Escola municipal de Novo Hamburgo (RS) está entre as duas melhores do mundo

Professora Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS). Quer dizer, não tem aula do jeito tradicional, em sala de aula, com os professores donos da palavra. Nessa semana, quem fala são as crianças. É o momento do ano em que acontecem as assembleias gerais no colégio. O momento em que os estudantes, organizados durante o ano, levam suas demandas à direção, aos professores e aos colegas, e em que todos debatem o que será investido e o que mudará para o ano seguinte.

Toda essa dinâmica, que funciona desde 2013, levou a escola a ser uma das duas instituições de ensino públicas brasileiras que estão concorrendo a um título de melhores do mundo. Elas estão entre 15 finalistas do prêmio World’s Best School, cuja comissão julgadora é formada por especialistas em educação mundialmente conhecidos, como o ex-ministro português Nuno Crato, a pesquisadora inglesa da Universidade de Oxford Fiona Gatty e a brasileira Claudia Costin.

— Com as assembleias, nossos alunos ganham esse entendimento de que a existência deles faz diferença. Eles que fazem a diferença com o coletivo — conta a coordenadora pedagógica Joice Lamb.

Prefeitura de NH/Divulgação

Gestão democrática

A escola possui instâncias de participação de pais, professores e alunos que contribuem para os rumos escolares da Adolfina J. M. Diefenthäler. As crianças de mais de 8 anos já fazem as assembleias sozinhas, sem a presença dos professores. Desses encontros, saem as demandas que serão debatidas com o restante da escola.

Lamb lembra que, uma vez, recebeu uma demanda de um representante de turma de 5 anos reclamando que os alunos mais velhos não deixavam os menores brincarem no balanço da pracinha. A primeira reação de todo mundo foi pensar que tem que deixar.

— Mas aí uma das crianças maiores argumentou: “Quando eu era pequeno, tinha um horário que só minha turma ficava na pracinha. E agora que somos mais velhos, não temos esse horário. Então vocês têm esse momento e ainda querem outro no recreio? Só porque são pequenos não têm que andar mais (no balanço)”. E todo mundo ficou dando razão para ele. Eu conto essa história para mostrar que a reflexão desse menino fez com que com as crianças menores percebessem que só estavam olhando o mundinho delas e precisavam ampliar o olhar. É muito saudável para todos — afirma a coordenadora.

O outro colégio que chegou à final do prêmio foi a Escola Municipal Evandro Ferreira dos Santos, em Cabrobó (PE). A Adolfina Diefenthäler concorre na categoria Colaboração Comunitária, e a Evandro Ferreira, em Superação de Adversidades. O projeto da escola pernambucana tem como alvo a alfabetização das mães dos alunos.

— Percebemos que muitas mães mal conseguiam assinar o próprio nome. Por isso, estimulamos elas a voltarem a estudar, a falar dos sonhos delas — conta a diretora Elineide Alves, que comemora pequenas vitórias que mudam imensamente a vida dessas mulheres. — Tiramos o documento de uma. Conseguimos o primeiro emprego de outra. Agora elas participam muito mais da escola, das reuniões e até o comportamento das crianças muda.

Se for premiada, a escola ganhará US$ 50 mil, dinheiro que já tem destino.

— Vamos investir no projeto. Hoje funcionamos na base da parceria com comerciantes da cidade ou dividindo os custos entre os funcionários — conta a diretora.

Rede de apoio

As duas unidades são coordenadas por educadoras que fazem parte da Associação Conectando Saberes. A associação é uma rede de apoio sem fins lucrativos que conecta professores brasileiros para debaterem, trocarem ideias e se ajudarem.

O resultado final será divulgado na próxima quarta-feira. Depois das inscrições iniciais, a comissão julgadora escolheu 50 finalistas. Agora, são apenas três escolas em cada categoria. Além de Superação de Adversidades e Colaboração Comunitária, a premiação também tem as categorias Ação Ambiental, Inovação e Apoiando Vidas Saudáveis.

As escolas listadas nos cinco prêmios são convidadas a compartilhar suas práticas na Semana Mundial de Educação e por meio de kits com instruções sobre como outras escolas podem replicar os projetos para ajudar a melhorar a educação no mundo. A iniciativa do prêmio é da Instituição Britânica T4 Education, em parceria com a Fundação Lemman do Brasil, da Templeton World Charity Foundation, da Accenture e da American Express.

Leia a notícia original no O GLOBO

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