"Imagina falar para mainha lá atrás que eu ia passar em medicina na USP [Universidade de São Paulo]", relembra o estudante Ytalo Pau-Ferro, 22 anos. Natural de Irecê, a 515 quilômetros da capital baiana, ele foi aprovado no início do ano passado no curso mais concorrido do Brasil e na instituição que é considerada a melhor do país.
Sendo negro e pobre, e de uma região vulnerável, ser aprovado na USP era uma ideia distante. "Passar em medicina, de onde eu venho, é uma coisa surreal, é muito desconexa da nossa realidade", conta. Sua mãe é auxiliar de cozinha na prefeitura da cidade baiana e seu pai, vendedor ambulante.
Arquivo pessoal |
Por isso, antes de sair a lista de aprovação, Pau-Ferro achou melhor guardar o segredo da família. O motivo? Receio de criar uma expectativa e depois frustrar seus parentes mais próximos. Apesar de pública, a USP não reflete a realidade de escolas públicas, que reúne mais alunos negros e pobres.
Dados da universidade —obtidos pelo UOL via Lei de Acesso à Informação— apontam que o número de estudantes negros no curso de medicina aumentou nos últimos cinco anos, mas brancos ainda são a maioria.
Em 2018, a USP recebeu 307 alunos negros contra 1.411 brancos nas faculdades de medicina —são três campi: Bauru, São Paulo e Ribeirão Preto.
Neste ano, foram 572 novos estudantes que se autodeclararam pardos ou pretos e 1.777 brancos.
A partir do vestibular de 2018, a universidade passou a adotar o sistema de cotas sociais —para quem veio de escola pública— e raciais, tendo sido uma das últimas universidades do país a aderir ao sistema.
Em 2021, a expulsão de seis fraudadores do sistema de cotas estimulou a USP a criar uma comissão para verificar a autodeclaração dos estudantes. A banca estará em funcionamento na Fuvest deste ano.
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