Paulista de 71 anos soma 37 mil árvores plantadas na zona leste da capital

Primeiro foram 200 árvores, mas que em três meses foram alvo de vandalismo e destruição. Então, foram 500, mas o número ainda foi insuficiente para enfrentar a fúria da ignorância humana. A solução foi partir para cinco mil mudas distribuídas no que até então era um grande descampado às margens do córrego Tiquatira, na zona Leste de São Paulo.

"Quando você planta cinco mil mudas já não é mais hobby, não é mais passatempo, é missão", conta o administrador de empresas Hélio da Silva, conhecido na sua região como o “plantador de árvores”.

Arquivo Pessoal

“Daí em diante, eu continuei plantando, não parei nunca mais. Inclusive ontem plantei umas 70, sábado agora planto mais 80 e vou continuar plantando”, garante Hélio, hoje com 71 anos e um saldo de 37 mil arvores nativas plantadas desde 2003.

“Embora tivessem destruído as 200 e depois 400, aquelas 5 mil que eu havia plantado começaram a ficar grandes. Tem espécie que cresce rápido e eu me articulei com a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria de Meio Ambiente, que aproveitaram que já existiam essas cinco mil árvores para criar ali o primeiro parque linear da cidade”, lembra, orgulhoso, o reconhecido plantador da Penha.

Hoje considerado o quarto maior parque linear do mundo, o parque do Tiquatira tem um valor especial para os moradores da região, considerada a segunda menos arborizada da capital paulista, perdendo apenas para a zona central da metrópole.

"Há 19 anos eu peguei uma área pública abandonada, se degradando todo dia, toda hora, cada vez mais, e decidi mudar isso trazendo de volta as árvores que um dia foram expulsas daqui."

As primeiras espécies foram pés de Jacarandás e Jequitibás – sempre com o cuidado de selecionar árvores nativas da Mata Atlântica.

“Aquele solo tem vocação para Mata Atlântica e as árvores, vocação para aquele solo. É como se fossem siameses”, observa Hélio, sem poupar críticas à forma como a capital paulista foi arborizada nas últimas décadas: “Quando você planta, você tem que pensar nessa árvore por anos, para onde ela vai, e plantar a espécie certa no local certo. Mas, na cidade de São Paulo, a maior parte das árvores é de espécies erradas plantadas no lugar errado e que agora estão caindo, estourando calçada, derrubando postes, casas...”.

Para cumprir a sua missão, Hélio diz que não conta com a ajuda de nenhum vizinho ou instituição. Nem mesmo da Prefeitura ele aceitou as mudas, que por ano chegam a lhe custar mais de R$ 30 mil. “A Prefeitura se engajou numa ocasião e perguntou o que eu queria que ajudasse, e eu falei: ‘Não atrapalhar, é só o que eu quero’”.

Com liberdade para plantar, o empresário já arborizou ruas e o piscinão que atende o bairro da Penha. Ele tem no reconhecimento de seus vizinhos de mais de seis décadas a sua principal recompensa.

"Esse é meu tributo, meu contentamento e minha generosidade."

"Quando cheguei aqui vindo de Promissão, no interior de São Paulo, minha família paupérrima, de sitiantes, comecei a estudar e a trabalhar muito cedo, ainda com 8 anos. Mas também tive muitas oportunidades que São Paulo me deu e eu aproveitei todas elas. Hoje eu adoro e amo São Paulo e, também por amar São Paulo, por que não retribuir o que ela me deu de bom? Chamo isso de generosidade recíproca. São Paulo foi generosa comigo, então por que não ser generoso com São Paulo também?”, conclui Hélio.

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