa convergência no curto prazo”, afirmou Tatiana. Ela lembra que trazer índices que passaram de 10% para metas de 2% (no caso dos EUA) ou 3,5% (no Brasil) levará tempo.

O autores do relatório ponderam que a Europa destoa desse quadro porque a dinâmica da inflação é diferenciada por questões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e seus efeitos nos preços de energia e alimentos. No Velho Continente, a tendência ainda é de alta no curto prazo porque o pico da inflação ainda não foi atingido.

Pesos diferentes

O estudo buscou analisar as tendências inflacionárias medidas pelos índices de preços ao consumidor (IPC) nas economias dos Estados Unidos e da América Latina para tentar identificar fatores que podem impulsionar a desinflação global.

O relatório parte da verificação que as tendências da inflação têm apresentado características semelhantes entre os países, concentradas principalmente em itens fora do núcleo (preços mais voláteis como alimentos e energia).

Nos EUA, por exemplo, a inflação anual está atualmente em 8,3%. Mas apesar dos itens dos núcleos representarem apenas 20,7% do índice geral, sua contribuição chega a 3,2 pontos percentuais (ou 39% da inflação).

Por outro lado, o índice de serviços, que tem peso de 57,58% do IPC, estava relativamente controlado no início do ano, mas desde então vem surpreendendo no sentido de alta, sugerindo inflação generalizada entre todos os setores.

A história se repete para os países latino-americanos, com a contribuição dos itens fora do núcleo superando seus respectivos pesos. Além disso, embora a inflação de bens parecer ter atingido seu pico, a inflação de serviços levou mais tempo para crescer e provavelmente permanecerá pressionada por mais tempo.

O processo desinflacionário em cada país dependerá das tendências de cada uma das quatro principais categorias do IPC daqui para frente, bem como seus respectivos pesos. Por exemplo, a categoria de alimentos pesa 13,5% na cesta do IPC do Brasil e 30,3% na cesta do IPC do México.

Portanto, as discrepâncias entre os pesos das categorias para cada país também podem explicar diferenças na dinâmica da desinflação entre países.

Desinflação no 2º semestre

Os economistas acreditam que a inflação global começará a diminuir no segundo semestre devido a múltiplas forças que podem aliviar as pressões sobre os preços, ainda que os dados do IPC com ajuste sazonal para a maioria dos países mostrem variação mensal ainda acima das tendências históricas.

“Acreditamos que a política monetária em campo restritivo ajude a esfriar a demanda, enquanto a normalização das cadeias de suprimentos globais e a redução dos preços das commodities devem ajudar no lado da oferta”, diz o relatório.

“Esses impactos provavelmente começarão a se refletir nos dados do IPC durante o segundo semestre do ano, e devemos começar a observar variações mensais menores.”

Os preços dos serviços, por sua vez, ainda exercerão uma pressão de alta por conta de um peso inercial, mas é um item sensível à política monetária, cada vez mais contracionista em todo o mundo. “Isso vai jogar a demanda para baixo”, disse Tatiana.

Leia a reportagem original e completa no site da Infomoney

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